Educação inovadora para tecnologia demanda foco em equidade e mudanças na formação - PORVIR
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Inovações em Educação

Educação inovadora para tecnologia demanda foco em equidade e mudanças na formação

No primeiro LAC ICT Talent Summit, organizado por Huawei, Unesco e EFE, representantes de governos e sociedade civil debatem maneiras para acelerar a entrada e a transição de profissionais na área de tecnologia

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 28 de novembro de 2022

A educação na América Latina precisa encontrar maneiras inovadoras para formar meninos e meninas para áreas de tecnologia. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, a região já acumulava um déficit de profissionais em relação a países como Estados Unidos, China e Índia, mas o impulso da automatização ao longo dos últimos dois anos tornou esse cenário ainda mais evidente. Mudá-lo passa por investimento para retomada de aprendizagem, parcerias entre os setores público e privado, continuidade de políticas públicas e melhoria na de formação de professores, gestores escolares e de secretarias de educação. 

Esse foi o tom dos painéis do LAC ICT Talent Summit (“Congresso de Talentos de Tecnologia para América Latina e Caribe”, em tradução livre), realizado em conjunto por Huawei, Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e agência de notícias EFE com o apoio da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México), na Cidade do México (México). Durante a discussão, os convidados abordaram temas como a aceleração da transformação digital, o mercado de trabalho para os profissionais de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) e os desafios que os países enfrentam para atender à demanda por pessoal qualificado e habilidades digitais.

Os resultados da pesquisa da consultoria IDC (International Data Corporation), especializada no setor de tecnologia, mostraram que a América Latina e o Caribe devem ter uma demanda adicional de 2,5 milhões de profissionais de TIC até 2026, em comparação com a quantidade atual de 6,3 milhões.

Claudia Uribe, diretora do Escritório Regional de Educação para a América Latina e Caribe da Unesco (OREALC, em espanhol), falou sobre os desafios em preencher as lacunas de talentos. “A pandemia de Covid-19 deixou clara a necessidade urgente de fechar a lacuna digital e disponibilizar conteúdo digital, tecnologia e conectividade para todos”, afirmou. Entre os critérios importantes para balizar as decisões a partir de agora, ela pede especial atenção a mulheres, populações rurais e indígenas, que muitas vezes são esquecidas em programas de tecnologia. 

Ao lembrar que o esforço precisa atingir a educação básica, desde muito cedo, a representante da Unesco defendeu também que a inovação chegue aos modelos de formação digital. “Os programas de formação têm pouca cobertura e será necessário desenhar modelos de formação inicial e continuada híbridos.” 

Fernando Salvatierra, especialista em tecnologia do escritório da Unesco em Buenos Aires (Argentina) acrescenta que as formações para gestores devem ser cada vez mais desenhadas para serem realizadas “em serviço”. “É algo diferente de somente assistir a uma aula, é acompanhar o trabalho de um profissional na mesma posição, que eu poderia dizer que mais se assemelha a um coaching (mentoria)”. Com isso, argumenta, é possível gerar uma melhora concreta e fazer com que uma política de alto nível ganhe contornos práticos. 

“Hoje, com a nova geração de tecnologia móvel no país, o 5G, o Brasil precisa trabalhar para combater a falta de mão de obra qualificada no setor de TIC. Para não ficarmos para trás em relação ao resto do mundo, precisamos de talentos que trabalharão para desenvolver a transformação digital no País”, comenta Atilio Rulli, vice-presidente de relações públicas da Huawei na América Latina.

No longo prazo, precisamos de uma estratégia nacional de educação digital que contemple desde a educação fundamental até a universitária em todas as esferas de governo

André Castro, subsecretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do MEC (Ministério da Educação)

Não apenas nas falas de representantes da Unesco como em demais painéis ao longo de dois dias do evento foi reiterado que superar os desafios atuais só será possível mediante a parceria com entes privados. No caso da Huawei, essa parceria para educação básica se dá em diferentes níveis para fomentar a educação 4.0: levar conectividade, acesso e conteúdo e alfabetização digital. No ensino superior, alcança ainda programas de certificação, cooperação e competições para estudantes, como ICT Competition (tecnologia) e Cloud (desenvolvimento em nuvem). 

André Castro, subsecretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do MEC (Ministério da Educação) disse que essa estratégia é importante para a educação profissional. “No curto prazo, a cooperação com o setor privado precisa ser mantida e ampliada. No médio prazo, precisamos fortalecer o ensino técnico, já que muitos estudantes se formam, mas não conseguem um espaço no mercado de trabalho. No longo prazo, precisamos de uma estratégia nacional de educação digital que contemple desde a educação fundamental até a universitária em todas as esferas de governo”, declarou. 

À medida que se tornará mais comum a mudança de carreira, governos e universidades precisam olhar para a educação de forma diferente, disse Arun Sundararajan, professor de empreendedorismo da Leonard N. Stern Business School, da Universidade de Nova York (Estados Unidos). Precisamos de sistemas educacionais que se concentrem na transição de carreira para os trabalhadores que serão substituídos pela automação. O foco global do século 20 estava na faculdade para o início da vida profissional e a necessidade do século 21 está na transição no meio da carreira”, explicou.

Ele destacou que líderes educacionais precisam desenhar cursos de tecnologia com duração menor (idealmente dois anos) e dar mais atenção ao empreendedorismo. “Nos Estados Unidos as community colleges (em tradução livre, faculdade comunitária, instituições de ensino superior com matrícula aberta) têm mais facilidade de atualizar seu currículo e responder mais rapidamente às mudanças do mercado de trabalho em relação a universidades tradicionais com cursos de quatro anos”, avaliou. Isso acontece, segundo o professor, porque as universidades estão mais preocupadas com conteúdo acadêmico do que em oferecer uma abordagem voltada ao desenvolvimento de competências

O talento digital se promove, não germina, não brota. E só há uma maneira para fazê-lo: pela escola

Jorge Ramirez Marin, presidente da comissão de ciência e tecnologia do Senado do México

Essa preocupação com a equidade quando se fala de indivíduos e comunidades também foi tema da fala de Jorge Ramirez Marin, que preside a comissão de ciência e tecnologia do Senado do México. “O talento digital se promove, não germina, não brota. E só há uma maneira para fazê-lo: pela escola”, disse. “A escola privada inclui currículo de ciências de computação e isso não está disponível para a pública porque programas de desenvolvimento de talentos estão fora de políticas públicas e de orçamentos”. 

O LAC ICT Talent Summit, organizado conjuntamente pela Huawei, OREALC e EFE, tem como objetivo ser uma plataforma multilateral para impulsionar esforços conjuntos na América Latina e no Caribe e aumentar a quantidade regional de talentos digitais em resposta à demanda criada pela transformação digital cada vez mais rápida.

* O jornalista acompanhou o LAC ICT Talent Summit na Cidade do México a convite da Huawei


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ensino superior, tecnologia

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