Descrição de chapéu O Futuro do Nordeste

Educação digital é essencial para ter Nordeste conectado, dizem especialistas

Região tem menor taxa do país de casas com acesso à internet, de 56,6%

Fortaleza

Proporcionar o acesso à internet no Nordeste não basta. É necessário também incentivar o uso e ensinar à população as possibilidades que ela oferece, mostrando como a conectividade pode tornar o cotidiano mais prático.

A região tem a menor taxa do país de casas com conexão à internet, de 56,6%, apesar de apresentar um avanço na média nacional, segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2016 —a mais recente. No Sudeste, a conexão chega a 76,7% das residências.

Marcelo Romão, do Ministério da Ciência e Tecnologia, António Nunes, da Angola Cables, José Nogueira, da Brisanet,
e o jornalista da Folha mediador do debate Everton Batista, durante o seminário Futuro do Nordeste, em Fortaleza
Marcelo Romão, do Ministério da Ciência e Tecnologia, António Nunes, da Angola Cables, José Nogueira, da Brisanet, e o jornalista da Folha mediador do debate Everton Batista, durante o seminário Futuro do Nordeste, em Fortaleza - Marília Camelo/Folhapress

Das pessoas que não utilizavam a rede no Nordeste, 40% não conhecem seu funcionamento e 32% afirmaram não ter interesse —os maiores percentuais de falta de conhecimento e desinteresse entre todas as regiões do país.

A falta de ações que ensinem e incentivem o uso da internet é uma das principais barreiras para ampliar a conectividade na região, segundo os participantes do seminário Futuro do Nordeste, realizado pela Folha, na quinta-feira (22), em Fortaleza.

“É importante mostrar a essas pessoas sem interesse pela internet a oportunidade que se perde, seja para pedir um carro em aplicativo ou conferir o extrato do FGTS”, disse Marcelo Romão, coordenador de infraestrutura de banda larga do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Para os debatedores, políticas públicas de capacitação de professores para educação digital mudariam a realidade.

A oferta de aplicativos intuitivos que tornem a vida mais prática colabora para a popularização da internet, de acordo com António Nunes, presidente-executivo da multinacional de telecomunicações Angola Cables.

CUSTO DA CONEXÃO

Os números da Pnad mostram que o valor da conexão é um dos fatores que impedem moradores da região de assinar serviços de internet.

Nesse cenário, é importante a atuação de pequenas empresas que espalham o acesso pelo interior dos estados, segundo José Roberto Nogueira, fundador da Brisanet, que oferece internet, TV a cabo e telefone em cidades afastadas das capitais do Ceará, da Paraíba e de Pernambuco.

Nogueira conhece bem a realidade de seus clientes. Até os 16 anos, ele viveu com 13 pessoas de sua família numa casa sem energia elétrica, em Pereiro (330 km de Fortaleza).

“Foi um rádio de pilha, que meu pai levou para casa quando eu tinha 13 anos, que me fez decidir estudar eletrônica por correspondência.”

Com o curso concluído, se mudou para São José dos Campos (SP), onde chegou a trabalhar na Embraer (empresa de aeronáutica).

“Famílias pobres não conseguem pagar o serviço sozinhas. Como as casas são pequenas e muito próximas, os vizinhos se juntam para compartilhar o roteador”, disse.

Ele afirmou não ver problema nesse tipo de associação e que a empresa não bloqueia o sinal nesses casos. De acordo com a Brisanet, cerca de 15% dos usuários compartilham o sinal dessa maneira.

POSIÇÃO ESTRATÉGICA

Além da atuação de pequenas empresas, a chegada de multinacionais também favorece a propagação da internet.

A Angola Cables escolheu Fortaleza para instalar seu centro de gerenciamento de dados devido à sua posição geográfica estratégica, próxima dos EUA e da África.

A companhia constrói por cabos submarinos de fibra óptica uma ligação entre Brasil e Angola, distância de 6.300 km. Outro projeto concluído ligou Brasil e EUA. O investimento total das obras é de US$ 300 milhões, segundo Nunes.

O evento teve o patrocínio do Banco do Nordeste, do governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, com apoio da Embratur, do Ministério do Turismo e da CVC. O jornalista Jocélio Leal, do jornal O Povo, parceiro do seminário, foi mediador de uma das mesas.

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