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Em busca de vaga em mundial, 1.200 estudantes disputam torneio de robótica no Rio

Festival Sesi de Robótica mostra como aplicar a tecnologia para desenvolver habilidades em crianças e adolescentes
Daniel Campos e Murilo Araújo, da equipe Lego Bros, disputam com outras 83 equipes o torneio First Lego League Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Daniel Campos e Murilo Araújo, da equipe Lego Bros, disputam com outras 83 equipes o torneio First Lego League Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RIO — Durante o fim de semana, mais de 1.200 estudantes de escolas públicas e particulares de todo o país estarão no Rio de Janeiro para o Festival Sesi de Robótica, uma competição onde os participantes aplicam seus conhecimentos na construção de robôs e elaboração de projetos. São três categorias em disputa, e os vencedores são convidados a participar da etapa mundial, contra equipes de vários países. O evento acontece nos armazéns 2 e 3 do Píer Mauá, com estrada gratuita.

A categoria First Lego League é para alunos entre 9 e 16 anos, que são desafiados a usarem peças do brinquedo de montar para resolver desafios. Neste ano, o tema da competição é “Into Orbit” (Em órbita). Os competidores precisaram construir um robô autônomo capaz de solucionar 15 missões. Numa mesa, o robô precisa desviar de objetos, carregar peças e acionar alavancas, em apenas dois minutos e meio.

O instrutor de informática Francisco Teófilo, técnico do time Lego Bros, da escola Sesi de São Gonçalo do Sapucaí, em Minas Gerais, explica que os estudantes precisam construir o hardware — com peças de Lego — e o software. Os robôs são equipados com sensores, como giroscópio, de toque e de luz refletida, que precisam ser programados para que o percurso seja completado, de forma autônoma.

— Eles alcançam o nível de programadores, com conhecimentos em mecânica, com atividades lúdicas — afirma Teófilo. — Desenvolvem habilidades para o futuro, dominando a tecnologia.

E a brincadeira pode virar carreira. Aos 16 anos, o aluno do 2º ano do ensino médio Daniel Campos, um dos seis membros do Lego Bros, está certo que irá seguir na área de Engenharia.

— Por causa dos robôs, eu já escolhi uma carreira — diz Campos. — Já tenho certeza do que eu quero fazer.

Mas nesta categoria, o robô é apenas um dos quesitos avaliados. Os estudantes precisam elaborar um projeto que, na edição deste ano, apresente uma solução para a exploração espacial. Os alunos do Sesi de São Gonçalo do Sapucaí criaram um equipamento que usa elásticos para amenizar a perda de densidade óssea e muscular dos astronautas.

— Nós trabalhamos com fisioterapeutas, com profissionais de educação física e com o astronauta Marcos Palhares — explica Murilo Araújo, de 14 anos, estudante do 9º do ensino fundamental.

As três equipes melhores colocadas ganham vaga no World Festival, campeonato mundial da categoria, que acontece mês que vem em Houston, no Texas, EUA. No ano passado a Red Rabitt, do SESI de Americana, foi campeã da etapa mundial. O feito chamou a atenção de Todd Ensign, professor da Fairmount State University e diretor do Centro de Recursos para Educadores da Nasa, que veio ao Brasil acompanhar a etapa nacional da competição.

Disputa entre 'escuderias' de Fórmula 1

A categoria First Tech Challenge é apenas para estudantes do ensino médio, entre 15 e 18 anos. Participam do festival 16 equipes, que criaram robôs especificamente para simular a coleta de minerais na superfície de um planeta. O festival também tem espaço para a velocidade. Na categoria F1 in Schools, alunos entre 14 e 18 anos precisaram criar uma escuderia. O carro é uma miniatura, com no mínimo 50 gramas, que deve percorrer uma pista de 20 metros no menor tempo possível.

— Nós fizemos o projeto usando o software Fusion 360 e testamos a aerodinâmica no Flow Design. Com tudo pronto, esculpimos o carro nos blocos que recebemos da organização e imprimimos as partes em 3D — conta Pedro Lage, de 16 anos, da Team Cheetah, do colégio Sesi/Senai de Criciúma, em Santa Catarina. — O nosso carro faz o percurso em 1,2 segundo.

Isabela Gaudielei e Pedro Lage disputam torneio que simula escuderias de Fórmula 1 Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Isabela Gaudielei e Pedro Lage disputam torneio que simula escuderias de Fórmula 1 Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Na equipe Tu-Caré, do Sesi/Senai de Mato Grosso, os alunos conseguiram uma parceria com a montadora Toyota para a finalização da miniatura, que tem design com referências ao tucano e ao jacaré, animais que inspiraram a “escuderia”. Com rodas em alumínio e sem peças plásticas, o carro é um pouco mais pesado e lento, percorrendo os 20 metros em mais de dois segundos.

— Em dois meses, nós criamos 12 protótipos. O projeto final faz referência ao bico do tucano e à mandíbula do jacaré — diz Isabela Gaudielei, que ocupa o posto de “engenheira-chefe” da Tu-Caré.

'É muito mais que um robô', diz organizador

Orgulhosa, Mara Tereza Farias, professora de Robótica e técnica da Tu-Caré, destaca que a participação no torneio amplia os conhecimentos e as habilidades dos estudantes. No desenvolvimento do projeto, eles aplicam o que aprendem na sala de aula para estruturar uma equipe de Fórmula 1, não apenas para desenvolver um carro. Cada membro possui um cargo e os jovens precisam montar planos de negócio e de marketing, buscar patrocínios e participar de um projeto social.

— Nós engajamos vários profissionais para treinar os alunos. Além do professor de Física, participaram especialistas em marketing, em vendas, em design gráfico e até um fonoaudiólogo — relembra Mara. — São alunos que aprenderam na prática como funciona várias áreas de uma empresa, desde lidar com orçamento até como apresentar uma marca em redes sociais. São futuros empresários.

Para o diretor de Operações do Sesi, Paulo Mól, coordenador técnico do festival, os participantes ganham habilidades técnicas importantes para o futuro profissional, mas o principal é o desenvolvimento humano. Eles precisam trabalhar em cooperação com o grupo, desenvolvem a criatividade para a resolução de problemas e aprendem a expressar suas ideias.

— É muito mais que um robô. Essa juventude entende que pesquisa científica é muito legal, que matemática é muito legal. Que é possível aprender brincando — avalia Mól. — E vai além da matemática e da ciência. A robótica é simplesmente um gatilho para a formação de um ser humano.