Educação midiática: o que cabe à escola e como incentivar as famílias - PORVIR
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Educação midiática: o que cabe à escola e como incentivar as famílias

Paolo Celot, especialista italiano convidado para o Encontro Internacional de Educação Midiática, em São Paulo, defende o papel fundamental dos professores e de projetos criados na escola

Parceria com Educamídia

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 17 de maio de 2023

“Não é mais uma vantagem ser midiaticamente educado; pelo contrário, é uma desvantagem debilitante não ser.” A frase do consultor italiano em alfabetização midiática Paolo Celot bem define o papel da educação midiática na atualidade. Secretário-geral da EAVI (European Association for Viewers Interests, ou Associação Europeia para os Interesses dos Espectadores, em tradução livre), Paolo integra o grupo responsável pela construção de políticas relacionadas à educação midiática na Comissão Europeia. Ele é um dos convidados do Encontro Internacional de Educação Midiática, que será realizado em São Paulo (SP), no dia 25 de maio.

Organizado pela embaixada e consulados dos Estados Unidos no Brasil, ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e Instituto Palavra Aberta, o evento acontece presencialmente e terá transmissão online, com inscrições gratuitas até o dia 23, neste link. Ao lado de Paolo, participam João Brant (secretário de direitos digitais e educação midiática do governo federal) e Sofia Peters (do projeto colombiano Movilizatorio), entre outros convidados. 

Nesta entrevista ao Porvir, Paolo aborda a educação midiática como um direito essencial. O especialista fala sobre a importância das políticas públicas nessa área e sugere caminhos para que professores e escolas possam implementar programas de maneira efetiva. “Não se aprende a jogar futebol sem ter acesso à bola. Da mesma forma, no campo da alfabetização midiática, o acesso a várias formas de mídia é um prerrequisito para o desenvolvimento de habilidades e de pensamento crítico”, enfatiza. Confira:

Paolo Celot
Reprodução O especialista em educação midiática Paolo Celot

Porvir – Como um programa de educação midiática pode ser bem implementado em um contexto como o do Brasil, que possui uma desigualdade significativa no acesso das escolas à tecnologia?

Paolo Celot – Não se pode aprender a jogar futebol sem ter acesso à bola. Da mesma forma, no campo da alfabetização midiática, o acesso a várias formas de mídia é um prerrequisito para o desenvolvimento de habilidades de pensamento crítico. É importante ressaltar que a mídia abrange mais do que apenas plataformas digitais, e certas atividades podem ser realizadas sem acesso à internet. Por exemplo, organizar discussões e analisar mídia impressa podem estimular a criatividade e facilitar a aprendizagem nessa área.

Porvir – À medida que a mídia tradicional encolhe diante das redes sociais, como você avalia o desafio de esclarecer as distinções entre os vários tipos de conteúdo para crianças? 

Paolo Celot – Uma em cada três usuários da internet é uma criança. O mundo digital oferece a elas muitas possibilidades de aprender, criar e se expressar de maneiras novas. No entanto, a internet e as redes sociais são projetadas tendo em mente o uso por adultos. Não é raro ver que a inocência das crianças é explorada para interesses comerciais e que dados são coletados sem o conhecimento ou permissão delas.

Porvir – As fronteiras entre informação, entretenimento e opinião estão ainda mais difusas. Você concorda?

Paolo Celot – De fato. Muitas notícias na mídia utilizam abordagens sensacionalistas e manchetes dramáticas, o que torna desafiador se manter bem-informado.

Porvir – Como transmitir efetivamente a urgência da educação midiática quando a sociedade permanece inconsciente? Com base em sua experiência, quais eventos se destacam como impulsionadores da opinião pública em diferentes nações europeias ou em escala global?

Paolo Celot – Parece que a opinião pública informada, em oposição à opinião em massa, está diminuindo sua influência em nossas sociedades. Vários fatores contribuem para essa tendência, mas é importante ressaltar que esse processo não é irreversível. A educação desempenha um papel fundamental nesse processo, juntamente com medidas políticas, a responsabilidade do setor de mídia e as ações que famílias e indivíduos podem tomar para aprimorar sua compreensão e participação na sociedade. Se os governos alocarem recursos relevantes para apoiar medidas de educação midiática, isso é um sinal de boas intenções genuínas.

Porvir – Como você avalia a eficácia das políticas públicas relacionadas à educação midiática? Quais disposições antes ausentes agora são consideradas essenciais? Quais pontos-chave estão faltando devido a pressões sociais? 

Paolo Celot – Para avaliar a eficácia, é necessário comparar as mudanças de comportamento antes e depois da implementação da política. Esse processo de avaliação só pode ser conduzido em um longo prazo ou em uma pequena escala. De maneira geral, nos últimos anos, tenho observado um aumento da conscientização em relação a várias questões cruciais, como a disseminação de desinformação. A conscientização é um passo inicial importante para lidar com esses problemas. No entanto, com o avanço da tecnologia, encontrar respostas está se tornando cada vez mais desafiador.

Porvir – Quais são os pontos essenciais a serem considerados por uma rede escolar ou diretor ao iniciar um programa de educação midiática? Quais conselhos você pode dar para garantir uma implementação bem-sucedida?

Paolo Celot – A clareza em relação ao objetivo a ser alcançado é ponto-chave, e isso é apoiado por uma pedagogia eficaz e bons professores. Esses elementos são ativos essenciais no processo educacional. Existem recursos e práticas abundantes disponíveis que podem servir como inspiração. No entanto, é lamentável que alguns desses recursos estejam disponíveis apenas em inglês.

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Porvir – Quais habilidades fundamentais os educadores precisam ter para navegar pelo caótico cenário de informações da internet e orientar seus alunos de forma eficaz? Mais especificamente, como os educadores que iniciaram suas carreiras antes da transição para a internet podem se tornar proficientes em educação midiática?

Paolo Celot – Eu mesmo não sou professor, mas acredito que a qualidade de um professor não é determinada pela disciplina que ensina, mas sim pelas habilidades essenciais que definem um bom professor. É uma qualidade rara, quantos bons professores encontramos durante nossos estudos? No que diz respeito à nova tecnologia, acredito que é importante que os professores sejam abertos e estejam dispostos a explorar a tecnologia ao lado de seus alunos. Nesse processo de aprendizado colaborativo, pode haver uma mudança de simplesmente “ensinar” para “facilitar” e ativamente “aprender junto”.

Porvir – A mídia influencia profundamente a vida das crianças. Como governos podem apoiar as famílias na promoção de relacionamentos saudáveis com a mídia para seus filhos desde tenra idade? Quais iniciativas de políticas públicas você poderia destacar?

Paolo Celot – Trata-se de uma questão complexa, com muitos fatores envolvidos. Certamente, os governos e a indústria podem oferecer incentivos fortes às famílias. Isso inclui políticas melhores, serviços online melhores e mais seguros, apoio à sociedade civil e aos serviços públicos, entre outros. O objetivo deve ser guiar as crianças mais jovens a usar a tecnologia de forma segura, monitorar suas atividades online, estabelecer limites e ensiná-las a serem responsáveis de maneira positiva e benéfica. Isso também inclui educar as próprias famílias sobre a tecnologia digital e fornecer a elas as ferramentas e recursos necessários para apoiar as crianças quando enfrentam riscos, estimular sua criatividade e aprendizado, e se divertirem juntos. Na Europa, estamos começando a ter novas políticas para proteger as crianças online. Acredito que, como as crianças são crianças independentemente do local onde nascem, as grandes empresas de tecnologia devem aplicar as mesmas regras onde quer que estejam atuando, no Brasil e em outros lugares.

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competências para o século 21, educação midiática, ensino fundamental, ensino médio

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