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Brasil Educação

Educadores temem que polêmica sobre termos na Base Curricular impeça sua aprovação

Cerca de 200 emendas já foram apresentadas ao texto, parte delas relacionadas à questão de gênero
BNCC irá nortear os currículos das escolas de todo país Foto: shutterstock.com/PanyaStudio
BNCC irá nortear os currículos das escolas de todo país Foto: shutterstock.com/PanyaStudio

RIO e BRASÍLIA- As alterações no texto da última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino infantil e fundamental feitas pelo Ministério da Educação (MEC), que suprimiu trechos sobre questões de gênero e sexualidade, ainda dividem o Conselho Nacional de Educação (CNE), que analisa o documento antes de chancelar a última versão para a homologação pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, membros do conselho reunidos em Brasília desde segunda-feira já elaboraram cerca de 200 emendas modificando o texto enviado pelo MEC. O impasse preocupa educadores, que temem que a discussão sobre detalhes do texto ofusque a qualidade do documento como um todo e trave a aprovação da Base, que, segundo eles, precisa ocorrer ainda este ano. O MEC também tem pressa.

Leia mais: Veja as principais mudanças feitas pelo MEC no texto

Leia mais: Congresso quer definir Base Curricular

— A ideia de discutir mais o texto vai depender das pressões que os conselheiros receberão a partir de polêmicas externas. Há uma série de políticas que dependem da aprovação agora, como o próximo edital do livro didático. Os secretários de Educação estão aguardando isso. Claro que queremos uma base de qualidade, mas não essa que a qualidade é medida a partir das questões polêmicas — diz a presidente-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

Entre a emendas em discussão na comissão do CNE dedicada à Base, há propostas para desconsiderar as mudanças sugeridas pelo MEC e também para tratar o tema de forma mais específica. No entanto, os conselheiros ainda não haviam chegado a um consenso até o fim da tarde de ontem, na véspera da votação do texto no pleno do CNE, prevista para hoje. O documento servirá para nortear os currículos de todas as escolas do país. Hoje, instituições públicas e privadas seguem apenas diretrizes do CNE.

Com os sinais de que o MEC cedeu ao lobby da bancada religiosa do Congresso e de grupos contrários ao que chamam de “ideologia de gênero” — embora o termo nunca tenha constado da BNCC —, aumentou a pressão sobre os conselheiros. As caixas de e-mails deles foram entupidas de mensagens padronizadas de várias vertentes ideológicas. Alguma entidades já confirmaram presença na votação de hoje da BNCC e o esquema de segurança será reforçado.

Cleuza Repulho, membro do Movimento Pela Base Nacional Comum, critica as alterações feitas pelo MEC, mas concorda que a discussão sobre as palavras empregadas não é a mais importante. Ela está entre os educadores que alertam para o perigo de a demora na aprovação da Base dar munição a setores do Congresso que já tentam se inserir no processo.

Base Nacional Comum Curricular
O que é?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que define o que todos os alunos devem aprender na educação básica. O texto servirá como referência para o currículo das escolas.
Como é hoje?
Orientações
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC.
BNCC
Escolas
Cronologia
Junho de 2015:
O Ministério da Educação (MEC) anuncia a construção de uma Base Nacional Comum Curricular que servirá para nortear os currículos das escolas de todo país.
Setembro de 2015:
Especialistas de 35 universidades elaboram uma versão preliminar do documento. No mesmo mês foi aberta uma consulta pública sobre o texto, que foi encerrada em março de 2016, com cerca de 12 milhões de contribuições.
Maio de 2016:
É divulgada a 2ª versão da Base e contribuições são incorporadas ao texto. Também foram ajustadas, principalmente, História e Português
Junho de 2016:
De junho a agosto, o MEC realiza seminários estaduais para discutir a segunda versão do texto.
Abril de 2017:
O MEC divulga o que era para ser a 3ª e última versão da BNCC da educação infantil e do ensino fundamental e encaminha o texto para o CNE. A Base para o Ensino Médio, que também deveria ter sido divulgada, não ficou pronta. Esse documento só deverá ser divulgado em 2018.
Dezembro de 2017
CNE aprova o texto da Base Nacional Comum. O pleno do Conselho é composto por 24 membros. O texto da BNCC foi aprovado com 19 votos a favor e 3 contra. O presidente do CNE, Eduardo Deschamps, fez um voto simbólico e um dos conselheiros estava ausente por motivos de saúde.
Principais pontos
A
B
C
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC
Antecipação da alfabetização:
Os alunos do ensino fundamental devem ser alfabetizados até o final do 2º ano e o aprofundamento desse processo deve ser feito ao longo dos anos seguintes. Essa definição contraria o estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE), que coloca a alfabetização até o fim do 3º ano. A Base explica melhor o que espera da alfabetização e reorganiza os eixos do processo como “Oralidade”, “Análise linguística/ Semiótica", “Leitura/escuta", “Produção de textos”. A progressão da educação infantil para o ensino fundamental também fica mais clara e o texto também explicita quais elementos da educação infantil servem como base para o letramento.
Orientação sexual e gênero:
O CNE acatou a sugestão do MEC excluiu da BNCC os termos relacionados à questão de gênero e orientação sexual. O Conselho emitirá orientações específicas sobre o tema posteriormente. No parecer, a justificativa é que “a temática ‘gênero’ foi objeto de muitas controvérsias durante os debates públicos da BNCC. Neste sentido, entende-se que o CNE deve, em resposta às demandas sociais, aprofundar os debates".
Educação Infantil:
A etapa que até pouco tempo não estava incluída na educação básica ganha contornos claros pela primeira vez. O texto referente a ela tenta valorizar aspectos como a brincadeira e a criança como protagonista de seu desenvolvimento. Também haverá maior clareza em relação à progressão de aprendizagem e o que deve ser desenvolvido em cada faixa etária.
Ensino religioso:
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação brasileira determina que a oferta do ensino religioso é obrigatória, mas a matrícula facultativa. A Base traz as diretrizes para o ensino desse tema nas escolas, adotando uma abordagem inter-religiosa, norteada por princípios éticos. O CNE determina que o órgão vai deliberar se o ensino religioso terá tratamento como área do conhecimento ou como componente curricular da área de Ciências Humanas, no ensino fundamental.
Tecnologia:
Após a reivindicação de educadores a Base incluiu habilidades relacionadas às novas tecnologias. Na área de Língua Portuguesa, por exemplo, os alunos devem aprender a analisar textos que circulam nas redes sociais, blogs, entre outros. E trabalhar diferentes tipos de linguagens como gifs, memes, fanfics, vídeos, playlists. Eles também devem aprender a identificar informações confiáveis e notícias falsas.
Próximos passos
Agora, a BNCC é encaminhada para homologação do ministro da Educação, Mendonça Filho. O Conselho estabelece que o documento deve ser colocado em prática até no máximo o início do ano letivo de 2020. Cinco anos após esse prazo, o documento deve passar por uma revisão. Já as avaliações e exames em larga escala, como o Enem, terão um ano para se alinhar à BNCC.
Base Nacional Comum
Curricular
O que é?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que define o que todos os alunos devem aprender na educação básica. O texto servirá como referência para o currículo das escolas.
Como é hoje?
Orientações
BNCC
Escolas
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC.
Cronologia
Junho de 2015:
O Ministério da Educação (MEC) anuncia a construção de uma Base Nacional Comum Curricular que servirá para nortear os currículos das escolas de todo país.
Setembro de 2015:
Especialistas de 35 universidades elaboram uma versão preliminar do documento. No mesmo mês foi aberta uma consulta pública sobre o texto, que foi encerrada em março de 2016, com cerca de 12 milhões de contribuições.
Maio de 2016:
É divulgada a 2ª versão da Base e contribuições são incorporadas ao texto. Também foram ajustadas, principalmente, História e Português
Junho de 2016:
De junho a agosto, o MEC realiza seminários estaduais para discutir a segunda versão do texto.
Abril de 2017:
O MEC divulga o que era para ser a 3ª e última versão da BNCC da educação infantil e do ensino fundamental e encaminha o texto para o CNE. A Base para o Ensino Médio, que também deveria ter sido divulgada, não ficou pronta. Esse documento só deverá ser divulgado em 2018.
Dezembro de 2017
CNE aprova o texto da Base Nacional Comum. O pleno do Conselho é composto por 24 membros. O texto da BNCC foi aprovado com 19 votos a favor e 3 contra. O presidente do CNE, Eduardo Deschamps, fez um voto simbólico e um dos conselheiros estava ausente por motivos de saúde.
Principais pontos
As escolas constroem seus currículos de acordo com diretrizes do Conselho Nacional de Educação (CNE), de conselhos estaduais e municipais. Agora, o currículo deverá seguir orientações da BNCC
A
B
C
Antecipação da alfabetização:
Os alunos do ensino fundamental devem ser alfabetizados até o final do 2º ano e o aprofundamento desse processo deve ser feito ao longo dos anos seguintes. Essa definição contraria o estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE), que coloca a alfabetização até o fim do 3º ano. A Base explica melhor o que espera da alfabetização e reorganiza os eixos do processo como “Oralidade”, “Análise linguística/ Semiótica", “Leitura/escuta", “Produção de textos”. A progressão da educação infantil para o ensino fundamental também fica mais clara e o texto também explicita quais elementos da educação infantil servem como base para o letramento.
Orientação sexual e gênero:
O CNE acatou a sugestão do MEC excluiu da BNCC os termos relacionados à questão de gênero e orientação sexual. O Conselho emitirá orientações específicas sobre o tema posteriormente. No parecer, a justificativa é que “a temática ‘gênero’ foi objeto de muitas controvérsias durante os debates públicos da BNCC. Neste sentido, entende-se que o CNE deve, em resposta às demandas sociais, aprofundar os debates".
Educação Infantil:
A etapa que até pouco tempo não estava incluída na educação básica ganha contornos claros pela primeira vez. O texto referente a ela tenta valorizar aspectos como a brincadeira e a criança como protagonista de seu desenvolvimento. Também haverá maior clareza em relação à progressão de aprendizagem e o que deve ser desenvolvido em cada faixa etária.
Ensino religioso:
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação brasileira determina que a oferta do ensino religioso é obrigatória, mas a matrícula facultativa. A Base traz as diretrizes para o ensino desse tema nas escolas, adotando uma abordagem inter-religiosa, norteada por princípios éticos. O CNE determina que o órgão vai deliberar se o ensino religioso terá tratamento como área do conhecimento ou como componente curricular da área de Ciências Humanas, no ensino fundamental.
Tecnologia:
Após a reivindicação de educadores a Base incluiu habilidades relacionadas às novas tecnologias. Na área de Língua Portuguesa, por exemplo, os alunos devem aprender a analisar textos que circulam nas redes sociais, blogs, entre outros. E trabalhar diferentes tipos de linguagens como gifs, memes, fanfics, vídeos, playlists. Eles também devem aprender a identificar informações confiáveis e notícias falsas.
Próximos passos
Agora, a BNCC é encaminhada para homologação do ministro da Educação, Mendonça Filho. O Conselho estabelece que o documento deve ser colocado em prática até no máximo o início do ano letivo de 2020. Cinco anos após esse prazo, o documento deve passar por uma revisão. Já as avaliações e exames em larga escala, como o Enem, terão um ano para se alinhar à BNCC.

— Na sala de aula, os professores terão autonomia para colocar essas questões em prática. Temo que essa discussão trave a Base. Essa guerra sobre os termos é uma guerra externa à escola que está influenciando a discussão. Apesar das mudanças, a Base garante o respeito à diversidade. É muito mais temeroso não aprovar o texto e o Congresso chamar essa discussão para si, e arrumar uma maneira de incluir na Base uma proibição de abordar essas questões em sala de aula.

Para Denis Mizne, diretor da Fundação Lemann, o debate de uma questão importante corre o risco de servir à promoção da agenda de movimentos fora do universo da educação.

Conselho Nacional de Educação
O que é?
O Conselho nacional de Educação é um órgão de Estado que tem atribuições normativas e serve para assessorar o Ministério da Educação no desenvolvimento de políticas para a área.O CNE tem a prerrogativa de aformular e avaliar a política nacional de educação.
Estrutura
O CNE é composto por uma Câmara de Educação Básica e uma Câmara de Educação Superior, cada uma com 12 membros, que compõem o pleno do Conselho.
CNE
Câmara de
Educação Básica
Câmara de
Educação Superior
12 membros
12 membros
Estrutura
A escolha e nomeação dos conselheiros é feita pelo Presidente da República,mas, pelo menos a metade dos indicados de cada Câmara deve vir de uma consulta a entidades da sociedade civil, relacionadas às áreas de atuação desses colegiados.
Indicado
Conselho Nacional de
Educação
O que é?
O Conselho nacional de Educação é um órgão de Estado que tem atribuições normativas e serve para assessorar o Ministério da Educação no desenvolvimento de políticas para a área.O CNE tem a prerrogativa de aformular e avaliar a política nacional de educação.
Estrutura
O CNE é composto por uma Câmara de Educação Básica e uma Câmara de Educação Superior, cada uma com 12 membros, que compõem o pleno do Conselho.
CNE
Câmara de
Educação Básica
Câmara de
Educação Superior
12 membros
de cada Câmara
Estrutura
A escolha e nomeação dos conselheiros é feita pelo Presidente da República,mas, pelo menos a metade dos indicados de cada Câmara deve vir de uma consulta a entidades da sociedade civil, relacionadas às áreas de atuação desses colegiados.
Indicado

— A BNCC tem mais de mil objetivos de aprendizagem sobre muitas áreas como alfabetização, educação infantil, mudanças na matemática, mas estamos capturados por um debate movido por movimentos conservadores sobre o uso da palavra “gênero. — Esse é o momento de consolidar o documento, que é maduro. Quanto mais demorar sua aprovação, pior para a implementação nas redes

Embora haja projetos de lei no Congresso tentando fazer com que a definição da BNCC fique a cargo do Legislativo, Mizne observa que o que era pertinente ao campo político já foi debatido em 2014 , durante a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), que previa a construção da Base com definição do CNE. Não é o que pensam entidades como a associação Escola Sem Partido, que apoia a ideia de um aval do Congresso.

— Entendo que é um assunto absolutamente técnico que deve ser tratado pelo CNE. Mas, se o Congresso alterar a lei, cabe questionamentos quanto à constitucionalidade — afirmou Eduardo Deschamps, presidente do CNE.

A tramitação do documento também é motivo de divisão. Entidades ligadas à área enviaram um ofício ao CNE pedindo a suspensão da votação e alegando que suas contribuições em audiências públicas não foram consideradas. Essas instituições pedem que haja mais debate sobre o texto.

A votação no CNE é imprescindível para que a Base seja submetida à homologação do ministro Mendonça Filho. Caso o conselho rejeite o documento, o ministro pode pedir o reexame da matéria. O MEC também tem o poder de vetar parcialmente ou totalmente o texto aprovado pelo CNE. Em ambos os casos, a pasta pode pedir que o órgão reavalie o conteúdo, mas, também pode optar por encerrar o caso e, dessa forma, a Base não seria definida. O MEC tem pressa em aprovar o texto ainda este ano. A ideia é começar 2018 já com as novas diretrizes, para implementação em 2019, e iniciar o mesmo processo para a Base do ensino médio.