SOS Rio Grande do Sul
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Por — Rio de Janeiro

Há mais de 20 dias com as salas de aula vazias devido às chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul, escolas menos afetadas começaram a retomar as atividades presenciais com o desafio de recuperar o tempo perdido de aprendizagem. Diante de uma situação tão grave quanto a gerada na pandemia, na qual milhares de estudantes e professores estão desabrigados, especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que no pós-tragédia as instituições precisam focar em identificar os alunos afastados, ampliar as atividades curriculares com ensino integral e híbrido, além de optar pela não reprovação.

Das 2.340 escolas estaduais, 1.752 já retomaram as aulas com mais de 495 mil alunos, de acordo com a última atualização da Secretaria Estadual ria de Educação (Seduc). Entre as que ainda não estão em condições de receber estudantes, 233 sequer têm data prevista para retomar as atividades. Elas atendem cerca de 91 mil crianças e adolescentes. Apesar de não haver um levantamento sobre a faixa etária e séries mais prejudicadas, a Seduc informou que a rede estadual abrange principalmente alunos do ensino fundamental (1º ao 9º ano) e do ensino médio.

Professora de educação infantil em Canoas, uma das cidades que mais sofreu com as chuvas, Ariane Feldmann, de 39 anos, está apreensiva com a demora no retorno das aulas dos filhos, que estão no 9º ano e no 1º ano do ensino médio. Carlos Feldmann, de 17 anos, estuda na escola Barão do Amazonas, que ainda não foi reaberta. Segundo a professora, o desafio está na dificuldade de aprendizado do jovem, que tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

Cenário no RS — Foto: O Globo
Cenário no RS — Foto: O Globo

— Fico preocupada porque já existe uma defasagem que vem da pandemia, e sem acompanhamento pedagógico mais estruturado, a tendência é que o Carlos, especialmente, tenha ainda mais dificuldade com matemática — relata Ariane.

Para tentar recuperar o período de quase um mês perdido, a especialista em educação Claudia Costin, ex-diretora global de educação do Banco Mundial, explica que será preciso implementar alternativas de reorganização da rede que vão desde remanejamento de estudantes para escolas próximas e outros espaços públicos, até instalação de antenas de internet e ampliação do ensino híbrido, que foi uma das ferramentas usadas na pandemia.

— O ideal agora é reabrir as escolas que têm condições e pensar na possibilidade de realocar alunos ou até mesmo adaptar espaços públicos para receber os estudantes. O ensino remoto também é importante, e atividades virtuais podem ajudar a complementar a carga curricular, junto a avaliações para saber o nível de aprendizado — diz Claudia.

A readaptação de locais públicos para servir de salas de aula é uma realidade na Ucrânia, que vive um contexto de guerra desde 2022. De acordo com a doutora em direito internacional Priscila Caneparo, as autoridades chegaram a construir salas de aula em estações de metrô, a fim de proteger os alunos dos mísseis. O sindicato dos trabalhadores da educação também vêm defendendo um aumento salarial para os professores ucranianos para mantê-los na profissão e motivá-los a regressar ao país.

— Desde o início da guerra, estima-se que cerca de 7 milhões de estudantes viram as suas vidas educacionais interrompidas abruptamente. Mais de 1.300 escolas foram completamente destruídas. Esses investimentos têm ajudado a minimizar os efeitos que ainda são graves, junto à iniciativa de construção de abrigos antibombas para as escolas — afirma Priscila.

Procurada, a Seduc afirmou que todas as escolas receberam materiais com orientações para o acolhimento dos estudantes e funcionários como primeira ação pedagógica a partir da retomada das atividades. A secretaria ressaltou que a crise afetou de maneiras diferente as regiões do estado. E que, portanto, o calendário escolar não será homogêneo. “Em um mesmo município, algumas escolas podem retornar, enquanto outras, não”, afirmou a Seduc, em nota.

Evasão escolar

A situação de calamidade vivida pelos gaúchos também aumenta a possibilidade de evasão escolar, segundo a presidente executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. Para a especialista, o primeiro passo para evitar que os alunos fiquem sem estudar é identificar alunos fora da escola, criar vagas remanescentes e fazer inventários das escolas que não podem ser reconstruídas para já iniciar a criação de novas unidades.

Já pensando em reduzir a defasagem no ensino, o ideal é, segundo Cruz, ampliar as turmas de período parcial para integral, a fim de que atividades complementares possam ser realizadas no contraturno. Essa jornada pode ser idealizada no modelo híbrido, levando em consideração se o aluno tem acesso ou não à internet. Parte desse tempo também deve ser usado para escuta socioemocional das crianças e dos adolescentes.

— A pandemia mostrou que a recuperação não vem ao longo dos anos, ela precisa acontecer nos próximos meses. Por isso, a exposição à aprendizagem deve ter no mínimo 7 horas. Outro ponto importante, deixado de lição por desastres como o furacão Katrina e a guerra na Ucrânia, é que investimento em infraestrutura e na saúde mental dos alunos e professores requer atenção, com psicopedagogos capacitados para ouvir as demandas — avalia.

Outras alternativas apontadas pela presidente do Todos pela Educação é adiar o período de férias de dezembro e janeiro para abril de 2025 para conseguir estender o calendário escolar; contratar mais professores para atender às demandas de aulas extras; e evitar a reprovação de alunos, visto que isso pode desmotivar e gerar evasão.

Na última semana, o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação publicaram uma resolução que estabelece diretrizes para a retomada das aulas na educação básica e superior no Rio Grande do Sul. Segundo a resolução, o cumprimento da carga horária mínima do ano letivo poderá ser realizado em 2025.

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