RIO — Etapa com maior número de mudanças nos últimos anos no Brasil, o ensino médio é um ponto sensível das políticas educacionais. A discussão sobre a defasagem do modelo atual dominarou o painel de abertura do Educação 360 Jovem , nesta segunda, no Museu do Amanhã, no Centro do Rio. Na palestra, jovens de São Paulo, Bahia e Alagoas defenderam um ensino mais próximo do cotidiano durante o debate com Paulo Mól, diretor de operações do Sesi Nacional, e o escritor Marcelo Rubens Paiva.
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— Se aprendermos uma coisa na sala de aula e aplicarmos na prática, aprenderemos muito mais rápido. Com algo mais dinâmico e direto, vamos nos interessar. Uma pessoa não precisa amar matemática para contar dinheiro. Basta o professor inserir o conteúdo no nosso dia a dia — argumentou Carlos Eduardo dos Santos Silva, que está no 1° ano do ensino médio.
O Educação 360 Jovem é uma realização O GLOBO e Extra, com patrocínio master de Sesi, patrocínio de Fundação Telefônica e colégio pH, e apoio de TV Globo, Futura, Unesco, Unicef, Instituto Inspirare, Uber e Companhia das Letras. Esta é a primeira vez que o seminário traz como foco a juventude, durante todo o dia estudantes participarão de debates sobre currículo, metodologias e participação dos alunos nos processos de decisão da escola.
'Uma reforma completa', diz escritor
O escritor Marcelo Rubens Paiva, que mediou o debate, sublinhou a necessidade de mudanças no ensino médio para aproximar a educação das expectativas dos jovens. Segundo ele, a escola traz uma infinidade de conteúdos específicos que, muitas vezes, não contribuem para a formação do estudante.
— O ensino médio precisa mudar, ter uma reforma completa. Uma escola precisa ensinar o estudante a ir atrás, dar elementos para que ele saiba pesquisar. Para se informar, desenvolver espírito de liderança — disse Paiva, completando: — Da forma como se ensina é chato. Tanto matemática, quanto português. Oração sintática, eu nunca usei isso para nada e sou escritor.
Nesse sentido, Paulo Mól defendeu uma educação que desenvolva aspectos integrais na formação dos estudantes e que possibilite instrução adequada também àqueles que não escolham ir para a universidade. Para ele, a reforma do ensino médio é inclusiva a partir do momento que propõe a educação profissionalizante como um dos itinerários formativos.
— Atualmente, o objetivo do ensino médio no Brasil é colocar o aluno na universidade, mas um número superior a 80% deles não vai para o ensino superior. Então, cria-se uma situação muito difícil — critica Mól. — O grande objetivo do ensino médio deve ser capacitar e gerar habilidades, de maneira que quando o aluno acabe a etapa se posicione bem no que queira fazer. Essa etapa tem que formar o aluno para que ele possa ser o que quiser ser.
Para ele, em um projeto prático de robótica, por exemplo, os estudantes conseguem aplicar a teoria e, além disso, desenvolver outras características fundamentais na vida adulta, como liderança, espírito de cooperação, habilidade de comunicação, entre outras.
Estudantes querem professores com melhor formação
A estudante Tamires Costa defende uma melhor formação dos professores e também um uso mais amplo das tecnologias para atrair os estudantes:
— Para mim, teria que mudar a forma de convivência entre aluno e professor. O Brasil tem que investir muito na educação, porque ainda temos uma limitação. Tecnologia é uma estrategia para nos trazer para o conteúdo. Não podemos escrever uma coisa sem saber o que estamos escrevendo, ler sem saber o que estamos lendo.
Marcos Vinicius de Souza concorda com a colega. Segundo ele, a falta de investimentos na área quando somada à falta de atratividade do ensino faz com que muitos estudantes acabem abandonando a escola.
— Muita gente abandona a escola porque não consegue chegar a ela. Tem gente que mora longe, em regiões que não são de fácil acesso. Investir nisso fará com que tenhamos uma pessoa com condições de participar da sociedade e dar sua colaboração — finalizou o estudante.