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Débora Garofalo

Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio que a colocou entre os 10 melhores professores do mundo

Publicado em 12/04/2023

Educação para a promoção da cultura de paz

Esse tema é emergencial! A escola é uma forma de resistência, de sobrevivência para a promoção de uma cultura de paz

Cultura de paz_2 Foto: shutterstock

Esse tema não é apenas urgente, é emergencial! Não podemos esquecer dos estudantes, professores e profissionais da educação que nos deixaram, vítimas da violência — e a escola é uma forma de resistência, de sobrevivência para a promoção da paz. 


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Escrevo esse texto triste e impactada com o que estamos vivenciando. E são pelas pessoas que nos deixaram de maneira tão precoce, na crença de um mundo melhor e que a educação é o caminho para transformar a sociedade, que trago a urgência do tema. Além de professora da rede pública de ensino e profunda conhecedora do chão de escola (passei por várias situações de violência, muitas vezes, trazidas de maneira externa para o ambiente interno), sei que precisamos agir. E o momento é o agora.

Não à violência. Sim à paz nas escolas

Quando uma escola sofre uma violência como as recentes, toda uma rede sofre junto e, por isso, a necessidade de abordar questões latentes como a saúde mental e emocional de nossos professores, estudantes e comunidade escolar. Precisamos educar para a cultura de paz, e só conseguiremos resultados positivos se ousarmos e extrapolarmos nossas salas de aulas e envolvermos a comunidade e a sociedade nesse tema. 

Esse não é assunto para poucas aulas e sim para muitas, é complexo e deve ser considerado central, envolvendo acolhimento, escuta ativa, equipe multidisciplinar de atuação que vai além da gestão e professores, habilidades e competências socioemocionais e debates com temas transversais. 

A organização das Nações Unidas (ONU) trouxe o tema à tona em 1945, quando a comunidade internacional saía da Segunda Guerra Mundial e existia a necessidade de falar dos princípios da não violência, tendo uma base para resolver conflitos por meio do diálogo. Mais que um projeto geopolítico, entendeu-se que a chave de sucesso se dava através da educação e por isso nasceu a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com objetivo de fomentar em futuras gerações competências necessárias à não violência, cujos pilares estão em sua essência:

1 – Respeitar a vida;

2 – Rejeitar a violência;

3 – Ser generoso;

4 – Ouvir para compreender;

5 – Preservar o planeta;

6- Redescobrir a solidariedade. 


Leia: Escola, lugar de proteção


Recentemente endossando os pilares da Unesco, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), trouxeram na ODS 16, “promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável”. 

E são sobre esses pilares que quero explanar, elucidando que a cultura de paz não presume a ausência de conflitos, mas a prevenção e resolução não violenta, em que aponta caminhos que envolvem a melhora do clima escolar por meio da construção de um plano de convivência que deve incluir projetos e ações de combate ao bullying e cyberbullying e grupos treinados para gerenciar conflitos internos, sendo um processo constante e cotidiano, que demanda esforços e humanização para a sua promoção. 

Revertendo o jogo

Existem diversos caminhos para reverter a violência. O Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), coordenado pela professora Telma Vinha, da Unicamp, elenca três pilares essenciais para um projeto que pretenda mudar a realidade escolar: 

  1. Formação de todos os atores da unidade escolar sobre problemas de convivência e possíveis intervenções com o desenvolvimento de competências que envolvam empatia, escuta ativa e comunicação assertiva;
  2. Inserção de regras e valores sobre questões de convivência implementadas pelo colegiados e debatidas em sala de aula;
  3. Convivência escolar, como a abertura de canais democráticos para a discussão de valores e regras e procedimentos de ações de combate à violência que perpassam mediação de conflitos e formação de estudantes.

Para saber mais, acesse: https://www.gepem.org/.


Leia: 7 sugestões para o enfrentamento do bullying e cyberbullying na escola


Essas são concepções que recaem sobre uma visão holística da educação e do papel privilegiado que temos na vida dos nossos estudantes, alterando concepções e educando com o olhar atento às necessidades reais em que o papel da escola é facilitar que o processo ocorra. 

Assim, é possível planejar algumas atividades para trabalhar a cultura de paz nas unidades escolares:

Planejar ações o ano todo: é preciso que a cultura de paz seja feita de maneira continuada com ações de intervenções pedagógicas que envolvam toda a comunidade escolar e que abordem temas geradores, como bullying, mediação de conflito, estudos de casos, entre outros;

Práticas solidárias: atividades sociais, palestras com outros órgãos são exemplos de atitudes que podem ser realizadas para ensinar os estudantes sobre solidariedade e empatia ao próximo, além de direitos e deveres;

Atividades em grupos: fortalecer os colegiados existentes é uma boa maneira de realizar atividades de pertencimento. Elas podem ser atividades esportivas e/ou culturais alinhadas a ações pedagógicas de combate à violência.

Temos que olhar as experiências exitosas para transformar a realidade e atuar na construção da paz a fim de mudarmos a dura realidade que temos vivenciado.

Escute nosso episódio de podcast:


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