RIO - A reforma do ensino médio intensificou uma dicussão que rende muitas divergências a respeito da trajetória educacional dos jovens: a educação profissional acaba afastando os estudantes do ensino superior? De acordo com especialistas no tema, os dois modelos não devem ser vistos como inimigos.
O tema foi discutido na mesa "Universidade ou ensino técnico: antagonistas ou aliados?", durante o Educação 360 , nesta segunda-feira. O evento é promovido pelos jornais O GLOBO e Extra com patrocínio de Sesi, Fundação Telefônica, Fundação Itaú Social, Instituto Unibanco e Colégio pH, apoio da Fundação Cesgranrio e apoio institucional de TV Globo, Canal Futura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Unesco, Unicef e Todos pela Educação.
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Os educadores destacaram a importância de uma formação geral ampla para todos estudantes, independentemente do tipo de educação que escolherem.
— Essa colocação entre ensino superior e ensino técnico não é uma oposição. Assim como a formação geral e o técnico também não é uma oposição. Enxergar as coisas dessa forma não é uma boa saída. Temos uma população jovem que precisa ser atendida — afirmou Ana Inoue, educadora e assessora do Banco Itaú BBA no desenvolvimento de projetos de educação, questionando: — O ensino médio é a última política pública que pensamos para todos. Depois disso não há nada que seja para toda a população. Temos vagas na universidade para 17% dos jovens, mas qual a proposta do país para os 83% que não vão para lá?
Nesse contexto, o diretor nacional do Sesc, Carlos Artexes destacou que, ao mesmo tempo que impulsiona a educação profissional, o poder público não deve deixar de lado o aumento do ingresso no ensino superior.
— A ampliação da educação superior é uma realidade nas nações desenvolvidas, e um país que quer avançar precisa disso. O Brasil tem nível muito baixo de formação na educação superior. A formação técnica é muito importante para vida das pessoas, para o mundo do trabalho, mas a educação superior também. Não é um antagonismo.
O que propõe a reforma do ensino médio
A reforma do ensino médio, sancionada no ano passado, prevê a oferta de cinco itinerários formativos para os estudantes, dos quais um deles deve ser o da educação profissional, os demais são relativos às quatro áreas do conhecimento: Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Matemática e Linguagens.
O argumento para a medida é flexibilizar a trajetória dos jovens para que tenham uma formação mais alinhada com a carreira que pretendem seguir e também com o mundo do trabalho. Nesse sentido, Felipe Morgado, gerente Executivo da Unidade de Educação Profissional e Tecnológica do Departamento Nacional do Senai, argumenta que o novo modelo pode atenuar o desajuste entre o ensino médio e o mercado de trabalho.
— Eu acredito que essa transição do jovem para o mundo do trabalho é muito difícil. Acho que temos que escutar a opinião dos jovens, e eles acreditam que a formação profissional no ensino médio é muito importante. Surge uma grande oportunidade para o Brasil de ajustar a formação para ter os fundamentos necessários tanto para desenvolver uma cultura de empreendedorismo, quanto para uma formação com bases sólidas em competências socioemocionais — diz ele.
Para o professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Dante Moura, no entanto, a reforma tem um potencial muito maior de intensificar os problemas do ensino médio e potencializar desigualdades, e não o contrário. Com formação tanto técnica quanto universitária, Moura defende que o governo federal mais uma vez ignora os problemas estruturais da educação brasileira ao propor uma nova política.
— Não podemos esconder a realidade, que é a ausência das condições básicas de funcionamento, e centrar todos esforços na organização curricular. Já tivemos várias reformas que incidiram no currículo, mas não nas condições básicas e não deram certo. Temos prédios inadequados, não há laboratórios, as bibliotecas são deficientes, não há espaço para atividade artística e esportiva, os professores não têm formação adequada — critica Moura. — Esbarramos na questão do financiamento, a emenda constitucional 95 congelou os gastos em 20 anos. Os itinerários formativos da reforma não acontecerão na escola pública, porque a instituição que hoje faz um único tipo de ensino médio com custo "x" não conseguirá oferecer cinco tipos com o mesmo "x".