Em queda, home office é mais frequente entre ricos e educados, aponta Datafolha

Índice em SP caiu 20 pontos percentuais em relação a 2020, passando de 44% para 24%

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São Paulo

A pandemia acelerou a tendência de trabalho remoto, na qual o mercado de trabalho já apostava, mas mostrou que nem todos os segmentos sociais foram incluídos na mudança.

Dentre os 24% de entrevistados na pesquisa Datafolha que estão em home office, 48% possuem formação no ensino superior e 49% ganham mais de dez salários mínimos.

O número caiu 20 pontos percentuais em relação a 2020, quando 44% dos entrevistados estavam em regime de trabalho remoto.

Dos que não estão em home office, que em 2021 são 76% dos entrevistados, 96% têm formação até o ensino fundamental e 90% ganham até dois salários mínimos (ou R$ 2.200, em valores de 2021).

Dentre esse grupo, 54% relatam piora da situação financeira ao longo da pandemia, percepção que cai para 22% entre os que ganham mais que 10 salários mínimos.

Para Renan Pieri, professor do PAE (Departamento de Planejamento e Análise Econômica) da
FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas), o perfil de ocupação das diferentes classes sociais é parte da explicação para a desigualdade.

“Boa parte dos empregos são em comércio e serviços e a imensa maioria deles não consegue funcionar a distância”, afirma.

Pieri acredita que, enquanto o auxílio emergencial vigorou no valor cheio, de R$ 600 mensais, a necessidade de trabalhar presencialmente foi reduzida para as camadas de renda mais baixa. “Quando acabou, quem dependia disso precisou sair para a rua para trabalhar”, diz.

Por outro lado, cargos de gestão e trabalhos tipicamente realizados em escritório se adaptaram bem ao home office, de acordo com os professores, e pode ser que continuem no esquema remoto depois da pandemia.

Segundo pesquisa Datafolha, apenas 37% dos entrevistados fez home office em algum momento da pandemia. Destes, 61% têm ensino superior e 65% ganham de cinco a dez salários mínimos. Do total de quem trabalhou remotamente, 16% gostariam de retomar o presencial e 21% gostariam de manter o home office.

Para Jonathan Wilson, 23, formado em relações públicas, o home office é um modelo que veio
para ficar. Ele, que trabalha com marketing em uma empresa da indústria química, está em casa desde março de 2020 —e sem data para retorno ao presencial.

A aclimatação ao modelo remoto não foi fácil, mas, agora, ele gostaria que permanecesse. “Tive que adaptar meu quarto para atender minhas necessidades. Antes não tinha monitor, por exemplo”, conta o profissional, que pensar em aderir ao nomadismo digital quando a pandemia acabar.

Pieri, da FGV, destaca que a estrutura exigida pelo home office também é um demarcador de diferenças de renda. “Exige um bom computador, internet, espaço em casa”, diz. Para ele, esse aspecto deve manter o home office como um modelo de trabalho de classes mais altas.

Quando a pandemia acaabr, Jonathan pensa em adotar o estilo de vida do nomadismo digital.

Para os que puderam trabalhar remotamente em algum momento da pandemia, o retorno ao presencial nem sempre foi um processo tranquilo. Quando Gabriel, 26, recebeu a orientação de voltar para o escritório, em agosto de 2020, a preocupação maior foi com a mãe, idosa, com quem ele vive.

“No escritório, todos viviam como se não houvesse pandemia. Eu era o único de máscara durante as
oito horas diárias, e todo dia precisava justificar o uso para os colegas”, conta. “Tive de voltar a fazer terapia por conta do estresse e ansiedade que a situação gerou."

Ele, que trabalhou por dois anos e cinco meses como analista de operações em um banco digital, uniu o desejo de mudar para a área de tecnologia com a insatisfação com as políticas de retorno presencial e pediu demissão.

Gabriel afirma que, apesar de preferir o modelo de home office, acredita que a experiência seja diferente fora de um contexto de pandemia. Jonathan compartilha da opinião e diz que sente falta do aspecto social do escritório —mas que a possibilidade de encontrar amigos de fora do trabalho já daria conta da necessidade.

Dentre os entrevistados da pesquisa Datafolha que estão em home office (24%), 11% acreditam que a prática irá diminuir e apenas 5% apostam em um aumento das atividades remotas.

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