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Educação 360 Jovem: estudantes querem ser livres dentro da escola

No painel "O que os jovens querem aprender", eles criticam o fato de não serem ouvidos pelos sistemas educacionais
Ítalo Dutra, do Unicef, a mediadora Brenda Fucuta e os estudantes Gianluca Vilela, Bárbara Faria Correa e Eduarda Pessot da Silva Foto: Marcelo de Jesus / Agência O Globo
Ítalo Dutra, do Unicef, a mediadora Brenda Fucuta e os estudantes Gianluca Vilela, Bárbara Faria Correa e Eduarda Pessot da Silva Foto: Marcelo de Jesus / Agência O Globo

RIO — Os jovens não querem opções: querem ser livres. Essa foi a tônica do painel "O que os jovens querem aprender", no Educação 360 Jovem , realizado pelos jornais O Globo e Extra, com patrocínio master de Sesi, patrocínio de Fundação Telefônica e colégio pH, e apoio TV Globo, Futura, Unesco, Unicef, Instituto Inspirare, Uber e Companhia das Letras. O evento é realizado nesta segunda-feira, no Museu do Amanhã, Centro do Rio.

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— Hoje não nos perguntam o que queremos aprender. Apenas nos dão uma questão de múltipla escolha. Dizem: "Você tem isso, isso e isso. Qual você quer?". A educação tem que parar de dar múltipla escolha e deixar mais em aberto. Eu quero falar exatamente o que eu quero aprender — disse Gianluca Vilela Piccin, aluno de 15 anos do Colégio Novo Tempo de Santos, em São Paulo. — Alguns conteúdos são ensinados em excesso e nem todos querem trabalhar com a mesma coisa. O que a gente defende é aumentar ou diminuir algumas disciplinas.

No encontro — mediado pela jornalista Brenda Fucuta e comentando pelo chefe de educação da Unicef, Ítalo Dutra —, Gianluca e outros dois jovens indicaram suas demandas. Os três apontaram falhas na escola para ensinar os alunos a lidarem com emoções.

— O jovem precisa de uma aula que ensine como se comportar, como lidar com os sentimentos. Tem muita gente que sofre em silêncio. Tenho milhares de amigos que não se abrem. Uma aula no meio do horário letivo teria resultados melhores, formaria pessoas mais preparadas, mais cientes. A gente precisa disso — diz Gianluca.

Física é mais importante que artes?

Bárbara Souza Faria Correa, de 15 anos, é aluna do Sesi Senai Aparecida, de Goiânia, e defende que a dosagem da carga horária das disciplinas deve ser decidida pelos estudantes.

— Eu tenho cinco aulas de física e uma de artes. Isso diz para a gente que a cultura não é tão importante quanto outros componentes. Isso está um pouco fora do padrão. Eu queria entender também mais da política para ser mais crítica — diz a jovem.

Já para Eduarda Pessotti da Silva, capixaba de Aracruz, de 16 anos, que estuda na Escola Sesc de Ensino Médio, no Rio, a discussão sobre direitos de alguns grupos sociais tem que entrar na escola. Segundo ela, esta é uma demanda dos estudantes.

— O jovem quer ouvir e falar sobre diversidade. De raça, de gênero, orientação sexual… Precisamos incluir e falar sobre isso. Precisamos ser formados não para fazer uma prova e trabalhar, mas para participar da sociedade — diz.

Gianluca acredita que esse debate precisa parar de ser um tabu. Segundo ele, "escola não é balada" e que casais (sejam eles héteros ou gays) não devem ficar "se pegando" no colégio. Mas o estudante ressalta a importância de que nenhuma forma de amor seja reprimida.

— O que a gente está querendo pontuar é: por que o casal hétero aparece na foto e por que não se vê um casal homoafetivo? Não é ficar se pegando, mas serem respeitados – diz Gianluca.

É preciso sistematizar as maneiras de ouvir os estudantes

Ítalo Dutra, chefe de Educação da Unicef, afirmou que uma das grandes dificuldades é sistematizar maneiras de ouvir os estudantes e, a partir disso, transformar suas reivindicações em mudanças.

— A escola precisa aprender a fazer isso metodologicamente. Precisa entender como escutar vocês. Já trabalhei com estudantes e em alguns casos eles nunca tinham parado para pensar no que de fato queriam. E isso precisa acontecer com mais frequência – afirmou.

Bárbara afirmou que alguns fatores impedem a conversa do jovem com os professores, entre eles timidez e medo.

Ítalo lembrou que o Brasil está, neste momento, discutindo no Conselho Nacional de Educação (CNE) como será a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ele perguntou se algum dos jovens já havia lido o documento, que ainda está em construção. Nenhum deles havia tido contato com o texto. Eduarda afirmou que são dois problemas principais que afastam os jovens da BNCC.

— Existe pouca divulgação das audiências públicas e os jovens também deveriam correr mais atrás — disse.