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Opinião|Educação financeira para jovens se tornarem cidadãos críticos e transformadores

Investir em educação financeira dos jovens é investir no desenvolvimento do Brasil

A onda recente de programas de renegociação de dívidas joga luz sobre uma questão pouco explorada nas páginas dos jornais: a crescente inadimplência entre os jovens adultos brasileiros. Das 71,45 milhões de pessoas que estão negativadas por não conseguirem pagar suas contas, 12,4% – ou seja, 8,8 milhões – têm entre 18 e 25 anos. Em relação ao mesmo período de 2022, quando o total de inadimplentes era de 66,82 milhões no País, essa parcela era de 8,3 milhões, segundo informações do Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas, da Serasa.

Os dados mostram a necessidade de trabalhar a educação financeira desde cedo, para evitar que as novas gerações ingressem na vida adulta sem as habilidades necessárias para praticá-la. Saber o que são e como funcionam, por exemplo, taxa de juros, inflação ou o sistema tributário é indispensável para que os jovens lidem de forma mais consciente com o dinheiro e se tornem cidadãos críticos, capazes de contribuir para a sua própria saúde financeira, a de sua família e a do País.

Nesse sentido, é urgente avançar com a educação financeira nas escolas. Há dois pontos que favorecem esse caminho. Primeiro, a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que determina que a educação financeira é aprendizagem obrigatória em escolas públicas e particulares. De acordo com o documento que orienta os currículos escolares de todo o Brasil, ela deve ser aprendida não apenas em aulas de Matemática, mas em diversas outras disciplinas e com diferentes abordagens.

Isso faz sentido. É certo que a educação financeira ajuda a desenvolver habilidades como montar um orçamento e calcular porcentagens, mas, sobretudo, é excelente ferramenta para criar e consolidar comportamentos e atitudes positivas, como autocontrole, disciplina e persistência, organização e planejamento. Diferentemente do que muitos pensam, decisões financeiras costumam carregar alta carga comportamental.

O segundo ponto é que há evidências de que os professores, principais agentes da aprendizagem, entendem essa necessidade. De acordo com pesquisa realizada pela Associação Nova Escola e o Instituto XP, a maioria dos professores de escolas públicas entrevistados acha que finanças é assunto escolar (74%) e deve ser aprendido por todos (53%).

Existem, no entanto, desafios que precisam ser avaliados. Apesar de a BNCC trazer, desde pelo menos 2017, a educação financeira como essencial para a formação dos jovens, sua implementação é lenta e ainda são poucas as escolas preparadas para seguir adiante, especialmente na formação de professores. A mesma pesquisa mostrou que cerca de metade dos docentes aponta que falta formação específica na área (59%) e não tem acesso a material didático de qualidade (49%).

Uma das estratégias que podem ajudar a promover a educação financeira na escola ou em casa é ampliar o acesso dos jovens à informação de qualidade sobre assuntos financeiros e econômicos. O jornalismo econômico pode e deve ser consumido pelos jovens – que se interessam, sim, por esse tipo de conteúdo, desde que produzido com linguagem adequada para comunicar conceitos de forma descomplicada e, especialmente, contextualizada ao cotidiano. Talvez o que mais comprove isso seja o sucesso de inúmeros perfis em redes sociais de jovens oferecendo dicas financeiras para seus contemporâneos.

O poder da informação jornalística está na possibilidade de se conectar com os jovens e fazê-los perceber que economia faz parte do seu dia a dia e que, ao entender os fatos econômicos, eles ganham autonomia e subsídios para tomar decisões que inevitavelmente influenciarão de forma positiva o seu futuro.

Para além dos impactos pessoais, educar financeiramente a população desde cedo pode ser determinante para a saúde econômica do País, que tem sua estabilidade ameaçada pelas altas taxas de inadimplência. Ou pela falta de compreensão sobre a importância de pagar impostos ou do consumo consciente. Ler os fatos do mundo pela lente da economia forma cidadãos preparados para transformar a sociedade. Investir em educação financeira dos jovens, portanto, é investir no desenvolvimento do Brasil.

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FORMADA EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, TEM MESTRADO EM INTERNATIONAL AFFAIRS PELA COLUMBIA UNIVERSITY, TRABALHOU POR OITO ANOS NO MERCADO FINANCEIRO EM NOVA YORK E EM SÃO PAULO, FUNDOU E LIDERA A MAGIA DE LER, EDITORA QUE PUBLICA OS PERIÓDICOS JOCA E TINO ECONÔMICO, AMBOS PARA JOVENS LEITORES

Opinião por Stephanie Habrich