Além dos impactos econômicos e sociais, pessoas que abandonaram a escola quando crianças e adolescentes acabam perdendo experiências que marcam profundamente o desenvolvimento emocional do ser humano: brincadeiras, descobertas e amizades, por exemplo. Pequenos momentos compartilhados que marcam a juventude são trocados por experiências traumatizantes, como trabalho infantil ou gravidez precoce, por exemplo.
— A escola não é apenas um espaço de aprendizagem. É o primeiro, e principal, espaço de socialização que a criança experimenta. Por conta disso, a escola pode ser entendida como um microcosmo da sociedade, tudo que vivemos aqui, vivemos também na escola. Todos precisam estar atentos e fortes para dar conta da diversidade de pessoas e realidades que a frequenta — afirma Ana Paula Brandão, diretora Programática da ActionAid, organização cofundadora do Projeto Seta, que defende o ensino da diversidade para que todas as crianças sejam contempladas. — Uma educação antirracista é fundamental para que os estudantes se sintam parte desse espaço. Sem distinção de raça, cor, gênero, sexualidade ou religião.
Em 2022, último ano com estatísticas disponíveis, a proporção de jovens que abandonaram o ensino médio voltou a crescer depois de uma consistente queda entre 2013 e 2019. Nos anos de 2020 e 2021, os dados ficaram comprometidos, segundo especialistas em educação, por conta da pandemia.
Dados da Pnad Educação mostram que, depois que deixam a escola, é muito difícil que essas pessoas consigam retomar os estudos. Segundo a pesquisa do IBGE, só 23% dos brasileiros de 15 a 29 sem ensino médio alegaram falta de interesse como principal motivo para não voltarem às salas de aula. A maior parte (45%) afirmou que precisa trabalhar. Entre as mulheres, o conjunto de responsabilidades domésticas — como cuidar de um familiar idoso ou criança — é o principal impedimento (35%).
A educação de jovens e adultos perdeu um milhão de estudantes nos últimos quatro anos. Além da pandemia, a modalidade recebeu, em 2020 e 2021, os menores níveis de investimento do governo federal do século XXI.
Apoio de parentes
De acordo com Alessandra Pinheiro, uma das coordenadoras do Eixo de Educação da Redes da Maré, um dos componentes que têm muito peso para esse retorno é o apoio de familiares:
— Nem sempre a mulher tem com quem dividir as tarefas domésticas e cuidados com membros da própria família e pode tirar aquele tempo para o retorno à sala de aula sem essas preocupações, além de não se sentir motivada por essas pessoas .
O Redes da Maré, com a L’Oréal Lancôme e o Programa Integrado da UFRJ para Educação de Jovens e Adultos, criou em 2019 o projeto de alfabetização para mulheres Escreva seu Futuro. Segundo a coordenadora Edvania Ferreira, os educadores precisam levar em consideração a experiência de vida, os saberes e o contexto das alunas e alunos da educação de jovens e adultos para conseguir atraí-los e mantê-los até a formatura.
— É preciso evitar materiais e abordagens infantilizados, com os quais os alunos não se identificam e não estabelecem sentidos e significados — explica Edvania. (Bruno Alfano)