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Por — Rio de Janeiro

A merenda escolar ganhou sabor diferente neste ano letivo. Biscoitos, aquela balinha e o refrigerante, por exemplo, foram banidos das cantinas desde janeiro, quando entrou em vigor a lei 7.987/23, que proíbe a venda de alimentos ultraprocessados nas unidades de educação públicas e particulares do Rio. A intenção é preservar a saúde dos estudantes e combater a obesidade infantil. O prazo estabelecido de 180 dias para a adaptação do cardápio venceu há dois meses, mas algumas escolas ainda insistem em oferecer lanches mais próximos do pecado da gula do que do respeito à legislação.

Alimentos com embutidos, como presunto e salsicha, estão proibidos. Mesmo assim, no Colégio Militar do Rio, na Tijuca, na Zona Norte, uma barraquinha serve cachorro-quente. No último dia 19 de março, O GLOBO ainda flagrou um food truck de sorvete, com mais de dez opções de cobertura industrializada. Há outros pontos de espetinho de churrasco e açaí espalhados pelo pátio da escola. Segundo alunos, a cantina que funcionava dentro do colégio fechou no início do ano, mas uma máquina de venda automatizada de doces está à disposição dos estudantes.

A legislação prevê que o estabelecimento de ensino poderá responder solidariamente por irregularidades cometidas pelo serviço da cantina. Em um primeiro momento, a escola é notificada a suspender as vendas no prazo de dez dias. Caso não o faça, é advertida. A insistência na irregularidade pode levar a instituição particular a sofrer multa diária de R$ 1,5 mil até que a legislação seja cumprida. Desde o início do ano letivo, 19 estabelecimentos privados foram notificados para realizar as adequações exigidas. A Vigilância Sanitária municipal disse que está em contato com a direção do Colégio Militar para agendar uma visita técnica.

Fuga até a pastelaria

Nas redondezas da unidade de ensino, adolescentes se aglomeram na pastelaria da esquina. “Não oferecem almoço, e aqui sai mais barato”, diz um deles, enquanto devora o segundo salgado de queijo e presunto com refresco de maracujá, para enfrentar a jornada de aulas no período da tarde.

Em nota, o Departamento de Educação e Cultura do Exército informou que os food trucks estão instalados em caráter temporário no Colégio Militar do Rio porque está em curso um processo de cessão de uso para o funcionamento de três cantinas. Também foi informado que os alunos não são dependentes da alimentação oferecida nas cantinas, uma vez que o colégio integra o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que fornece alimentação saudável e gratuita, como frutas e sanduíches.

Por definição, os ultraprocessados são aqueles que têm na composição cinco ou mais ingredientes como gorduras vegetais hidrogenadas, amido modificado, corantes, aromatizantes e realçadores de sabor.

E são estes os produtos que o Santo Inácio, colégio particular em Botafogo, está banindo de sua cantina. Neste ano, nada de pizza, queijo coalho tostado ou doces com grandes quantidades de açúcar.

— Tem uma cantina vegana. Substituíram a farinha por aveia e tiraram os produtos com mais açúcar. Eliminaram presunto dos salgados. Agora é tudo integral — disse um aluno, que preferiu não se identificar.

Perto do colégio, na barraquinha do Seu João, que não fica vazia por cinco minutos durante o horário do almoço, todos aproveitam para abastecer o estoque de guloseimas.

— Tem que ser. Às vezes a gente quer um docinho ou só um biscoito. Graças a Deus é meu último ano — desabafou Isabela Machado, do 3º ano, que leva comida para esquentar no micro-ondas da escola.

A mãe dela, Darlene Machado, acredita que o crivo da escola é importante.

— Se houver um equilíbrio, acho que pode, sim, mudar o comportamento. Acho que vai trazer ganhos para todo mundo — aposta Darlene.

A lei foi aprovada em junho e sancionada pelo prefeito Eduardo Paes em julho do ano passado, após quatro anos de discussões na Câmara dos Vereadores. O projeto original foi apresentado pelo vereador Cesar Maia (PSDB) e leva a assinatura de outros 14 parlamentares.

Relatora do projeto na Câmara, a vereadora Rosa Fernandes (PSC) lembrou que uma em cada três crianças está com sobrepeso ou obesidade no Brasil.

— A preocupação era que não tivesse nenhuma emenda que transformasse a proibição dos alimentos ultraprocessados em recomendação. Isso não resolveria o problema. É necessário esse olhar atento ao que elas devem consumir — explica a vereadora.

Na rede pública

Nas escolas municipais, a recomendação ainda é incluir no currículo a Educação Alimentar e Nutricional (EAN), para abordar práticas saudáveis sob a ótica da segurança alimentar e nutricional. Acostumada a alimentos frescos e fruta “direto do pé”, Antônia Rodrigues, de 37 anos, gostou da notícia. As duas filhas, Stefany, de 9 anos, e Maysa, de 6, estudam na Escola municipal Tia Ciata.

— Antigamente davam leite com achocolatado; agora é só o leite puro. E oferecem frutas. É uma rotina que as crianças vão levar para a vida toda. Eu vim do Nordeste, estou acostumada com comida fresca. Biscoito eu acho muito desnecessário, não tem nada de nutritivo. Esses industrializados fazem mal —avalia Antônia, que nasceu em São Benedito, no Ceará.

Já a filha mais velha não curtiu muito a novidade.

— Não gosto de leite puro. Preferia com o achocolatado — confessa.

Na ausência do brownie e do cookie, que sumiram da cantina, alunos do Liceu Franco Brasileiro, no Largo do Machado, fazem fila para comprar sacolé de uma banquinha na calçada ao lado.

— Meu filho complementava o lanche às vezes com açaí, brownie. Foi do que ele mais sentiu falta. A gente sabe da importância extrema de ter opções mais saudáveis. Aos poucos, os alunos vão entendendo e se adaptando — diz Rozane Sztejnberg, mãe de Ian, de 15 anos.

Alteração para melhor

Na escola particular Alfa Cem, na Tijuca, estudantes revelam sentir falta do passado mais doce e açucarado. Um aluno do ensino médio, por exemplo, cita as balas e os biscoitos vendidos até o ano passado.

— Não tem mais a minha bala preferida; eu comprava quase todo dia. Tiraram muita coisa. Mas ainda tem pão de queijo — conta.

Nutricionista, Bárbara Marques Generoso garante que a mudança foi para melhor:

— Ultraprocessados fazem mal. O ambiente escolar é propício para promover hábitos mais saudáveis. Com a lei em vigor, fica mais fácil para a escola apresentar novas formas de comer, de proteger a cultura e a educação alimentar.

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