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Educação 360 discute o papel das escolas no respeito à diversidade

Tema será debatido em mesa do encontro internacional, que acontece na próxima semana
 Victor Oliveira, aluno do colégio Pedro II, passou a usar o nome social no ano passado Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Victor Oliveira, aluno do colégio Pedro II, passou a usar o nome social no ano passado Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

RIO - Negros, indígenas, gays, transexuais, pessoas com deficiência. Provavelmente, um estudante encontrará alguns desses perfis, ou todos eles, na escola. As instituições de ensino, no entanto, nem sempre estão preparadas para receber e acolher como deveriam as minorias em meio ao todo. A diversidade, questão cada vez mais urgente na sociedade, é tema de uma das mesas do Educação 360, encontro internacional que acontece nos dias 24 e 25 de setembro , no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio (saiba mais no quadro abaixo) .

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'Chegamos onde jamais pensaríamos chegar', diz estudante negra

O evento é promovido pelos jornais O GLOBO e Extra com patrocínio de Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e Colégio pH, apoio da Fundação Cesgranrio e apoio institucional de TV Globo, Canal Futura, Unesco, Unicef e Todos pela Educação.

O nome é um dos primeiros aspectos da construção da identidade de uma pessoa. Mas, para um jovem transexual do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, o direito de ser reconhecido por Victor na escola só veio há um ano, quando ele obteve a permissão de usar seu nome social. A mudança nos documentos escolares foi um passo importante na busca por igualdade.

— Quando pedi o uso do nome social, não sabia o que ia encarar na escola, como ia ser visto. A gente dá um tiro no escuro, mas o Pedro II é uma escola que aborda muito esse assunto — diz Victor Oliveira, que tem 19 anos, e é aluno do ensino médio.

‘EU DEI MUITA SORTE’

Em setembro do ano passado, o Conselho Nacional de Educação (CNE) autorizou o uso de nome social em todas as escolas de educação básica do país tanto para maiores de 18 anos— o que, na época, já era permitido em 24 estados— quanto para menores de idade, com solicitação intermediada pelos responsáveis legais.

— A escola tem um papel importante para que sejamos respeitados. Eu dei muita sorte de estudar em um lugar que me acolheu, porque conheço pessoas que largaram a escola por não se sentirem bem — conta Victor.

Megg Rayara Gomes de Oliveira, que estará na mesa sobre diversidade do evento, é negra, transexual e doutora em Educação, mas, antes de obter seu diploma, abandonou a escola algumas vezes. Durante sua trajetória escolar, Megg colecionou histórias de preconceito que partiam não só dos colegas, mas também de alguns docentes. Hoje, ela dá aulas de Didática no departamento de educação da Universidade Federal do Paraná e pretende passar aos graduandos o que gostaria que seus próprios professores tivessem aprendido.

— Eu fui percebendo que, mesmo sendo a melhor aluna da turma, a professora nunca me chamava para ajudar. Quando tinha comemoração, ela só escolhia as outras crianças para representar a sala — lembra. — Quando fui para o ginásio, começaram os problemas mais explícitos. A educação física começou a ser um tormento, então eu comecei a não falar mais, tentava ser invisível dentro do espaço escolar.

Depois de superar anos de agressões na educação básica, Megg também sofreu no ensino superior. Estudante de pedagogia, ela abandonou o curso após uma aula de biologia em que a professora utilizou casos LGBT como exemplos de aberrações cromossômicas. Depois disso, prestou novamente vestibular e entrou para o curso de Belas Artes da Universidade Federal do Paraná. Nos anos seguintes, decidiu voltar sua formação para a educação, com o objetivo de promover alguma mudança.

— Na maioria da vezes, conseguia identificar a opressão, mas as outras pessoas, não. E eu não tinha como denunciar e com quem dividir. Mas a mesma educação que foi problema para mim passou a ser uma meta profissional. Quando decidi que queria ser professora, era pra impedir que outras pessoas passassem pelo mesmo constrangimento que eu.

Hoje, Megg concorre ao Prêmio Capes ( Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para as melhores teses de 2017 com o trabalho “Diabo em forma de gente: (R)existência de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação”, que apresentou no doutorado. A professora defende que a população LGBT ocupe os espaços universitários:

— A maioria dos meus alunos são brancos, cis e héteros. E eles conseguem entender que a sociedade brasileira constrói barreiras impedindo que pessoas como eu acessem esse espaço. Eu sou a primeira trans a defender uma tese de doutorado na UFPR em 105 anos. Falo isso em tom de denúncia e não de vaidade. Ser a primeira é o reflexo da exclusão.

PARTICIPE DO EVENTO

O que é: o Educação 360 é um um encontro internacional que reúne pessoas que vivenciam e pensam a educação sob diferentes pontos de vista e põem em prática iniciativas transformadoras. O evento conta com palestras magnas de grandes nomes da educação e mesas de debate, além da apresentação de estudos de casos bem-sucedidos.
Quando e onde: dias 24 e 25 de setembro, no Museu do Amanhã e no Museu de Arte do Rio, ambos na Praça Mauá, no Centro do Rio.

Inscrições: Os interessados em participar podem se inscrever pelo site www.educacao360.com . A inscrição é gratuita.

Assista: Haverá transmissão on-line ao vivo nos dois dias de evento, a partir das 9h, nos sites do GLOBO e do Extra.


Destaques desta edição: Além do tema diversidade, outros assuntos serão discutidos, como o combate às fake news nas escolas. O congresso contará ainda com palestras de nomes internacionais, como o economista do Banco Mundial David Evans; o ex-ministro de Educação de Portugal Nuno Crato; e Eric Hanushek, da Universidade de Stanford (nos EUA). Outro destaque é o indiano Sanjit “Bunker” Roy, criador da Barefoot College, uma faculdade para pessoas pobres na Índia.