Educação socioemocional ganha reforço nas escolas dois anos e meio após início da pandemia
Visita às famílias, conversas com os alunos e atividades de arte e esporte fora de sala de aula são alguns exemplos
Por Priscilla Aguiar Litwak — Rio de Janeiro
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"Foi bem difícil e atípico. Eu e vários colegas ficamos muito ansiosos, aflitos, com o foco e a vontade de estudar bastante abalados”. A reflexão sobre o retorno às aulas presenciais, este ano, foi feita por Rafael Portela, aluno do 2º ano do ensino médio da Escola Parque, na Gávea.
A área socioemocional na infância e na adolescência já era vista como tendência em educação antes mesmo da pandemia, de acordo com o professor Fernando Gabas, fundador da Academia Soul, empresa especializada em soluções para educação socioemocional individual e nas escolas. Para o educador, com o distanciamento social, os jovens se mostraram extremamente vulneráveis aos efeitos do isolamento, e o resultado foi imediatamente sentido na volta às aulas presenciais e permanece até agora, dois anos e meio após o início da quarentena: estudantes mais ansiosos, com dificuldade de socialização e, em muitos casos, mais agressivos. Para auxiliar os alunos e suas famílias, a instituição e escolas da Zona Sul têm investido em mais projetos que priorizam a saúde mental.
O estudante Rafael Portela conta que a Escola Parque da Gávea tem focado mais em atividades dinâmicas em grupo e menos em avaliações individuais.
— Isso tem sido muito importante para que consigamos perceber nossos déficits e aproveitar melhor as oportunidades de aprendizagem — avalia o adolescente.
De acordo com a diretora da Escola Parque da Gávea, Maria Cristina Carvalho, a unidade de ensino apostou em reuniões de pais e em rodas de conversas com os alunos.
— Já tínhamos projetos que trabalham a área socioemocional, mas foi necessário planejar outros e novas ações para que os alunos se sentissem pertencentes ao ambiente escolar, como trabalhar as emoções a partir das questões trazidas por eles e também por meio dos livros — relata.
A Academia Soul lançou durante a pandemia o “Soul mind”, programa estruturado com base no treino de atenção, foco e concentração, que trabalha a neuroplasticidade cerebral por meio do treino diário. Mãe da Vitória, de 11 anos, e de Eduardo, de 16 anos, a professora e moradora de Ipanema Priscilla Obrecht conta que ter conhecido a Academia Soul durante o período crítico da pandemia foi um divisor de águas para ela enfrentar todos os problemas de ansiedade e depressão gerados na época.
— Estar bem trouxe toda a estabilidade para a minha família, em especial para meus filhos na escola. A principal habilidade é o domínio da mente, conhecer a si mesmo e respeitar o próximo. Quem está bem emocionalmente consegue aprender tudo sem dificuldades. A pandemia veio para mostrar que é hora de cuidar das emoções — pondera Priscilla.
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No Colégio Adventista de Botafogo, estreitar a relação entre a escola e as famílias também tem resultado em alunos mais acolhidos e menos ansiosos. O Projeto Visitação já existia antes da pandemia, foi interrompido devido ao isolamento social e retomado com ainda mais afinco no mês passado. Consiste em uma vez por ano o professor visitar a casa de cada aluno para entender o seu contexto familiar e então poder lidar melhor com suas necessidades.
— Nós nos sentamos com toda a família, falamos sobre amor, emoções, espiritualidade. Brincamos com as crianças com os brinquedos delas, e o resultado tem sido perceptível nas aulas. Passamos a ter um olhar mais individualizado para as crianças, que se sentem mais seguras — pontua Suzana Chagas, professora da educação infantil e fundamental do colégio.
Uma das famílias que recebeu Suzana em casa foi a de Mariana Silva, de 8 anos, aluna do 2° ano fundamental do Colégio Adventista de Botafogo. A mãe de Mariana, a nutricionista Andréa Silva, relata que a filha contou as horas para receber a professora e que ficou radiante após a visita. Andréa contou ainda que passou por um momento delicado em sua saúde, no qual o apoio do colégio foi fundamental para o equilíbrio emocional da menina.
— Tive um câncer e precisei usar cateter e por isso não podia abraçar a minha filha e ela logicamente sentia essa distância física e toda a equipe do Colégio Adventista nos acolheu de uma forma maravilhosa, o que evitou com que ela tivesse qualquer prejuízo emocional e no desempenho escolar.
As escolas Eleva, que além da unidade de Botafogo em 2023 também funcionará na Urca, estão apostando em mais atividades fora da sala de aula para promover interação e socialização entre os estudantes. Mais tempo para esportes e oferta de novas modalidades como eletiva obrigatória (dança e ioga, por exemplo) com profissionais especializados e não professor de educação física, serão algumas das novidades do currículo escolar do próximo ano.
— As artes performáticas ajudam a dar lugar de conforto para crianças e habilidades para adolescentes se expressarem em público, sendo também uma importante ferramenta para a socialização e o extravasamento de sentimentos — destaca Maíra Timbó, head de Educação da Inspired Education no Brasil, à frente das escolas Eleva.
Já nos colégios da rede estadual de ensino foi criado este ano o Projeto Conexão Gentileza. É um conjunto de ações pedagógicas que trabalham o afeto, o respeito e a empatia e fortalecem os espaços de escuta e fala, por meio de paródias, encenações, ilustrações, poesias e composições musicais, entre outras atividades.
A subsecretária de Gestão de Ensino da rede estadual, Ana Valeria Dantas, conta que, após o isolamento social, foram observadas ocorrências acima do que era costumeiro em várias unidades escolares.
— O melhor é perceber, desde o início da implementação, a diminuição dos relatos de violências e/ou de transtornos de saúde mental, sobretudo depressão e ansiedade — comenta.
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