São Paulo

Doria anuncia volta às aulas em 1º de fevereiro mesmo em regiões em fase vermelha da quarentena

Novo plano do governo paulista estabelece volta às aulas em São Paulo por região do estado, de acordo com situação da pandemia, mesmo na fase vermelha

Secom/GovSP
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Rossieli Soraes, à direita, defende que mesmo com agravamento da pandemia, a volta às aulas em São Paulo seja mantida

São Paulo – O governador paulista, João Doria (PSDB), e o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares, anunciaram hoje (17) que a volta às aulas em São Paulo vai ocorrer no dia 1º de fevereiro de 2021, mesmo se houver regiões do estado na fase vermelha da quarentena por conta da pandemia do novo coronavírus. De acordo com o novo plano de funcionamento das escolas, em regiões que estiverem nas fases vermelha ou laranja – de maior restrição à circulação – as unidades poderão receber 35% dos estudantes de todas as fases da educação básica – creche, infantil, fundamental e médio. Na fase amarela, o limite passa a ser de 70%. E na fase verde, 100%.

Soares afirmou, em coletiva à imprensa, não ser possível esperar a vacinação para a volta às aulas em São Paulo, já que crianças não são consideradas grupo de risco e não há previsão de imunização para elas em 2021. As vacinas em fase final de testes não tiveram a segurança estabelecida para aplicação nesta faixa etária. “A escola não pode mais fechar. Neste momento de pandemia, as famílias precisam entender sobre o quanto é cada vez mais fundamental e importante ter os seus filhos frequentando a escola. Para continuar a aprendizagem e serem acolhidos em vários aspectos. Principalmente, emocionalmente”, disse.

Universidades

A regra será diferente para a volta às aulas das universidades em São Paulo, que não poderão abrir se suas regiões estiverem em fases vermelha ou laranja. Se estiverem em fase amarela poderão receber 35% dos estudantes e na fase verde, 70%. Apenas em uma eventual fase azul seria possível ter 100% dos alunos.

A nova organização da volta às aulas em São Paulo muda todo o conceito elaborado antes. No plano anterior, as escolas só podiam reabrir na fase amarela, com 35% dos estudantes. Na fase verde, poderiam receber até 70%.

Segundo Soares, houve poucos casos registrados de covid-19, mas todos com origem fora das escolsa. “Não houve nenhum caso de transmissão no ambiente escolar”, afirmou. Ele também garantiu que os professores serão prioritários no plano de vacinação do governo paulista.

Risco vai além das crianças

O médico infectologista Gerson Salvador destacou a importância da escola pública para reduzir as desigualdades entre crianças mais pobres e mais ricas, além de oferecer um ambiente de segurança e contribuir para segurança alimentar das famílias. Ele confirmou que os estudos apontam um menor risco e menor transmissão do vírus por crianças e adolescentes, mas pondera que manter as escolas abertas mesmo em momentos de alta transmissão é arriscado e demanda um pacto social bem estruturado.

“É preciso observar que o conjunto da sociedade vai se mover com a volta às aulas em São Paulo. Mais gente na rua, mais gente no transporte público, mais contatos entre as pessoas. Além das crianças, pais, cuidadores, professores e outros profissionais também vão estar expostos”, alertou.

Seria o caso de garantir o fechamento de outros setores em caso de agravamento da pandemia, como bares, shoppings e restaurantes – que seguem abertos atualmente, apesar da piora na pandemia. E fiscalizar o cumprimento dos protocolos de segurança, como o uso de máscaras e evitar aglomerações, por exemplo.

A volta às aulas em São Paulo envolve 13,3 milhões de pessoas, entre estudantes, professores e outros trabalhadores, correspondente a 32% da população do estado. Destes, 2,3 milhões estão na educação infantil, 7,6 milhões nos ensinos fundamental e médio, 2 milhões no ensino superior, 1 milhão na educação complementar e 428 mil no ensino profissional.

Precariedades

Um estudo da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), em julho, apontou que a volta às aulas em São Paulo colocaria em risco cerca de 2,1 milhões de adultos e idosos que pertencem a grupos de risco para a covid-19 e vivem em casas com crianças e adolescentes em idade escolar.

Outro problema é a garantia do acesso a materiais de higiene para os estudantes. Um relatório de fiscalização do Tribunal de Contas do Município (TCM) revela que, em 2019, quase 26% das escolas municipais de ensino fundamental e médio da capital paulista não tinham papel higiênico nos banheiros dos estudantes. Somente 25% tinham sabonete líquido e 30% tinham papel toalha. O que garante que agora vai ter álcool gel, por exemplo?

Em Manaus (AM), apenas 15 dias após a volta às aulas, 342 professores de ensino médio da rede pública tiveram teste positivo para o novo coronavírus. Os dados resultaram de exames aplicados em 1.064 profissionais da educação da cidade, o que equivaleu a 32,2% de contaminação. A situação levou o governador Wilson Lima (PSC) a decretar adiamento por tempo indeterminado da retomada das atividades do ensino fundamental. O caso ocorreu em agosto desse ano.

Estudos sobre a volta às aulas

A volta às aulas em São Paulo anunciada hoje, se ampara em estudos recentemente divulgados mostrando que, além de serem menos afetadas pelo novo coronavírus, crianças e adolescentes também transmitem menos a doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), do total de casos diagnosticados, apenas 3,7% se deram em crianças e adolescentes menores de 14 anos. Dessas, 0,6% desenvolveram alguma complicação, como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, que embora grave, pode ser tratada e superada.

Artigo publicado na revista Nature sugere que o fato de as crianças serem menos suscetíveis à covid-19 se deve ao sistema imunológico delas. “As crianças estão muito adaptadas para responder e muito bem equipadas para responder a novos vírus”, explicou Donna Farber, imunologista da Universidade de Columbia em Nova York, na publicação.

No caso das crianças, a imensa maioria é assintomática. Dados do Inquérito Sorológico da prefeitura de São Paulo indicam cerca de 70% de assintomáticos nessa faixa etária na rede municipal de ensino. Outros estudos apontam até 90%. E quando apresentam sintomas, no geral, são leves.

Resposta rápida

Um outro estudo citado na Nature relata que três crianças menores de dez anos da mesma família desenvolveram anticorpos para o novo coronavírus. Duas delas apresentaram sintomas leves. E mesmo assim nenhuma delas teve resultado positivo no teste RT-PCR, em 11 tentativas realizadas durante 28 dias. Os pais das crianças testaram positivo.

“O sistema imunológico das crianças vê o vírus e simplesmente monta uma resposta imunológica realmente rápida e eficaz que o desliga, antes que ele tenha a chance de se replicar a ponto de dar positivo no teste”, disse Melanie Neeland, uma imunologista que estudou a família, no Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch em Melbourne, na Austrália.

Uma terceira pesquisa, chamados Kids Corona, realizado pelo Hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona, na Espanha, com 724 crianças com pelo menos um dos pais com covid-19 mostrou que cerca de 99% deles não apresentavam sintomas ou eram casos bastante leves. Além disso, 33,8% dos adultos ainda tinham carga viral na nasofaringe um mês depois, o que ocorreu com apenas 11,9% das crianças