Por Unifor


Vocação para ensinar: professores inspiram estudantes na construção de conhecimentos que beneficiam a sociedade nos mais diversos âmbitos — Foto: Ares Soares

Em 2018, a imprensa noticiou: apenas 2,4% da juventude do país tem interesse no magistério, segundo dados do relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mais recentemente, a notícia voltou a chamar atenção ao inspirar um vídeo que viralizou na internet no qual jovens de diferentes classes sociais são convidados a responder à clássica pergunta “o que você quer ser quando crescer?”.

Ao revelarem suas escolhas, cada um deles é direcionado à sala de aula onde o profissional citado se coloca à disposição para tirar dúvidas e relatar como ele próprio chegou à referida profissão. A sala de quem externou o desejo de ser médico está apinhada. Aquelas reservadas a quem será veterinário ou mesmo artista também deram quórum. Só em uma delas ninguém bateu à porta: a do professor.

Detalhe: ao ocuparem o centro das respectivas rodas de conversa cada um dos profissionais escolhidos e celebrados, ou seja, os donos dos diplomas que causam admiração e interesse imediato junto aos jovens estudantes, não titubeiam em revelar que a figura inspiradora central para suas escolhas profissionais foi um professor ou uma professora da época do colégio ou da faculdade, voltando o foco justamente para a profissão que forma todas as outras.

Aqui, a homenagem que abre espaço para reflexão também vem inspirar relatos e experiências pessoais. Na Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, professores dos diferentes Centros de Ciências contam como e por que abraçaram a docência, refletindo sobre os desafios e descobertas que a profissão traz hoje. Entre eles e elas, a história se repete: foi um professor ou uma professora que fez florescer a vocação para ensinar - e aprender - em sala de aula.

Vocação

Dois bons motivos levaram o professor Otacílio Benvindo Deocleciano Jr., egresso do curso de graduação em Farmácia da Universidade de Fortaleza, a se apaixonar pela docência: primeiro, a infraestrutura dos laboratórios do Centro de Ciências da Saúde (CCS), que, de tão propícia ao desenvolvimento da prática profissional, o levou a naturalmente se interessar por monitoria e pesquisa; segundo, o fato de ter nascido em uma família com muitos professores, incluindo pais, tias e irmãos.

O docente Otacílio Benvindo Deocleciano Jr dá aulas no curso de Farmácia da Unifor — Foto: Ares Soares

“Em mim, a vocação para a docência está no sangue mesmo. Por isso, fui monitor voluntário quando estudante e acabei me deixando influenciar por professores que já me viam saindo da graduação para emendar mestrado e doutorado. Assim foi feito e antes mesmo de terminar o doutorado vim dar aulas na Unifor, em 2005. Aí a docência me absorveu 100%. E é um caminho sem volta, porque até hoje me arrepio quando entro em sala de aula”, Otacílio Benvindo Deocleciano Jr, professor do curso de Farmácia da Unifor.

Da sala de aula para a gestão educacional. Depois de ter passado pela coordenação do curso de Farmácia da Unifor, o professor também se orgulha em integrar o NDE (Núcleo Docente Estruturante), ajudando a pensar ações e projetos de ensino e extensão, assim como as atividades práticas, que, segundo ele, cada vez mais são o diferencial de qualidade na Unifor. “Não é toda instituição de ensino que tem o NAMI como laboratório, dando aos alunos, já nos primeiros semestres de formação, a exata noção de como será a atuação profissional lá fora e demonstrando a centralidade da pesquisa aqui dentro. Por tudo isso tenho muito orgulho de lecionar na Unifor e me sinto totalmente realizado como professor e pesquisador full time”, festeja.

O gosto pelo universo jurídico sempre esteve com ela, mas a então estudante de Direito não conseguia se apaixonar por nenhuma linha de atuação específica. Até que no meio do caminho apareceu uma professora, que entre aulas relacionadas ao Direito do Trabalho enxergou na aluna o potencial para ser pesquisadora. “Faltava um ano e meio para me formar quando essa verdadeira mestra, Beatriz Rego Xavier, me pegou pela mão e disse: ‘vamos escrever um artigo juntas’. Depois do primeiro vieram outros e mais e mais encontros científicos. Até que, inevitavelmente, me tornei monitora voluntária dela. E seguimos juntas até o final do curso”, lembra a hoje docente do curso de graduação em Direito da Unifor, Aline Passos.

Ela confessa: nunca tinha pensado em lecionar antes, dada a severa timidez que lhe acometia toda vez que precisava apresentar seus trabalhos acadêmicos em público. Foi quando veio o estímulo extra para estudar fora. “Acabei cursando mestrado e doutorado ao mesmo tempo na Espanha. Quando voltei, em 2014, fui direto bater à porta da Unifor, que me contratou. Hoje não tenho dúvida de que nasci para ensinar e aprender”, afirma.

Para Aline, a paixão pela docência não podia se dar em outro lugar que não fosse a Unifor. É que por 34 anos sua mãe trabalhou como assessora da Reitoria e assim o campus se tornou extensão da própria casa, desde a infância. O elo afetivo, acredita, fortaleceu o profissional. E ela foi abraçando desafios diversos. Hoje, ministra a disciplina Direito do Trabalho para sete turmas da graduação e coordena o Programa Tutorial Acadêmico, atendendo as demandas dos quatro mil alunos vinculados ao curso de Direito.

Os estudantes de Direito ressaltam o bom humor e a conexão que têm com a professora Aline Passos — Foto: arquivo pessoal

“É muito trabalho, mas hoje me sinto completamente realizada. Tenho muito prazer em ensinar e os alunos sempre enfatizam o meu bom humor, como minhas aulas são divertidas. Gosto de saber que tenho conexão com eles e consigo transmitir uma matéria às vezes sisuda e pesada de forma leve. Conhecer pode ser prazeroso. E isso não compromete a qualidade ou a seriedade do ensino”, Aline Passos, professora do curso de Direito da Unifor.

Conhecida como Aline-Bebê, justamente porque é assim que chama seus “alunos-bebês”, de quem gosta declaradamente de “cuidar” e “acompanhar os progressos dentro de fora de sala de aula”, ela acredita que o conhecimento é um processo de construção coletiva que tem a confiança e o afeto como portais de acesso. “Quando ouvi de uma aluna que minhas aulas a salvaram na pandemia entendi que havia acertado mesmo nessa escolha”, derrete-se a professora que esbanja simpatia e caiu definitivamente nas graças da turma ao iniciar com música cada aula remota na fase mais crítica da pandemia

“Numa época em que a Ciência é publicamente atacada por quem deveria incentivá-la, ser professor é um ato de coragem e resistência”, sublinha a professora do curso de Direito da Unifor, Mariana Dionísio. A fala é de quem, ainda durante a graduação, se aproximou da docência por meio de projetos de pesquisa, investigando como realidades podem ser transformadas na esteira do avanço científico.

Mariana Dionísio, professora do curso de Direito, destaca a importância da liderança do professor — Foto: arquivo pessoal

“Hoje, quando a educação, mais do que nunca, precisa se reinventar, continuamos buscando e experimentando as mais arrojadas metodologias de ensino, mas não podemos esquecer que nada substitui a liderança do professor em sala de aula, seja ela física ou virtual. Afinal, é ele quem vai descobrir a mais adequada forma de fazer chegar ao aluno o conhecimento, encarando inclusive o desafio de conviver com as múltiplas janelas de dispersão disponíveis”, Mariana Dionísio, professora do curso de Direito da Unifor.

É pelo reconhecimento do papel central da educação e da docência nos processos de transformação social que a estudante do curso de Especialização em Mediação e Gestão de Conflitos, Karla Soraya, também milita desde que ingressou na graduação em Direito na Unifor. Aos 23 anos, ela não titubeia em subir os degraus que a levarão ao corpo docente do seu curso de origem.

Karla Soraya, egressa da graduação em Direito e estudante da Especialização em Mediação e Gestão de Conflitos da Unifor, pretende se tornar professora — Foto: arquivo pessoal

“Minha mãe é professora da educação básica e sempre foi minha maior inspiração para escolher o magistério como profissão. Sou aquela filha única que desde criança dá aula para bonecas e ursinhos de pelúcia. Dos cinco anos e meio de formação em Direito, cinco foram dedicados às monitorias, voluntárias ou institucionais. E de lá para cá minha paixão só aumentou, confirmando a escolha que ainda hoje, infelizmente, soa estranha para a maioria dos meus colegas da graduação, que sonham com concursos públicos e altos salários”, Karla Soraya, estudante da Especialização em Mediação e Gestão de Conflitos da Unifor.

Professor do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG) da Unifor, Delano Lima não planejou e nem sonhou em abraçar a docência ao ingressar na universidade. Ao contrário. “O início da minha trajetória acadêmica foi bem tumultuado. Me graduei em Publicidade em 2009. Já era uma segunda graduação e estava prestes a desistir de novo para tentar uma terceira quando um professor fez a diferença: Carlos Bittencourt o nome dele, alguém por quem tenho muita gratidão porque foi quem percebeu meu talento para números e análise de dados, direcionando meus estudos para a área de consumo e sociedade. Ou seja, concluí o curso focado no que eu gostava de estudar graças à sensibilidade e capacidade de acolhimento de um professor”, relata.

Com o diploma na mão, não foi difícil para Delano crescer no mercado, surfando na onda do marketing digital, ciência e mineração de dados. Mas o fato é que ele nunca deixou de regressar à Unifor para rever o professor e compartilhar ideias disparadoras de projetos futuros. “Foi quando decidi fazer uma especialização e voltar a ser o aluno que sempre gostou de ir à biblioteca para ler e pesquisar. A essa altura, já tinha montado duas startups mas acabei sendo percebido como destaque e fui convidado a dar aulas no curso de Jornalismo. Me surpreendi porque até então nunca tinha pensado em ser professor. Passei por uma banca, fui aprovado e acabei me realizando na docência. A ponto de me achar hoje um pouco pai dos alunos porque sou daqueles que dá o número do whatsapp e atende telefone até sábado e domingo”, ri-se.

Contratado desde 2019.1, o professor buscou lapidar-se, cursando na própria Unifor o mestrado em Administração.

O professor do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão da Unifor, Delano Lima, busca equilibrar a atuação na academia com outras experiências no mercado de trabalho — Foto: arquivo pessoal

“Tudo porque respeito o conhecimento e a pesquisa. Acho que a gente deve levar o melhor para a formação dessa moçada, buscar as melhores práticas e modos de conexão com o mercado, principalmente em tempos de ensino remoto ou híbrido, quando o professor foi levado a trocar o pneu do carro com ele andando. Não me planejei para ser professor, é fato. Mas hoje já sou capaz de perceber e estimular alunos com potencial para a carreira acadêmica. Pessoalmente, optei por equilibrar mercado e academia. Hoje estou à frente de uma empresa de consultoria de marketing e inteligência de mercado e sou professor, duas atividades equivalentes em importância para mim, porque considero rico trazer para a sala de aula a experiência prática atualizada”, Delano Lima, professor do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão da Unifor.

O engenheiro e docente do Centro de Ciências Tecnológicas da Unifor, Joel Sotero, sempre se orgulhou da mãe professora que bastava sair às ruas para esbarrar em ex-alunos tomados pela saudade e prontos a elogiá-la. “Cresci com essa visão positiva do magistério e quando criança já ficava feliz em imaginar quem ela iria encontrar naquele dia. Mas mesmo com a influência materna jamais havia pensado em ser professor”, admite. O empurrãozinho em direção à academia veio da irmã fisioterapeuta que, ainda durante a graduação, desafiou o irmão afinado às tecnologias a desenvolver um software e escrever um artigo científico a quatro mãos com ela.

A iniciação científica despertou o interesse de Joel Sotero, professor do Centro de Ciências Tecnológicas, para a docência — Foto: arquivo pessoal

“Gostei da estreia precoce nos encontros científicos, mas não me sentia seguro para me envolver com projetos de pesquisa. Tanto que recusei um primeiro convite de um professor para ser monitor. Mas no 4º semestre veio outro convite e dessa vez aceitei a monitoria. A partir daí os professores me colocaram debaixo do braço e rapidinho passei a bolsista de iniciação científica. Foram assim me guiando e acabei fazendo mestrado. No último semestre, fui convidado a assumir uma disciplina. Foi a porta de entrada, ainda que não muito confortável, para a docência”, Joel Sotero, professor do curso de Centro de Ciências Tecnológicas da Unifor.

Em 2017, veio a contratação oficial. Depois de enfrentar o processo seletivo para integrar o corpo docente do CCT na Unifor, Joel entrou com tudo em sala de aula e já emendou um doutorado em Informática Aplicada no PPGIA. Hoje, não quer outra vida. “Ainda desenvolvo projetos para empresas e tenho a minha própria no ramo de automação residencial. Mas minha principal atividade profissional é a docência, sem dúvida. Se for para escolher uma não titubeio em optar por dar aula, pesquisar e publicar. Gosto especialmente da relação com os alunos, da possibilidade de desenvolvermos projetos juntos, de acompanhar o progresso de cada um lá fora e de ter a sensação clara de que ajudo a moldar o futuro deles. Não são poucos os alunos que encontro na rua ou que voltam à Unifor para agradecer pela troca de conhecimentos e comemorar a realização de novos projetos. Esse feedback paga todo o esforço e dedicação do professor. E é um estímulo para continuarmos nos atualizando e buscando inovação sempre”, vibra.

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