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Empresários: ajudem a Educação

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Por José Renato Nalini
Atualização:
José Renato Nalini. FOTO: IARA MORSELLI/ESTADÃO Foto: Estadão

No Brasil há muitos especialistas em educação. Criticam, fazem diagnósticos, dão receitas, vendem consultorias. Mas não estão na trincheira. Não enfrentam alunos. Não frequentam escolas da periferia.

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A verdade é que, a despeito de tanta teoria, a escola vai mal. Porque a escola precisa da família, não apenas do Estado. E precisa da sociedade, assim como quis o povo, único titular da soberania, mediante atuação do constituinte de 1988.

Há uma parcela da sociedade bem consolidada, organizada e experimentada. É a empresa. A instituição que conseguiu sobreviver, a despeito da perseguição burocrática, da volúpia fiscal, do ódio ao lucro, tem muito a contribuir com o aprimoramento da qualidade da educação.

A empresa sabe que a escola brasileira não fornece mão-de-obra qualificada. Sobram vagas em atividades mais sofisticadas, faltam profissionais habilitados. Por isso é que a educação corporativa se tornou obrigatória e tem conseguido êxitos. Cada segmento sabe de suas necessidades e vai formando os quadros essenciais ao funcionamento da organização.

Só que ainda há poucas escolas corporativas. Existem boas Universidades corporativas. O mais urgente é que haja cursos já destinados a suprir o mercado no ensino fundamental e, principalmente, no ensino médio.

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O aluno do fundamental é adestrado a decorar, a guardar na memória informações que ele obtém mais facilmente nos sites de busca, muito mais atualizados e eficientes do que o tradicional método de ensino. Mas ele ainda é um pouco mais disciplinado, por força da tenra idade. Já o estudante do ensino médio, praticamente adolescente, não se conforma com a surrealidade do que lhe é transmitido e foge das aulas. O fenômeno da evasão tem uma causa muito evidente: a sensaboria das aulas prelecionais, o descompasso entre o que se ensina e o que se consegue acessar em qualquer Google, instantaneamente acionado num mobile. E o Brasil possui mais de 270 milhões de mobiles, para uma população de 212 milhões de habitantes.

O cenário mudaria para melhor se cada empresa "adotasse" uma escola. Esse projeto de "adoção afetiva" já foi experimentado na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo no biênio 2016/2018. Poderia ser reajustado para melhor aproveitamento desse imenso potencial: a aproximação do mundo real da ficção escolar.

Se a implementação das trilhas de aprendizado resultantes da renovação do Ensino Médio levada a efeito há pouco, permanecer nas mãos da estrutura burocratizada da escola pública, não funcionará. Já passou da hora de a sociedade assumir suas responsabilidades para que o gap da educação brasileira seja ao menos atenuado.

A empresa sabe como treinar alunos para mostrar que aquilo que lhe é ensinado ou que ele aprende na sala de aula, tem utilidade na vida prática. Os estágios não podem ser repetição teórica de uma prática ficcional. Tem de ser estágio de verdade, junto a um trabalho concreto, para que o jovem possa optar pela senda que lhe parecer mais atraente.

As startups têm um papel relevante nesse projeto que deveria iniciar aos poucos, sem muita burocracia e sem excessiva regulamentação. Tudo aquilo que reclama uma "estruturação" de acordo com a normatividade da administração pública acaba decepcionando, frustrando e sendo abandonado.

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Os responsáveis pela educação brasileira precisam acordar para um fato incontestável: as novas gerações são nativas digitais. Já nascem com chips e sabem manusear as bugigangas eletrônicas de forma desenvolta e eficaz. Eles querem saber é de programação, de robótica, de nanotecnologia, Internet das coisas - e de todas as coisas - impressão 3D, machine learning e saber mais sobre algoritmos, Inteligência Artificial e tudo aquilo que provocou profunda mutação da vida humana.

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A aproximação dos professores do mercado empresarial também servirá para mostrar o que é que vale a pena neste início de terceira década do século 21. Há conteúdos disponíveis que devem ser disponibilizados ao alunado antes de que o professor, convertido num tutor, num docente quase que particular, possa acompanhar o desenvolvimento de seu discípulo. Alguém que pensa, que critica e que quer ser ouvido. Não um inerte ouvinte de preleções caracterizadas, em regra, pela mesmice e pela sensaboria.

O empresariado sabe trabalhar com adversidades e tem treino de se adaptar ao inesperado, pois é isso o que acontece no Brasil, onde nem o passado é estático. Será um excelente modelo de docência afinada com as urgências postas pela Quarta Revolução Industrial.

Falta uma coordenação que seja capaz de suscitar o interesse dos bons, e são muitos estes angustiados com as deficiências de uma escola que está longe de atender às expectativas dos brasileiros que fazem o País crescer, a despeito das vicissitudes governamentais.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras - 2019-2020

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