Brasil Educação

Documentário sobre ocupação de escolas em São Paulo terá sessão hoje no Rio

‘Primavera estudantil’ de 2015 chega às telas de cinema

Estudantes secundaristas protestam nas ruas de São Paulo contra o projeto de reestruturação da educação no governo do estado; Manifestações foram reprimidas com truculência pela polícia
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Estudantes secundaristas protestam nas ruas de São Paulo contra o projeto de reestruturação da educação no governo do estado; Manifestações foram reprimidas com truculência pela polícia Foto: Divulgação

RIO - “Não tem arrego”. O recado simples e direto foi dado por estudantes de cerca de 200 escolas de São Paulo ao governador do estado, Geraldo Alckmin, no final de 2015. A história por trás da resistência dos alunos, que ocuparam os colégios durante quase dois meses, está registrada no filme “Escolas em luta”, que será exibido hoje, em sessão especial, às 21h15, no cinema Estação NET Botafogo.

Mobilizados contra a reorganização escolar proposta pelo governo estadual, os estudantes se organizaram para evitar o fechamento de cerca de 90 unidades escolares. O projeto pretendia remanejar cerca de 300 mil alunos e dividi-los por ciclos e idades, separando assim os alunos mais velhos dos mais novos. Foi revogado após a pressão estudantil.

— Foi um movimento que se articulou de maneira inédita no Brasil e com uma inteligência política muito surpreendente. O filme revela a insatisfação de parte de uma geração de estudantes que num despertar de consciência vislumbrou que o futuro educacional planejado pelo governo não condizia com a projeção de cidadania que desejavam para si próprios — comenta Tiago Tambelli, que dividiu a direção do filme com Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques.

A história vivida por protagonistas adolescentes traz à tona a precarização da educação pública e a falta de diálogo entre o governo e a comunidade escolar. A reação dos alunos paulistas reflete ainda a insatisfação geral nos bancos escolares brasileiros: os estudantes ficam à margem das tomadas de decisão no ambiente escolar.

“(A escola)é um espaço que deveria ser seu, só que não é. Contestar o sistema de ensino e ver que tem outras formas que funcionam é maravilhoso”, diz, no documentário, uma das estudantes que participaram do movimento.

A necessidade de rediscutir a escola e seu formato de ensino aparece nos debates travados pelos estudantes ao longo da ocupação. Eles revelam uma necessidade de aproximar a educação do cotidiano, com a abordagem de questões fundamentais como o preconceito às minorias.

“A escola que eu quero é uma escola livre, onde todo mundo seja igual e diferente ao mesmo tempo”, sintetiza outra estudante durante as ocupações.

Mas nem só de flores viveu a chamada “Primavera Secundarista”. O filme retrata os abusos policiais sofridos pelos alunos, em sua maioria menores de idade, durante protestos e tentativas de reintegração de posse. A truculência aparece, principalmente, em vídeos produzidos pelos jovens ao longo das ações e divulgados na internet. Segundo Tambelli, esse fator foi determinante para o desfecho das mobilizações.

— O governador perdeu a disputa justamente por conta da truculência da polícia dentro e fora das escolas. Nesse caso, a opinião pública atuou de maneira contundente e isso fez com que a popularidade do governo caísse nesse período. Ele então recuou na decisão de manter a reorganização da maneira como estava fazendo.

Os diretores denunciam, no entanto, durante debates após a exibição do filme — que está em cartaz até o dia 1º de abril no CineSesc Augusta, em São Paulo — que, apesar do recuo do governo sobre a reestruturação total do sistema, muitos estudantes que participaram do movimento acabaram transferidos forçadamente de suas escolas. Relatam ainda casos de alunos que foram fichados pela polícia, como o documentário mostra, e depois sofreram até mesmo perseguições pelas forças policiais. Em um movimento horizontal, sem a proeminência de apenas uma liderança, as ocupações estudantis de São Paulo são tratadas como um marco na mobilização da juventude nos últimos anos.

— O que surpreendeu a sociedade foi o fato de um movimento com essa força nascer no seio de uma escola já precarizada. A sociedade não esperava que diante de tamanha precarização pudesse surgir uma utopia, o sonho por uma educação pública de qualidade. O legado que esses estudantes deixaram é a possibilidade de esperança de uma nova educação pública para seus filhos — opina Tambelli.

Aqueles que desejarem realizar uma exibição sem custos do documentário podem se cadastrar no site www.taturanamobi.com.br .