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Encontro '2030: dez anos para mudar o futuro' aponta urgência de metas sustentáveis

Com uma década para atingir os objetivos da Agenda 2030, governos, empresas e população precisam se unir para conter crise social e ambiental, dizem especialistas em debate promovido pelo GLOBO e pela revista Época
Os participantes do debate "2030: dez anos para mudar o futuro" Foto: Reprodução
Os participantes do debate "2030: dez anos para mudar o futuro" Foto: Reprodução

Quão longe o mundo pode chegar em uma década? Seremos os mesmos de hoje, ou poderemos construir uma nova consciência coletiva para cuidar melhor das pessoas e do meio ambiente? As respostas a essas perguntas dependem da integração entre os mais diversos agentes, passando por governos, organizações sociais, academia, setor privado e indivíduos.

Esta foi uma das lições que ficou do debate on-line “2030: dez anos para mudar o futuro”, uma realização do jornal O GLOBO e da revista Época, com apoio da L'Oréal Brasil e de seu compromisso de sustentabilidade “L’Oréal para o Futuro”. O encontro, realizado na última sexta-feira, com mediação da colunista Flávia Oliveira, discutiu, entre outros temas, a Agenda 2030, um plano de ação firmado pelos Estados-membros da ONU em 2015 e que se mostra ainda mais urgente com a pandemia de Covid-19. O documento tem 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, entre eles a erradicação da pobreza, a igualdade de gênero e o consumo e a produção responsáveis, que devem ser alcançados até o ano de 2030.

Assista ao debate no vídeo abaixo:

Já nos primeiros minutos de debate, Haroldo Machado Filho, oficial de parcerias e financiamento da ONU no Brasil, explicou que é preciso desconstruir a ideia de que a Agenda 2030 é apenas um documento assinado por governos. Ou, ainda, de que a sustentabilidade se limita ao meio ambiente, uma vez que ela inclui também as dimensões social e econômica. Embora muita gente ainda não perceba, o tema está cada dia mais presente no cotidiano das comunidades:

— Todas as pessoas podem ser agentes na busca desse mundo mais justo em 2030. Trata-se de uma agenda que foi aprovada por 193 países, sob os auspícios da ONU, e não queremos que seja um documento esquecido em cima das prateleiras. Tem que ser uma agenda viva, enraizada no dia a dia das pessoas.

Da academia para a sociedade

Bernardo Strassburg, diretor-executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), explicou que a sustentabilidade tem a missão central de cuidar dos grupos sociais mais vulneráveis, das gerações futuras e da natureza. O trabalho de pesquisadores é, portanto, essencial para guiar tomadores de decisão.

— A ideia de que todos os tipos de conhecimento fazem parte do nosso desafio de chegar à Agenda 2030 é muito clara. Mas os muros da academia não são suficientes. Deve haver uma integração muito fluida com o resto da sociedade — afirmou ele, que é professor da PUC-Rio.

Na revista Época: Os movimentos sociais na busca por um mundo sustentável

A atriz Dira Paes, uma das fundadoras da ONG Movimento Humanos Direitos, ressaltou a importância de uma postura ativa de personalidades nacionais para promover a transformação da sociedade rumo à sustentabilidade. Para ela, uma paraense com laços firmes com os povos da Amazônia, trata-se de usar o poder de comunicar para levar à população noções importantes sobre o tema:

— Eu, que já participava de campanhas relacionadas aos direitos humanos no meu estado, pude compreender a necessidade da comunicação, da representatividade e da visibilidade. Assim que possível, eu e outros atores aproveitamos a nossa projeção para incluir a pauta que, na época, chamávamos de “meio ambiente”. Hoje, 30 anos depois, vemos que estávamos certos.

Maya Colombani, diretora de sustentabilidade da L’Oréal Brasil, concentrou sua fala no papel da iniciativa privada na construção da consciência social e ambiental. Ela ressaltou que a empresa investe nas suas marcas inspirada por um senso de dever. Como líder mundial no mercado de beleza, pretende influenciar debates urgentes para a Agenda 2030. É preciso mudar tudo no jeito que vivemos hoje, segundo Colombani, a começar pelo modo de fazer negócios, para endereçar desafios como as mudanças climáticas, a pobreza e a poluição:

— Quando o equilíbrio do planeta se fragiliza e chegamos a um caminho sem volta, há impacto social direto.

Da palavra para a ação

O debate também contou com a participação do público, que enviou perguntas pelas redes sociais. Questionados sobre como engajar os jovens e também sobre como sair da retórica para a ação quando o tema é sustentabilidade, os participantes apontaram uma maior conscientização da juventude hoje, em relação às gerações passadas.

— Vínhamos em um processo anterior à pandemia de mobilização dos jovens pela pauta climática. Vimos a Greta Thunberg, por exemplo, e outras lideranças nesse movimento — afirmou Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos. — Agora temos uma aceleração de engajamento da juventude nas ações de solidariedade, provocadas pela pandemia. E temos as pesquisas eleitorais mostrando o papel dos jovens na renovação política. Eles estão dizendo nas urnas que precisamos mudar.

Strassburg destacou ainda o papel da internet, quando bem utilizada, dos comunicadores e das escolas:

— Tentamos fomentar a adoção de um currículo de sustentabilidade nas escolas, para discutirmos a Agenda 2030 nessas instituições.

Sobre como agir, ele levantou três pontos:

— Vamos votar com mais cuidado. Precisamos também consumir com mais cuidado. Cada real gasto por nós é uma espécie de “voto” na direção para a qual achamos que a sociedade deve ir. E, se possível, vamos plantar mais árvores. Em 2021, começamos a década da restauração dos ecossistemas da ONU.

Maya Colombani citou o compromisso de sustentabilidade “L’Oréal para o Futuro”, com metas para 2030, como exemplo de ação:

— Nossa atitude será por meio de ações como termos 100% de energia renovável, transporte verde, mais recursos na proteção da Amazônia. É preciso mudar a visão sobre o que é beleza. A beleza do futuro vai ser sustentável, inclusiva e natural.

Covid-19 expôs emergência

Ao fim de um ano em que estruturas sociais e econômicas estremeceram ao redor do mundo em decorrência da pandemia de Covid-19, a agenda da sustentabilidade pode ser uma ferramenta essencial para construir um muito necessário “novo normal”, com mais equidade e justiça social para as futuras gerações.

Haroldo Machado Filho, oficial da ONU no Brasil, destacou que, pela primeira vez desde os anos 1990, haverá um retrocesso no Índice de Desenvolvimento Global este ano. Portanto, é preciso que haja uma ação conjunta para dar conta dos efeitos gerados pelo novo coronavírus:

— A crise da Covid-19 reforça a centralidade de uma agenda de desenvolvimento universal integrada. A pandemia é um lembrete da importância crítica de ações urgentes da Agenda 2030, porque traz à tona fraquezas sistêmicas que os países têm e a necessidade de gerenciar nosso ambiente natural de maneira sustentável. É preciso fortalecer o serviço de saúde, garantir que todas as pessoas tenham acesso à proteção social, a empregos e a viver em comunidades resilientes.

Marcado por desigualdades profundas, o Brasil terá obstáculos ainda maiores para transpor. Caio Magri, do Instituto Ethos, citou, por exemplo, o abismo educacional que será gerado entre as redes pública e privada. Sublinhou, por outro lado, que a emergência global serviu para mostrar a eficácia de alguns modelos para melhor assistir populações, como o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil:

— A pandemia trouxe de fato disruptura no modo de vida, de trabalho, de relacionamento entre as pessoas. Se a gente não tivesse o SUS, qual seria o tamanho da mortalidade e do impacto das mortes por Covid-19 no Brasil?

Responsabilidade social

Já Maya Colombani, da L’Oréal Brasil, argumenta que o setor produtivo pode utilizar sua estrutura para auxiliar no combate à pandemia. Ela conta que a empresa mobilizou sua cadeia de valor para atuar em diversas frentes, como a criação de uma fórmula de álcool gel, o apoio a hospitais públicos pelo país, entre outros pontos. As comunidades indígenas também foram incluídas nessas ações:

— Proteger populações indígenas é proteger pessoas, o seu capital cultural, a biodiversidade e a floresta.

Dira Paes também ressaltou a importância dos guardiões da floresta:

— Estamos falando de um ecossistema preservado graças a esses guardiões. Nós temos muito a aprender com eles. A comunidade indígena presta um serviço que não é reconhecido pelo Estado brasileiro, desde os saberes sobre esse bioma até os seus direitos como grandes preservadores da floresta.