Com discurso de pré-candidato à Presidência da República afiado, João Doria (PSDB-SP) disse que, em seu eventual governo, não haverá espaço para “Posto Ipiranga”, em uma clara crítica ao presidente Jair Bolsonaro, que nomeou o economista Paulo Guedes para comandar o Ministério da Economia e conduzir as reformas no país.
Doria, que anunciou no dia 31 de março sua saída do governo do Estado de São Paulo, disse que o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vai coordenar a agenda econômica do seu governo junto com as economistas Ana Carla Abrão, Vanessa Rahal e Zeina Latif. Ele contará também com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, na coordenação do seu programa de governo.
O ex-governador de São Paulo definiu-se como um “liberal social” e que seu programa de governo contemplará as agendas econômicas e sociais. “Antes de iniciar minha vida pública, há seis anos, eu era um liberal. Mas eu vi a dimensão real da pobreza quando assumi a prefeitura e o governo do Estado de São Paulo.” Durante a sabatina, Doria fez questão de dizer que não se vê como “antagonista” do atual presidente, Jair Bolsonaro, mas concentrou nele boa parte das críticas.
No campo econômico, o Doria falou de sua experiência de governo para explicar que, se eleito, vai promover as reformas administrativa e fiscal, além de complementar a previdenciária. Ele também criticou o negacionismo do governo em relação à crise sanitária. Uma das principais bandeiras de Doria é a vacinação contra a covid-19.
“Infelizmente, o Brasil ficou mais desigual. Nos últimos três anos, o que já era ruim, piorou, não apenas por causa da pandemia. Piorou pela ineficácia, inoperância e incapacidade do governo [federal] de realizar políticas públicas na área social, de educação, ambiental, econômica. Um conjunto de fracassos que está sendo pago pela população.”
Em 2018, Doria declarou apoio a Bolsonaro e encampou a dobradinha “BolsoDoria”. No início ano passado, contudo, o ex-governador disse que tinha se arrependido de ter apoiado o atual presidente.
Questionado sobre qual o papel os militares deverão ocupar no seu eventual governo, Doria foi taxativo: “Vamos resgatar o papel constitucional das Forças Armadas”. Segundo ele, neste atual governo, as Forças Armadas ultrapassaram as fronteiras do limite de seu papel. “Não há nenhuma área do atual governo, e não quero ser antagonista, que possa merecer um elogio.”
Doria lembrou do exílio de seu pai e disse que sempre respeitou os papéis do Exército, Marinha e Aeronáutica, mas que os dos militares serão bem definidos.
Para as questões ambientais, de diversidade e inclusão, o ex-governador disse que os programas já defendidos por ele no Estado de São Paulo deverão ser ampliados na esfera federal. Contudo, esses programas ainda estão em elaboração pelo coordenador Rodrigo Maia. Interrogado especificamente como ele discute a inclusão de maior participação feminina no PSDB, Doria informou que cabe ao partido, uma vez que ele não faz parte da executiva do PSDB, discutir o tema.
No entanto, Doria reforçou os programas de inclusão e diversidade do Estado paulista para dizer que é sensível aos temas. Também ressaltou a participação de duas de suas secretárias no governo, Patrícia Ellen (desenvolvimento econômico) e Celia Parnes (desenvolvimento social), nas idealizações dos planos de inclusão de sua gestão.
Doria também foi questionado sobre as prévias de seu partido, um assunto que é sensível ao ex-governador e que provocou um racha no PSDB. “Posso responder com fatos e meu próprio exemplo. Disputei prévias para prefeitura e para o governo de São Paulo. Venci a campanha à prefeitura no primeiro turno. Encontrei resistência para me candidatar ao governo de São Paulo.”
O pré-candidato disse que está se tornando um especialista em “romper com essas tradições e análises políticas”. De forma política, disse que o “PSDB é um partido democrático e que não tem dono”, mas que prefere viver num partido assim a estar num partido que tem dono.
O diálogo e o entendimento, de acordo com ele, deverão seguir o mesmo caminho para discussão de uma candidatura única à terceira via. “Vamos seguir com o MDB e também União Brasil, que deverá ter o seu candidato, mas no diálogo, no entendimento e na humildade, pensando não no candidato e no partido, mas nos brasileiros.”