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Em aula de projeto de vida, professor cria RPG para trabalhar democracia e participação

Atividade na cidade de Maravilha, interior de Alagoas, envolveu visitas aos poderes públicos da cidade para inspirar a atuação da turma do 1º ano do ensino médio no jogo

por Renato de Menezes Pereira ilustração relógio 27 de setembro de 2023

Democracia, cidadania e direitos humanos são temas transversais, que sempre devem estar presentes em nossas aulas, independentemente da disciplina. É o que costumo trazer ao componente de Projeto de Vida: tratar de assuntos que vão além do mercado de trabalho. Em 2022, ano em que celebramos os 200 anos de Independência do Brasil, o tema norteador das ações pedagógicas aqui no estado de Alagoas foi justamente esse: “Independência do Brasil: direitos humanos e democracia”.

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Como estudo gamificação há alguns anos, decidi reunir os dois assuntos na “Sequência didática: RPG País das Maravilhas” com meus alunos do 1º ano do ensino médio. O nome do projeto vem em homenagem ao município de Maravilha, ao oeste de Alagoas, que conta com cerca de 10 mil habitantes e onde se localiza a Escola Estadual Professor Atanagildo Brandão, na qual leciono. 

O objetivo pedagógico da prática foi desenvolver nos estudantes o senso crítico sobre como funciona uma República democrática, fazendo isso de uma forma dinâmica (política, por vezes, é um assunto pouco atrativo por si só) e tornando os estudantes protagonistas do seu aprendizado: eu apenas mediei o processo. 

O primeiro passo foi uma aula expositiva sobre o tema. Nessa mesma aula, criamos um país fictício, e dividimos a turma nos três poderes que compõem uma República (Executivo, Legislativo e Judiciário). A ideia era administrarmos juntos esse país, propondo ideias para melhorar a vida da população. 

Criamos, então, um RPG para jogarmos. A sigla significa “Role Playing Game” (em tradução livre, jogo de interpretação de papéis) e o RPG nada mais é do que um jogo de narrativas onde se interpretam personagens, que criam ações e caminhos a serem seguidos a partir da história. O RPG pode ser jogado com ou sem recursos tecnológicos. Seguimos pelo caminho sem tecnologia. 

Na simulação, levamos em consideração o território do município como equivalente ao do país e daí vem o nome da ação: País das Maravilhas, em homenagem à cidade. 

Depois de fundar o país, precisamos definir os integrantes dos três poderes. Fiz fichas coloridas com Legislativo, Executivo e Judiciário e as dividi em três partes, de acordo com a quantidade de estudantes que estavam presentes no dia. Por meio de sorteio, foram formados os três grupos.

E quem seria o presidente do País das Maravilhas? A seleção foi feita no modelo de eleições diretas, com todos os estudantes da turma, que deveriam votar em alguém do grupo Executivo para escolher o líder. O primeiro mais votado se tornou o presidente, o segundo ganhou o cargo de vice-presidente e os demais se transformaram em ministros, escolhendo as pastas nas quais queriam atuar. 

A turma do Legislativo, ou melhor, os deputados, escolheram o presidente da Câmara Federal Legislativa. Já entre o Judiciário, os estudantes decidiram se dividir entre juízes, promotores e advogados, e também selecionaram o presidente da casa. O Ministério Público foi representado por mim, atento a qualquer irregularidade nas ações dos três poderes. 

Surgiu, então, a narrativa do RPG: o País das Maravilhas acabava de eleger seu novo presidente e dispunha de um caixa de R$ 10 milhões. O destino do dinheiro deveria ser debatido com o Executivo, no desenvolvimento de projetos. E as apresentações de cada proposta aconteceriam em sala de aula, em um debate entre presidente e ministros, para que a proposta fosse enviada ao presidente da Câmara – nesta etapa, a casa deveria debater a ideia e aprová-la.

As reuniões do Legislativo também aconteceram em sala de aula, a fim de discutir coletivamente as leis que os legisladores gostariam de criar para o País das Maravilhas, e, em seguida, as propostas eram enviadas ao Executivo para aprovação ou veto do presidente da República. Nesse ínterim, o Judiciário estava atento a eventuais irregularidades nas ações dos poderes.

O projeto do Executivo tinha de responder uma ficha com as seguintes perguntas para cada uma das propostas: O que será feito? Por que deve ser feito? Onde será feito? Qual grupo da sociedade será beneficiado? Qual valor total será gasto? Qual ministério está envolvido? Já os estudantes do grupo Legislativo tinham de registrar em documento qual nova lei seria criada, por qual motivo, para beneficiar a quem e a partir de quais fontes de recursos públicos. 

Visitas ao poder público

Para inspirar os estudantes na interpretação de seus personagens, foram realizadas três aulas de campo com a turma, uma em cada poder constituído do município de Maravilha, para que eles pudessem visualizar como a repartição funciona na prática. 

Participamos de uma sessão da Câmara Municipal de Vereadores, na qual a turma presenciou como funciona uma casa legislativa (inspiração principalmente para os estudantes com o papel de deputados federais). Fomos também à prefeitura municipal: lá, a prefeita Conceição Albuquerque nos recebeu e nos apresentou todas as repartições da prefeitura (inspiração para os estudantes que atuariam como presidente, vice-presidentes e ministros). Por último, visitamos o Fórum da cidade, onde a juíza Nathalia Silva Viana nos recebeu. Além de apresentar as repartições, participamos de uma palestra motivacional (inspirando os alunos que fariam parte do Poder Judiciário). 

Na volta à escola, realizamos as sessões em sala de aula e a turma se engajou muito para apresentar melhorias aos problemas identificados em suas comunidades e gastar os 10 milhões de verba em prol do bem do seu país.

De maneira natural e espontânea, diversos foram os projetos, focados no desenvolvimento e no bem-estar da população. Entre eles, a construção de um hospital de grande porte e de um conjunto habitacional para famílias carentes, mais médicos, aumento do salário mínimo para R$ 3 mil, retirada de animais das ruas, melhoria da merenda escolar e a valorização do Funk enquanto arte. Entre as habilidades da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) das ciências humanas desenvolvidas pela proposta, estão: EM13CHS103; EM13CHS301; EM13CHS302.


Renato de Menezes Pereira

Licenciado em geografia, com especialização em geografia e meio ambiente, e também em ciências humanas e sociais aplicadas ao mundo do trabalho. É professor da rede estadual de Alagoas e da rede municipal de Águas Belas (PE).

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ensino médio, Finalista Prêmio Professor Porvir, gamificação, Prêmio Professor Porvir, projeto de vida

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