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Formação docente

Educando para os valores: BNCC e o novo ensino médio

Por André Barbeiro*: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a reforma do novo ensino médio propõem mudanças significativas nos paradigmas que se apresentam em relação ao papel da escola na vida de cada estudante. A escola, além de permitir ao aluno o contato com […]

Publicado em 02/02/2022

por Redação revista Educação

bncc-novo-ensino-medio Foto: Envato Elements

Por André Barbeiro*: A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a reforma do novo ensino médio propõem mudanças significativas nos paradigmas que se apresentam em relação ao papel da escola na vida de cada estudante. A escola, além de permitir ao aluno o contato com um conhecimento cultural que fora construído pela humanidade ao longo dos séculos, deve, também, fornecer ao adolescente subsídios para que ele possa alcançar sua plenitude vocacional de modo que ele próprio assuma uma atitude protagonista em relação ao seu projeto pessoal de vida.

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Leia: Novo ensino médio: currículo nunca foi tão discutido

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“E mais, que garanta aos estudantes ser protagonistas de seu próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores legítimos sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-lhes uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos.” (BNCC, 2018).

Desenvolvimento pleno

A educação deve estar centrada na pessoa, e não no conteúdo. A busca pela formação integral do indivíduo, contemplando as dimensões humana, intelectual, social e emocional, se faz cada vez mais necessária. Portanto, ajudar o adolescente a refletir sobre sua própria vida e sobre seu papel no mundo são realidades que deverão ser cada vez mais presentes no ambiente escolar.

Neste sentido, a formação do jovem em valores fundamentais como empatia, respeito, trabalho em equipe, superação, perseverança e disciplina, tão necessários para a formação humana, social e emocional, se colocam como possibilidades para que ele possa se desenvolver em sua maturidade pessoal e coletiva, de modo a formar as convicções que, posteriormente, ajudarão nas decisões de modo mais consciente sobre si mesmo e sobre seu papel na sociedade.

A nova BNCC propõe aos professores uma educação que deve estar centrada na pessoa e no seu pleno desenvolvimento, e não apenas pautada na transmissão de conteúdos técnico-científicos.

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Leia: A história, os pilares e os objetivos da educação socioemocional

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BNCC e novo ensino médio fortalecem o protagonismo do jovem (foto: Envato Elements)

Construção humanista

Deste modo, a visão humanista da educação, tendo como referência fundamental Eric Rogers, se apresenta como uma possibilidade para que ocorra efetivamente a mudança no paradigma e na intencionalidade do professor em sala de aula.

Todos os seres humanos, na visão de Rogers, possuem uma tendência natural para o crescimento em direções saudáveis. Portanto, Rogers considera que é papel do professor oferecer as melhores condições para o desenvolvimento do estudante e, durante esse processo, três elementos se fazem essenciais: aceitação positiva, empatia e congruência (tríade rogeriana).

Também na perspectiva humanista, Alfonso López Quintás, filósofo espanhol, publicou uma série de livros e artigos refletindo sobre a prática do viver, do pensar, do conviver e, sobretudo, do aprender e do ensinar. Quintás problematizou a necessidade do âmbito do encontro como uma estratégia para se criar relações verdadeiras e transformadoras entre pessoas, inclusive entre aluno e professor e entre professor e gestor, permitindo, assim, o pleno desenvolvimento de toda a comunidade escolar.

“A autêntica cultura, em que consiste? Escrever crítica de arte? Fazer poesia? Sim, mas, acima de tudo, consiste em cultivar as relações pessoais. Quando começa a autêntica vida? Quando há uma palavra dita com amor e não com ódio: uma palavra dita com ódio destrói a cultura. E não se dá a devida importância a isto. Um professor, por exemplo (façamos um pouco de autocrítica) que dá aulas brilhantes, que possui muitos conhecimentos, mas não cria um ambiente de diálogo na escola, um ambiente de encontro, estará realmente fomentando a cultura ou somente fomenta a informação?” (López Quintás, Conferência FEUSP 1999).

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Leia: Professores: saúde mental fragilizada e a desvalorização como regra

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O papel do professor

Alinhada à visão humanista da educação centrada na pessoa, a análise existencialista de Viktor Frankl, que busca compreender o ser humano em todas as suas dimensões bem como atribuir-lhe sentido na sua própria vida e em seu projeto de vida, se mostra promissora na ressignificação da educação proposta pela nova BNCC e pelo novo ensino médio. A análise existencial da educação possibilita o homem ter uma visão de si mesmo e da vida, desenvolvendo sua própria consciência e sua responsabilidade diante do protagonismo em relação ao seu projeto pessoal de vida.

Portanto, neste aspecto, o professor se torna mediador fundamental no processo de autodescobrimento do estudante, pois, para que ele alcance um crescimento harmônico, é necessário integrar a vida emocional e intelectual à outras dimensões, como a formação profissional, a consciência ética e a arte da convivência, convidando, assim, o estudante a refletir sobre o sentido de sua própria existência, bem como de seu próprio projeto de vida.

Assista: A era das emoções

Mas como propiciar a formação nos valores?

Em primeiro lugar devemos entender que, como professores, gestores ou funcionários de uma instituição, somos as referências máximas para os alunos dentro do ambiente escolar e que, portanto, a partir do nosso exemplo da vivência nos valores, os adolescentes poderão se influenciar positivamente por nossas palavras e por nossas ações.

Como disse Albert Schweitzer, médico, professor e filósofo alemão, ganhador do prêmio Nobel da Paz de 1952: “O exemplo não é apenas a melhor maneira de ensinar, é a única”.

Para além do exemplo individual de cada professor, gestor ou funcionário, algumas atividades pedagógicas centradas no aluno tais como metodologias ativas, trabalhos em grupo, cine-debates e fóruns de discussão podem propiciar circunstâncias ideais para a formação nos valores como trabalho em equipe, respeito e empatia: saber se colocar sem ofender e saber acolher a opinião do outro.

Leveza na aprendizagem

Também a organização de eventos esportivos, artísticos e culturais dentro da instituição se apresenta como um caminho possível e saudável para a formação em valores como trabalho em equipe, superação, perseverança e disciplina.  

Por fim, fomentar o trabalho voluntário no ambiente escolar, de modo a se refletir sobre a importância da solidariedade, do serviço gratuito e da pureza de intenção é, sem dúvida, um instrumento poderoso e eficaz na formação dos valores de qualquer pessoa e, em especial, dos adolescentes que irão vivenciar a alegria da entrega e do serviço ao próximo e que se colocarão como agentes transformadores da sociedade.

*André Barbeiro é professor no Colégio Visconde de Porto Seguro, doutor em matemática pela USP e pós-doutorando em educação pelo programa de pós-graduação em educação: currículo da PUC – SP.

Leia também:

O papel da educação no tempo da incerteza

Autor

Redação revista Educação


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