Brasil

Enade: 80% das universidades com maior desempenho são públicas

Contando instituições privadas, federais, estaduais e municipais no país, apenas 6,3% dos cursos de graduação alcançam excelência
Escolas estão fechadas desde março Foto: Amanda Perobelli / Reuters
Escolas estão fechadas desde março Foto: Amanda Perobelli / Reuters

BRASÍLIA -  O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) evidenciou o abismo entre instituições públicas e privadas de ensino superior. Somente 6,3% dos cursos de graduação avaliados no Enade 2019 alcançaram conceito 5, nota máxima da avaliação, desses, aproximadamente 80% são de universidades públicas. Cerca de 35,3% dos 8.368 cursos avaliados na última edição do Enade foram "reprovados", ou seja, obtiveram conceito 1 ou 2, os mais baixos da avaliação. O conceito Enade varia de 1 a 5 e, em 2019, 391.863 estudantes concluintes do ensino superior fizeram a prova. Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC).

90 dias: A três meses de um Enem como nenhum outro, veja as novas formas de se preparar para a prova

Segundo as estatísticas, a maior parte dos cursos de graduação avaliados, 58,5% deles, pontuam nas faixas 3 e 4. A cada ano o Inep avalia cursos de determinadas áreas. Na última edição, as áreas avaliadas foram Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde; no bacharelado. E Ambiente e Saúde, Produção Alimentícia, Recursos Naturais, Militar e Segurança; para cursos superiores de tecnologia.  O Enade mede as habilidades adquiridas pelos estudantes ao longo da formação universitária. A prova é composta por 40 questões, das quais dez são de Formação geral e 30 de conhecimento específico.

Uma análise dos dois extremos mostra que,no total, 419 cursos receberam conceito 1, a nota mais baixa da avaliação e 512 cursos alcançaram a nota 5. Entre aqueles de pior pontuação, 377, ou cerca de 90%, eram de instituições privadas de ensino. No lado oposto, dos cursos que receberam a nota mais alta, 417 deles, o que representa 81,4%,  eram de instituições públicas de ensino, com maior destaque para as universidades federais (342 cursos com nota 5).

Veja os dados do Enade 2019 Foto: Editoria de arte
Veja os dados do Enade 2019 Foto: Editoria de arte

Considerando o total de cursos de instituições privadas, apenas 1,5% dos 6360 avaliados no Enade obtiveram conceito 5. O percentual de notas máximas foi muito maior entre as instituições públicas de ensino.

Pesquisa: Brasil registra primeiro caso confirmado de gato com Covid-19

Em 2019, foram avaliados os cursos de Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, Educação Física , Enfermagem, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Computação, Engenharia de Controle e Automação,  Engenharia de Produção , Engenharia Elétrica, Engenharia Florestal, Engenharia Mecânica, Engenharia Química,  Farmácia, Fisioterapia,  Fonoaudiologia, Medicina,  Medicina Veterinária, Nutrição , Odontologia, e Zootecnia. Também foram submetidos ao teste estudantes dos cursos de Tecnologia em Agronegócio, Tecnologia em Estética e Cosmética, Tecnologia em Gestão Ambiental, Tecnologia em Gestão Hospitalar, Tecnologia em Radiologia, Tecnologia em Segurança no Trabalho.

EAD X Presencial

Embora os cursos de educação à distância (EAD) correspondam a apenas 2% do total analisado, é possível verificar certa diferença de desempenho em relação à modalidade presencial. Enquanto 51,3% dos 165 cursos de EAD avaliados obtiveram conceito 1 ou 2, os mais baixos da avaliação, no ensino presencial o índice de cursos com nota 1 e 2 foi 35%.

Pandemia : Entenda por que a Anvisa estuda fazer testes de sangue em farmácia e o que muda para o paciente

O MEC e o Inep também divulgaram o resultado do Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD). Esse indicador analisa o valor agregado pelo curso ao desenvolvimento dos estudantes concluintes. Para isso, é feita uma análise das notas dos estudante no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Enade. De acordo com o IDD, 17,1% dos cursos analisados não agregaram o esperado para os estudantes. São cursos que alcançaram notas 1 e 2 em uma escala que vai até 5.

O IDD leva a uma análise de quanto o ensino superior contribuiu para a formação do estudante em comparação com o que ele apresentava quando entrou na universidade. A maior parte dos cursos, 61,3%, obteve nota 3 nesse quesito. Em comparação com as demais, proporcionalmente, as universidades federais são as que mais contribuem para a formação dos estudantes universitários.


Diante dos resultados do Enade, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que sua gestão pretende  priorizar a promoção de qualidade. Segundo ele, o Brasil expandiu o ensino superior e deixou de lado esse aspecto.

— Precisamos focar na qualidade. Acho que agora está na hora de pararmos um pouco, e pensarmos na qualidade. Não é possível os valores do orçamento do MEC e a qualidade que temos na educação brasileira. Precisamos tomar uma atitude e o que eu espero é lançar algumas sementes para que isso possa ser feito. Não podemos mais pensar em quantidade de maneira desequilibrada, precisamos focar na qualidade — afirmou.

De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a possibilidade de cortes no orçamento para o próximo ano pode inviabilizar o funcionamento das instituições. O ministro, no entanto, deixou a coletiva de imprensa, nesta terça-feira, antes de ser questionado pelos jornalistas.

O presidente do Inep, Alexandre Lopes, argumentou que a análise dos resultados do Enade ajudarão as instituições a melhorar seu desempenho. Questionado sobre a discrepância entre a performance das instituições públicas das instituições privadas, Lopes também mencionou o rápido aumento no número de universidades particulares em um período curto.

— Com relação a instituições públicas e privadas, dos resultados, eles são relativos.Houve uma grande expansão das instituições de ensino privado nos últimos anos e é preciso trabalhar agora a questão relativa à qualidade, mas temos instituições privadas que conseguem boas notas. Isso mostra que  conseguem ter bom ensino superior tanto a pública quanto a privada —  ponderou.