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A pandemia deixou os jovens mais vulneráveis

Trajetória de ascensão social de boa parte de uma geração está ameaçada

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Por Notas & Informações
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A trajetória de ascensão social de boa parte de uma geração está ameaçada. Em nenhuma das crises pelas quais o País passou nos últimos anos os jovens brasileiros estiveram tão vulneráveis como nesta provocada pela pandemia de covid-19. A porcentagem de pessoas com idade de 15 a 29 anos que não trabalham nem estudam nunca, pelo menos desde o início da década passada, foi tão alta como em 2020.

Os chamados “nem-nem” (nem estudam nem trabalham) chegaram a representar quase 30% (exatamente 29,33%) dos jovens de 15 a 29 anos no segundo trimestre do ano passado, período em que o impacto da pandemia foi mais intenso. Mesmo no fim do ano passado, quando eram consistentes os sinais de recuperação da economia, mantinha-se em 25,52%, o quarto índice mais alto desde 2012.

Estes são alguns resultados a que chegou o economista Marcelo Neri no estudo Juventude, Educação e Trabalho: Impactos da Pandemia nos Nem-Nem publicado pela FGV Social. O objetivo, diz o autor, é apresentar estatísticas úteis “para descrever os maiores desafios desta fase de transição da infância para a idade adulta no ciclo de vida dos indivíduos”.

Os dados não deixam dúvida de que o desafio é imenso. A pandemia fez crescer um índice que já era alto no fim de 2019. No último trimestre daquele ano, a taxa de jovens nem-nem estava em 23,66%. A pandemia a fez aumentar rapidamente, para o recorde histórico no segundo trimestre de 2019. Em seguida, começou o recuo.

A média móvel de quatro trimestres, menos sujeita a oscilações de curto prazo, no entanto, tem uma ascensão constante desde o fim de 2019.

O impacto da pandemia no mercado de trabalho dos jovens foi muito acentuado no primeiro momento, fazendo o porcentual de desocupados saltar de 49,37% para 58,58% no segundo trimestre de 2020. É o recorde da série. Passou a cair, mas continua muito alto.

Curiosamente, o porcentual dos que não frequentam escola teve queda contínua em 2020. Esse fenômeno talvez seja explicável pela falta de oportunidades de trabalho combinada com menor exigência escolar (presença e aprovação automáticas).

O resultado geral, porém, é ruim e mostra que as políticas públicas devem ser focadas em conciliação de períodos de estudo e de trabalho para os jovens, além da óbvia geração de empregos.