Rio

Em meio à suspeita de fraude na merenda, pais de alunos da rede estadual recebem comida estragada

Nesta sexta-feira, a Polícia Civil e o MPRJ, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagraram a Operação Prandium contra a fraude na compra de merenda e materiais para as escolas estaduais
Flávia Jane e o feijão estragado: cesta básica foi entregue pela escola da filha Foto: BRENNO CARVALHO / Agência O Globo
Flávia Jane e o feijão estragado: cesta básica foi entregue pela escola da filha Foto: BRENNO CARVALHO / Agência O Globo

RIO - A suspeita de superfaturamento na compra de merenda para escolas da rede estadual de ensino e de cestas básicas para socorrer famílias de alunos durante a pandemia do coronavírus não garantiu a entrega dos alimentos, nem a qualidade dos produtos. Algumas famílias de estudantes não receberam o auxílio prometido; outras ganharam, dentro da cesta básica, produtos estragados.

Nesta sexta-feira, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagraram a Operação Prandium contra a fraude na compra de merenda e outros materiais para as escolas da rede estadual. Ao todo, 64 mandados de busca e apreensão contra empresários e diretores de escolas foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital.

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No início desta semana, pais de alunos de escolas estaduais reclamaram das cestas básicas recebidas após mais de três meses de quarentena — período sem aulas e, consequentemente, sem merenda nas unidades. O kit veio com 1kg de fubá, 1kg de arroz, 500g de macarrão, um milho, uma lata de sardinha, um sachê de massa de tomate e 1kg de feijão. O problema se estendeu até mesmo às escolas que não tiveram integrantes da diretoria citados na Operação Prandium. Este foi o caso do Colégio estadual Vila Bela, no bairro Banco de Areia, em Mesquita, em que os alunos tiveram direito aos alimentos distribuídos.

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Com uma filha cursando o 1° ano do ensino médio, a manicure Flávia Jane Massulino, de 44 anos, foi buscar os alimentos. Ela conta que, entre os produtos recebidos, o feijão estava com bichos.

— Lavei, deixei de molho e tirei os melhores para cozinhar. Saí para fazer unha. Quando cheguei em casa e fui mexer, tinham os bichinhos na panela — contou Flávia, que mora com três filhos e o marido, que trabalhava como mecânico, mas ficou desempregado logo que começou a quarentena. — Antes, dava para comprar biscoito, achocolatado, iogurte. Agora meu marido está desempregado e a quantidade de unhas que faço caiu muito. Falo para meus filhos "não comam muito" para dar para o mês todo.

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Uma das escolas envolvidas na investigação que resultou na Operação Prandium, o Colégio estadual Pedro Álvares Cabral, no centro de São João de Meriti, não distribuiu cesta básica para os alunos, como fizeram unidades estaduais neste período de quarentena. É o que afirmam as famílias de estudantes.

Elisângela Barcelos, de 39 anos, é mãe de um aluno do 3° ano do ensino médio. Além dele, mora com outros três filhos. Para ajudar em casa, o jovem, de 20 anos, está fazendo bicos como ajudante de obra. Elisângela ganha R$ 70 por semana com faxinas. Ela disse que soube que haveria a entrega de alimentos, mas que nunca aconteceu.

— Iria ajudar muito. Com o que ganho com as faxinas, tento comprar frango, salsicha, ovo ou legume. Carne não dá. Minha filha mais velha, de 23 anos, está desempregada. Agora estamos aguardando a terceira parcela do auxílio emergencial. É uma sacanagem tirarem de quem mais precisa — criticou Elisângela, que também é mãe de um menino de 8 anos e de um jovem de 18, ambos alunos da rede pública.

Edilza Santos, de 48 anos, tem contado com a ajuda da igreja para se alimentar. Sua filha, de 19 anos, cursa o 2º ano do Ensino Médio no Colégio Pedro Álvares Cabral. Ela e o marido vendiam quentinhas, mas o movimento caiu com o início da quarentena e agora eles não têm renda:

— Estou pegando cesta básica na minha igreja, em Vaz Lobo. Quem dera se dessem aqui na escola. Eu e meu marido nos inscrevemos para receber o auxílio (emergencial), mas é muito triste isso tudo.

Secretaria diz que vai apurar

Em nota a secretaria estadual de Educação, informou que irá apurar o caso. "Caso seja identificado qualquer problema, a unidade escolar comunicará aos pais sobre como proceder. Vale esclarecer que a Seeduc apenas repassa a verba para as unidades para a aquisição de alimentos", afirmou a nota.