Artigos
PUBLICIDADE
Artigos

Colunistas convidados escrevem para a editoria de Opinião do GLOBO.

Informações da coluna

Artigos

Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

Por

Em nossa jornada rumo a uma sociedade mais equitativa, a educação se destaca não só como elemento essencial para uma mudança sistêmica, mas também como catalisadora dessa transformação. Entretanto o cenário atual é marcado por profundas desigualdades educacionais, que refletem e exacerbam as divisões socioeconômicas. A interação entre essas desigualdades forma um ciclo vicioso, em que a falta de oportunidades leva a perspectivas econômicas diminuídas. Isso, por sua vez, restringe o acesso a uma educação de qualidade. É um ciclo que perpetua a injustiça.

John Dewey, defensor da atividade prática e da democracia como ingredientes da educação, argumentou que “educação não é preparação para a vida; educação é a própria vida”. Essa afirmação sublinha o papel integral do ensino na formação de indivíduos e sociedades. No entanto, quando o acesso à educação de qualidade é distorcido pelo status socioeconômico, negamos a muitos a essência de uma vida plena. Isso não é apenas uma perda individual, mas um fracasso social.

No Brasil e em todo o mundo, testemunhamos as repercussões desse fracasso. Os marginalizados ficam presos num ciclo de pobreza, e seu potencial permanece não realizado. No entanto, em meio a esses desafios, há fontes de esperança. Práticas educacionais inovadoras que priorizam o pensamento crítico, a relevância cultural e o envolvimento comunitário mostraram resultados promissores. Tais práticas, muitas vezes enraizadas nas ideias da pedagogia do oprimido, enfatizam o diálogo, a reflexão e a ação — elementos críticos para capacitar aprendizes e transformar a sociedade.

Antônio Carlos Gomes da Costa, reformador social, destacou acertadamente o poder transformador de tais abordagens no atendimento às necessidades da juventude marginalizada. Ao ampliar essas melhores práticas, podemos começar a desmantelar barreiras que perpetuam a desigualdade.

Reconhecendo a necessidade de escalar efetivamente boas práticas educacionais, o Instituto Salto acaba de publicar “O Salto 1”, uma compilação que inclui uma revisão da literatura, ferramentas e recomendações. Nosso desafio agora é garantir que esse conhecimento, disponível para download como e-book ou recebido gratuitamente em formato impresso, alcance o maior número possível de técnicos de secretarias, autarquias, órgãos e instituições, incluindo o terceiro setor. A disseminação do conhecimento é vital para a transformação que almejamos.

A tarefa não é fácil. Exige a responsabilidade de valorizar e elevar o sistema educacional. Devemos defender políticas que garantam acesso equitativo à educação de qualidade para todos, independentemente do contexto socioeconômico. Também devemos fomentar um ambiente em que educadores são capacitados a inovar, e estudantes são vistos como cocriadores do conhecimento. Inovar é adotar um novo olhar para realizar, por meio de políticas públicas, todas as ações que possibilitem o rompimento das barreiras que impedem a juventude de prosperar.

Vamos atender às palavras de Horace Mann, John Dewey, Paulo Freire e Antônio Carlos Gomes da Costa. Reconheçamos que a educação não é privilégio, mas direito. É a base sobre a qual uma sociedade justa e equitativa é construída. Juntos, trabalhemos por um paradigma educacional que não apenas informe, mas transforme; que não apenas preencha mentes, mas também as liberte.

*Rafael Parente é diretor executivo do Instituto Salto

Mais recente Próxima Austeridade de menos é o caminho para o abismo