Em cinco histórias, conheça os desafios, superações e conquistas dos estudantes 40+

Eles encararam o etarismo e voltaram para a sala de aula em busca de atualização e conhecimento

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Por Bianca Bibiano
Atualização:

“Não tenho chance de errar”


Patricia Yokoyama Marques: matriculada no curso de Enfermagem aos 51 anos Foto: Diego Padgurschi


Em busca de realização profissional, Patrícia Yokoyama Marques, 51 anos, fez sua matrícula em janeiro no curso de Enfermagem, no Centro Universitário Senac, em São Paulo.

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A gravidez do primeiro filho a afastou dos estudos aos 19 anos, jornada que retomou aos 25 com um supletivo de ensino médio. De lá para cá, uma série de intempéries postergaram o sonho, incluindo um câncer de tireoide.

Hoje, recuperada, intercala os estudos com o trabalho. “Estou numa idade em que meu alvo tem que ser certeiro. Não tenho chance de errar.”

Ela também estuda francês, para tentar trabalhar na Europa. “Meu currículo tem que ser muito bom por causa da idade.”


“Mente sã, corpo são”


Pedro Dias, estudante de Teologia na Faculdade São Bento Foto: DIEGO PADGURSCHI


Pedro Luiz Dias, 69, é aposentado, mas não caiu no ócio. Estudioso, carrega quatro diplomas, incluindo três faculdades e um MBA. O último curso, de Teologia, foi concluído em janeiro na Faculdade de São Bento de São Paulo, desejo que remete aos tempos de seminário católico. Na juventude, estudou Comunicação e fez carreira em Marketing e como professor.

Voltou à graduação para retomar a atividade intelectual. “Quer coisa mais disciplinada que voltar à faculdade? Você continua com a mente sã e o corpo são.”

No primeiro ano de curso, Dias foi alvo de etarismo por parte de colegas e hoje comenta: “Temos carências no nível superior e precisamos de mais profissionais”.

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“A maturidade ensina”


Tania Cristina Antonieto: na terceira pós-graduação Foto: Diego Padgurschi


Hoje advogada, Tania Cristina Pires Antonieto, 54 anos, adiou a faculdade pela primeira vez em 1990, para priorizar o trabalho, quando se tornou mãe solo. “Foi apenas em 2014 que decidi tentar novamente, através do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio].”

Com uma boa nota, conseguiu bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni) na Universidade Paulista (Unip). Na época sofreu preconceito em duas frentes: pela idade e por ser aluna de um programa social. “Mas a maturidade ensina a conviver com essas situações”, rebate.

Seu sonho quase foi interrompido em 2019, com a morte do marido, mas o desejo de homenageá-lo a motivou a prosseguir. Hoje ela está na terceira pós-graduação.


“Pronta para novos desafios”


Raquel Vaccari Viana: graças ao EAD, de volta aos estudos Foto: Diego Padgurschi


▶ Requalificar-se foi o motivador para Raquel Vaccari Viana, 47 anos, juntar-se aos 3,1 milhões de brasileiros que optam pelo ensino a distância (EAD), segundo o Censo da Educação Superior. “Mesmo tendo uma vasta experiência profissional, precisava tornar meu currículo mais atraente.” O facilitador aconteceu durante a pandemia. “Aproveitei o tempo de confinamento para fazer uma graduação EAD no Senac.”

Com o novo diploma em Processos Gerenciais, se sente pronta para os desafios no mundo corporativo. “Alunos 40+ são diferenciados, pelo amadurecimento e bagagem profissional. Não existe limitador de idade para estudar, mudar de área ou lutar pelos sonhos e objetivos.”

“Que ninguém mais passe pelo que passei”


Patrícia Linares: depois de ser vítima de etarismo, de malas prontas para o exterior Foto: Diego Padgurschi

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▶ Vítima de etarismo no caso que ganhou repercussão nacional, Patrícia Linares propaga agora o fim do preconceito contra pessoas “mais velhas” nas faculdades. Aos 44 anos, ela viu sua vida ser exposta após ter sua idade criticada por três estudantes mais jovens de seu curso de Biomedicina em Bauru, no interior paulista, em vídeo viralizado nas redes sociais. Hoje, ela é fonte de apoio a quem sofre o mesmo: “Gostaria que ninguém mais passasse pelo que passei”.

A visibilidade lhe rendeu uma bolsa de estudos para fazer um intercâmbio de idiomas na Inglaterra. A viagem está marcada para janeiro de 2024. “Estou feliz porque a maioria das pesquisas científicas e dos livros da minha área são em inglês.”

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