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Donos de escola suspeitos de tortura em crianças são foragidos para polícia

Eduardo Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, donos da escola particular Pequiá - Reprodução
Eduardo Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, donos da escola particular Pequiá Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

26/06/2023 18h03

Os donos da escola particular Pequiá, na zona sul de São Paulo, já são considerados foragidos. A Justiça decretou hoje a prisão temporária deles por tortura contra crianças entre 2015 e junho deste ano.

O que está acontecendo

Inicialmente, o caso começou a ser investigado pela Polícia Civil no dia 15 deste mês por maus-tratos. Mas os episódios ocorridos na escola passaram a ser apurados como tortura - com pena de até 8 anos de prisão - por conta dos depoimentos e registros em foto e vídeo das crianças.

Donos negam acusações. A defesa de Eduardo Kawano e Andrea Carvalho Alves Moreira, os donos da escola investigados pelo crime de tortura, nega as acusações e alega inocência.

A Polícia Civil já ouviu três professoras e 13 pais de alunos. Entre eles, os responsáveis por cinco crianças entre 1 e 6 anos vítimas de maus-tratos neste ano.

A investigação ainda apura casos ocorridos em anos anteriores. Uma pedagoga que tirou a foto de uma criança obrigada a dormir dentro do banheiro em 2015 e a mãe de um menino amarrado junto a um poste em setembro de 2022 também foram ouvidas.
As crianças torturadas não tinham lesões porque foram submetidas a uma violência psicológica. Ele [dono da escola] foi descrito como mais violento. Ela [dona da escola] costumava gritar e xingar os alunos. É triste, revoltante é bizarro." Fabio Daré, delegado do 6º Distrito Policial (Cambuci)

O que mostram os vídeos e as fotos

Em um dos vídeos, uma menina de apenas 1 ano e 8 meses aparece recolhendo brinquedos e chorando. Em seguida, a dona da escola diz: "Guarda dentro da caixa" e ergue a criança com violência pelas mãos. "Pode guardar tudo isso aí! Agora! Pode recolher!", diz um homem. A voz é atribuída ao dono da escola.

Criança foi amarrada em um poste em escola particular investigada por tortura e maus-tratos na zona sul de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Criança foi amarrada em um poste em escola particular investigada por tortura e maus-tratos na zona sul de São Paulo
Imagem: Reprodução

Em uma das gravações, a dona da escola chamou de "louco", diante de outros alunos, uma criança de 5 anos com dificuldade para fazer suas necessidades fisiológicas.

Em uma foto, um menino aparece com os braços amarrados junto a uma viga de madeira dentro da escola (foto acima). Em outra, um aluno está sentado em um banquinho ao lado do banheiro, como forma de punição.

Sala escura e sem lanche: o que disseram os pais

As crianças relataram episódios em que eram levadas a uma sala escura como forma de punição, segundo depoimentos dos pais à polícia. Também costumavam ficar sem o lanche oferecido no café da manhã porque precisavam "comer rapidamente", de acordo com relato à Polícia Civil.

Os pais disseram que os alunos apresentaram mudanças de comportamento, como agressividade. Ainda segundo as denúncias, uma das responsáveis pelos cuidados com as crianças tem apenas 15 anos e não possui formação pedagógica.

[Um aluno relatou à mãe que viu o dono da escola] batendo na cabeça [da criança] por ter urinado nas calças, e que um dia o colocou apenas de fralda na presença de outros alunos e que colocou o menor nu na chuva como forma de punição."
Trecho do boletim de ocorrência

Relato de ex-professora da escola

A ex-professora da escola responsável pela denúncia feita em 2016 conversou com o UOL sobre o que presenciou no local. Segundo ela, os supostos episódios de tortura e maus-tratos já ocorriam no período em que trabalhava lá, motivando uma denúncia à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

A ex-funcionária depôs na última quinta-feira (22). À polícia, citou os casos de tortura e maus-tratos que diz ter presenciado, incluindo um relato de uma criança que teria sido obrigada a comer o próprio vômito.

A ex-professora da escola disse também ter levado os casos aos pais das crianças após pedir demissão. "Por não ter provas, acabei não conseguindo levar o caso adiante", disse.

Como a mãe de uma criança de 2 anos estava inadimplente, o diretor da escola servia todas as crianças no refeitório, menos essa menina. Ele também já obrigou uma criança a comer o próprio vômito. Ele pendurava os meninos em um portão de grade como forma de castigo." Ex-professora em entrevista ao UOL