Ricardo Henriques
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O relatório “The Future of Job Reports 2023”, divulgado na semana passada pelo Fórum Econômico Mundial a partir de entrevistas com representantes de empresas de 45 países de todas as regiões do mundo, estima que nos próximos cinco anos 23% das profissões devem se modificar. Há expectativa de geração de empregos em ocupações ligadas a novas tecnologias e sustentabilidade, enquanto postos tradicionais como caixas ou escriturários tendem a diminuir. No balanço de perdas e ganhos, a projeção — a partir de uma base representativa de 673 milhões de empregos — é a de criação de 69 milhões de vagas e a extinção de 83 milhões: um déficit de 14 milhões no período. Esses movimentos exigem uma reflexão sobre a formação tanto das novas gerações quanto das que já estão no mercado de trabalho e serão abaladas por essas dinâmicas.

A escolaridade da mão de obra brasileira aumentou graças à ampliação do acesso à educação básica, especialmente desde a redemocratização. Esta é uma conquista que não deve ser desprezada, mas sabemos que ela é insuficiente, tanto em termos de qualidade quanto da quantidade de jovens que conseguem terminar o ensino médio e ingressar em cursos técnicos ou superiores. Além disso, é preciso refletir sobre o quanto a formação básica ou em nível superior estão, de fato, preparando o jovem para uma inserção qualificada no mercado de trabalho, uma das funções da educação preconizada pela Constituição Federal.

Uma das maneiras de investigar essa questão é avaliar as habilidades e competências de indivíduos adultos no mercado de trabalho. Esta é uma informação importante para o desenvolvimento de políticas educacionais e de qualificação e requalificação no trabalho. Infelizmente, faltam no caso brasileiro dados atualizados e comparáveis a outros países. No entanto, é possível estimar nosso atraso em relação às nações desenvolvidas a partir do resultado de países latino-americanos que participam do Programa de Avaliação Internacional de Competências de Adultos (PIAAC), coordenado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Iniciado em 2008, o PIAAC busca avaliar, monitorar e analisar as habilidades e competências de adultos em 39 países até o momento. A avaliação mede as proficiências em literacia, numeracia e resolução de problemas em ambientes ricos em tecnologia. Seus níveis podem variar de abaixo de 1 até 5, equivalentes ao básico e avançado. Similar ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) — também gerido pela OCDE —, os resultados do PIAAC evidenciam que a proficiência está positivamente ligada a uma série de resultados sociais e econômicos, como empregabilidade e salários.

Segundo o relatório “Skills in Latin America: Insights from the Survey of Adult Skills (PIAAC)”, lançado pela OCDE em 2023, a proporção de adultos nos níveis mais baixos de proficiência chega a 70,2% no Peru, 71,2% no Equador, 53,4% no Chile e 50,6% no México. Na média dos países da OCDE, esta proporção é de apenas 20%. Isso significa que mais da metade das populações destes países latino-americanos apresentam dificuldade em tarefas que requerem a simples leitura de textos relativamente curtos para localizar uma única informação.

O mais próximo que temos desse diagnóstico no Brasil era feito, até 2018, pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, que desenvolveram o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), um estudo para medir os níveis de alfabetismo da população brasileira de 15 a 64 anos.

Outra função do PIAAC é mostrar o quanto os empregos utilizam as competências dos trabalhadores, sinalizando se os empregadores têm processos adequados de recrutamento e métodos de trabalho eficientes. Os EUA, por exemplo, possuem níveis médios de competência profissional mais baixos se comparados à União Europeia. No entanto, as firmas americanas são mais eficientes no uso das habilidades e competências de seus trabalhadores.

Embora a educação formal tenha se expandido rapidamente por aqui nos últimos 30 anos, seguimos atrasados em termos de conhecimentos, habilidades e competências adequadas ao mercado de trabalho. Isso se tornou um grande obstáculo para o desenvolvimento econômico, social e sustentável no país, e avançar nesse debate requer uma série de outras ações que venho debatendo neste espaço. Uma quarta onda de aplicação do PIAAC será lançada em breve, oportunidade que devemos aproveitar no Brasil, aderindo em nível nacional ou estadual, que pode nos trazer diagnóstico crítico e atualizado sobre as carências e potências de nossa força de trabalho atual e futura.

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