Por G1 Zona da Mata


Formado em Filosofia, o professor Adriano Kassawara de Castilho tirou a nota mais alta da UFJF via SISU 2018. — Foto: Adriano Kassawara de Castilho/Arquivo pessoal

Por trás da nota mais alta do processo seletivo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está a história de paciência, maturidade e estratégia do professor Adriano Kassawara, de 28 anos. Ele teve a média de 816,22 no processo, que o permitiu ser o primeiro lugar para o curso de medicina na instituição em 2018.

Esta será a segunda graduação de Adriano, que já é formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e tem 28 anos. Antes de triunfar, porém, ele bateu na trave. Em 2016, não entrou na UFJF por um ponto, mas ajustou a estratégia, se deu um tempo para preparação e atingiu o objetivo: vai estudar na mesma faculdade onde o pai se formou.

Ao mesmo tempo que estudava para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ajudou outros alunos a se prepararem para a prova. Deu aulas particulares, em especial de redação e, nos últimos dois exames conseguiu ajudar duas alunas a tirarem nota 1,000 na redação. A curiosidade é que ele mesmo não alcançou o feito.

"A redação exige repertório e bagagem sociocultural. A minha formação anterior foi importante. Eu tirei 980 na redação. Pra falar a verdade, eu não me daria nota mil. O tempo foi apertado e a conclusão ficou corrida, acabei fazendo o que falo para meus alunos não fazerem. Meus alunos conseguiram tirar a nota que eu não tirei. Mas consegui o suficiente para ser aprovado", disse.

Nem a inclusão das aulas do curso na rotina irá afastá-lo das salas de aulas. A expectativa dele é continuar com os ensinamentos particulares nos dois primeiros anos da faculdade. "Vou ter menos horários que antes, mas vou manter meu trabalho. Pretendo continuar orientando quem quiser se preparar para cursos concorridos e vou usar os bons resultados das minhas alunas e os meus como exemplo", afirmou.

Faculdade de medicina, ufjf — Foto: Faculdade de Medicina da UFJF/Divulgação

Preparação estratégica

Ao longo de 2017, ele dividiu o tempo entre o trabalho com as aulas particulares e a própria preparação. Para isso, ciente de que as matérias da área de Humanas eram seu ponto forte, focou em reforçar as outras áreas exigidas no exame.

"O aluno precisa buscar estss assuntos que não domina tão bem, dar a eles maior dedicação e tempo e, se necessário, buscar auxilio especializado. Eu procurei videoaulas na internet. Há uma quantidade muito grande de informação para quem tiver a dedicação de procurar realmente os conteúdos necessários", comentou.

O fato de ter ficado na lista de espera por um ponto após o Enem 2016 foi um incentivo. Adriano disse que ponderou o que ficou faltando e ajustou a forma de se preparar no ano passado.

"Era uma nota boa, mas, se tivesse acertado uma questão a mais, teria passado. Naquele ano, não tive tempo suficiente para em preparar, outras demandas me impediram de me dedicar o suficiente para o estudo que eu precisava. Respirei fundo, mantive a estratégia e continuei. Deu certo", narrou.

A história dele, de buscar este novo sonho aos 28 anos, já com família e emprego, serve como exemplo para que os alunos não desistam nem se precipitem. “Alguns estudantes que enfrentam a reprovação aos 18 aos pensam que não vão conseguir. A minha experiência mostra que não é o fim, que tem que ter paciência. Este fracasso ensina uma lição, um amadurecimento para fazer escolhas melhores", comentou.

Faculdade de pai pra filho

Kassawara é de São Paulo, mas mora em Juiz de Fora porque gosta da cidade onde o pai nasceu. E foram razões familiares que deram prioridade ao curso da UFJF, desde que o exemplo familiar o inspirou a seguir o sonho de fazer medicina.

“Meu pai é obstetra e minha mãe é anestesista. Os dois trabalham em São Paulo porque minha mãe é de lá. Vou estudar na mesma faculdade que meu pai, o que torna a ocasião especial. Em 2016, eu consegui nota para fazer medicina em outras faculdades no Rio de Janeiro, mas meu objetivo era fazer medicina aqui, não queria sair de Juiz de Fora, então tentei outra vez", contou.

Segundo ele, os pais ficaram felizes porque o filho foi aprovado e com um resultado de destaque. O professor comentou que pretende seguir o caminho deles.

“O meu pai ficou mais emocionado com a aprovação do que esteve no dia do meu casamento. Demorou para cair a ficha. Para mim, é uma satisfação muito grande estar seguindo o caminho deles. Ser médico, dedicar a vida para ajudar os outros, trazer a cura, a saúde para os outros é uma missão muito bonita que espero seguir”, refletiu.

A UFJF era o objetivo de Adriano: "Em 2016, consegui nota para passar em duas universidades do RJ. Mas decidi tentar de novo. Eu queria fazer Medicina na UFJF", — Foto: Caique Cahon/Divulgação

Dicas de Adriano para vestibulandos:

  • Usar a tecnologia a favor: "Está todo mundo conectado mas, nas redes sociais e na internet, muitas vezes não é um bom uso, pedagógico e produtivo para quem está estudando. Todos estes recursos podem ser muito úteis e quem souber usar estas ferramentas estará um passo adiante dos outros concorrentes"

  • Construir base no ensino médio: “Faz 10 anos que concluí o ensino médio e ainda me lembro de muita coisa que aprendi, agora apenas recordei. Na época, eu me dediquei bastante, acompanhava a matéria, nunca deixei acumular conteúdo. Deixar para aprender depois ou no cursinho é mais trabalhoso”

  • Transformar "fracasso" em motivação: "É o que falo para meus alunos: a pessoa deve ter a convicção, a perseverança, paciência e humildade em fazer a preparação que ainda precisa para conseguir ser aprovado na faculdade que você quer"

  • Adquirir experiência de vida: "Os alunos que saem do ensino médio não têm a bagagem sociocultural para fazer a reflexão no nível que o Enem pede. E é o que eu tento passar a eles: ampliar o repertorio e a visão de mundo é o caminho para conseguir ter uma nota boa na redação, sem ela não consegue passar em curso concorrido"

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