O país tem que enfrentar as desigualdades no ensino para avançar. A educação excludente faz o Brasil desperdiçar talentos. O assunto foi tema do debate on-line “Educação para diversidade - A luta contra desigualdades”, promovido pelo GLOBO. Participaram o CEO da ONG Gerando Falcões, Edu Lyra, e os colunistas Antônio Gois, Luana Génot e Bernardo Mello Franco. O debate faz parte do ciclo de encontros em comemoração aos 95 anos do GLOBO. A íntegra pode ser assistida aqui.
Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que, na rede privada, 83,3% dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental tinham aprendizado adequado. Na rede pública, eram apenas 56%. No final do Fundamental II, o índice era de 70% na escola privada e de 33% na pública. Os dois lados precisam melhorar. Mas, principalmente, a diferença precisa cair.
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Lyra defendeu o combate à desigualdade digital. Nessa pandemia, a falta de equipamentos e boas conexões excluiu parte das crianças e jovens do processo educacional, que não tinham como acompanhar as aulas remotas. Lyra é um empreendedor social de grandes proporções. Nos últimos meses, ele conseguiu distribuir alimentos para 365 mil pessoas, mobilizando doadores e empresas em dez países. No início, Lyra tinha tudo contra si. Negro, jovem, nascido em uma favela, teve o pai preso como assaltante de banco. Ele sempre se refere ao pai como “ex-bandido", alguém que se recuperou.
Luana estudou na rede pública e entrou na Universidade pelas cotas, é um fruto da educação brasileira, um exemplo da necessidade de incluir. Luana também criou uma ONG. Sua Organização estimula que empresas façam o recrutamento ativo, que escolham deliberadamente jovens negros, moradores de favela, que normalmente não ocupariam as vagas.
Gois, colunista do GLOBO, tem todos os indicadores sociais na cabeça. Ele explica que o Brasil avança muito lentamente na Educação. O país é diferente daquele de antes, mas é insuficiente.
Mello Franco destacou que o Ministério da Educação está completamente à margem do debate sobre uma educação transformadora. O tema deveria ser central para o país, que vai se fortalecer com o afloramento dos talentos. Mas a prioridade no Ministério é uma suposta guerra cultural. Nesse um ano e meio de mandato, a pasta chegou ao seu quarto titular. Até aqui, Milton Ribeiro é uma incógnita, mas foi comemorada a fala dele de que o estado é laico. Isso é um pressuposto constitucional e histórico, há mais de 500 anos essa separação ocorre. A declaração dele ser vista como avanço mostra o quanto o Brasil regrediu nessa conversa.
Há muitas barreiras a serem combatidas. Um exemplo é a criação de grupos de Meninas nas Exatas. Às mulheres sempre é dito que as Ciências Exatas são coisa de homem. Elas estão se reunindo para estimular as outras a não acreditarem nessa conversa. O racismo estrutural também é muito presente. Ele está em tudo, inclusive na maneira como se ensina. O protagonismo nas aulas de História, por exemplo, é sempre de homens brancos.
A Constituição garante a igualdade perante a Lei e a Educação como direito social. São princípios que a República deve perseguir. Promover o bem de todos, sem preconceitos, é objetivo fundamental do Brasil. A Educação tem que ser assim, para derrubar as barreiras do racismo e da qualidade no ensino público. A educação para a diversidade vai fortalecer a economia e a democracia.
Na segunda-feira, o tema havia sido a política na democracia. Participaram o ministro Luiz Roberto Barroso, o deputado Rodrigo Maia e os colunistas Ana Paula Lisboa, Guga Chacra e José Eduardo Agualusa. O recado de Ana Paula durante o debate foi que a democracia, para ser forte no Brasil, precisa da inclusão dos negros. E esse caminho é o da Educação.