Educação

Djamila Ribeiro: “É preciso sair da bolha para conseguir se comunicar”

Djamila Ribeiro: “É preciso sair da bolha para conseguir se comunicar”

A filósofa e ativista fala sobre o movimento feminista negro, questões étnico-raciais e sua estreia na TV com programa de entrevistas no Canal Futura

REDAÇÃO DA FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO
07/06/2017 - 18h29 - Atualizado 07/06/2017 19h26

Ex-secretária de Direitos Humanos de São Paulo, mestre em filosofia e ativista do movimento feminista negro, Djamila Ribeiro tornou-se uma das vozes mais relevantes da atualidade na área de direitos humanos. Levantando debates como questões de gênero, racismo e identidade, ela estreia como apresentadora à frente do programa Entrevista, do Canal Futura, em que recebe convidados para destrinchar temas relacionados a cultura, questões étnico-raciais e juventude. Entre os entrevistados estão a cantora Liniker, a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e a MC Linn da Quebrada.

Djamila Ribeiro (Foto: FRM)


   

Em entrevista, Djamila fala sobre seu envolvimento com movimentos sociais, iniciado a exemplo do pai, militante do movimento negro – “Racismo estrutura todas as relações, não podemos falar de nenhum tema no Brasil sem falar de racismo” –, e destaca a importância de aprofundar e comunicar essas questões em um espaço de grande alcance, como a televisão. “Acho incrível poder debater esses temas de forma acessível para atingir a população que, muitas vezes, não tem acesso a esse debate”, diz. As entrevistas vão ao ar no Futura de segunda a quinta-feira, às 22h15, e ficam disponíveis na plataforma Futuraplay.org.

ÉPOCA - Você é uma das principais representantes do movimento feminista negro. Pelo que você luta e quando iniciou sua trajetória à frente do movimento?
Djamila Ribeiro - Meu pai era militante do movimento negro e desde cedo tive contato com esse debate. Porém, só fui aprender mais e me sentir parte dele quando comecei, no final da adolescência, a trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, uma ONG da cidade de Santos. Lá, tive oportunidade de conhecer a produção intelectual das mulheres negras e ver o mundo por outra ótica. Fora isso, também fui voluntária da Educafro, cursinho pré-vestibular para pessoas das classes sociais menos favorecidas. Acredito muito na educação como ferramenta de libertação.

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ÉPOCA - Você está à frente da nova temporada do programa Entrevista, do Canal Futura, que vai abordar cultura, questões étnico-raciais e juventude. Que assuntos debatidos na coletânea de entrevistas você destacaria?
Djamila - Destacaria a questão da segurança pública, direitos da população indígena e a violência contra a juventude negra. O programa versa sobre o debate dos direitos humanos por várias perspectivas e vozes, o que é extremamente rico. Temos, por exemplo, a vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, falando sobre a chamada política de pacificação, reorganização do espaço público, guerra às drogas e também sobre a presença feminina na política.

ÉPOCA -  Qual a importância de aprofundar questões sensíveis às mulheres – principalmente na TV, veículo com grande alcance e penetração nas casas brasileiras?
Djamila - O programa traz conversas sobre violência contra as mulheres e sobre questões que afligem as mulheres trans, por exemplo. Acho incrível poder debater esses temas de forma acessível para atingir a população que, muitas vezes, não tem acesso a esse debate. Sair da bolha e comunicar é essencial.

ÉPOCA - Estamos vendo o racismo ser muito mais discutido e questionado. Em outros momentos, você afirmou que o racismo é estrutural e estruturante. O que isso quer dizer e, em sua opinião, a que se deve a ampliação do debate em torno da cultura racista no Brasil?
Djamila - 
Racismo estrutura todas as relações sociais. Isso quer dizer que é um elemento que produz desigualdades profundas. Foram mais de 300 anos de escravidão, um grupo sendo subjugado e outro se beneficiando da opressão. Não podemos falar de nenhum tema no Brasil sem falar de racismo. No caso das mulheres, por exemplo, a combinação de racismo e machismo coloca as mulheres negras num lugar de maior vulnerabilidade. São as que ganham menos e sofrem mais violência. Existe um trabalho histórico do movimento negro e feminismo negro. Hoje, seguimos dando voz e novos contornos a um caminho que já vem sendo construído.

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ÉPOCA - No que diz respeito à juventude, em sua opinião, quais políticas públicas são mais urgentes para esse grupo da sociedade?
Djamila -
Em relação à juventude negra, a questão da violência policial, sem dúvida. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. É preciso uma outra política de segurança pública. A questão do acesso à educação de qualidade é outro fator essencial, além de políticas públicas de saúde eficientes para as jovens mulheres.








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