05/09/2017

Diversidade Sexual Na Escola: Ideologia, Desafio ou Realidade Contemporânea?

DIVERSIDADE SEXUAL NA ESCOLA: IDEOLOGIA, DESAFIO OU REALIDADE CONTEMPORÂNEA?

 

[1]Antonio Gomes.

toninhoppl@gmail.com

[2]Profa. Dra. Edione Teixeira de Carvalho professora 

edione.carvalho@svc.ifmt.edu.br

3Cilene Maria Lima Antunes Maciel

cilenemlamaciel@gmail.com

4Cleonice Terezinha Fernandez

Cleo_fernandez@hotmail.com

 RESUMO

Este trabalho possibilita uma reflexão sobre as questões que envolvem a temática da diversidade sexual na escola como uma alternativa de difundir a cultura da paz, do respeito à diversidade e da promoção de um ambiente harmonioso. Trata-se de um resgate de convergências de pensamentos e da própria legislação que anseia por uma convivência escolar pautada no respeito e na tolerância pertinentes às questões de opção sexual. Aspira-se a um diálogo com outras áreas do conhecimento, como a psicologia, a sociologia e o ensino, além de discutir sobre a diversidade com ênfase no gênero e sexualidade na perspectiva de contribuir para o entendimento dos profissionais da educação e das famílias, no intuito de fomentar a cultura da aceitabilidade para com as pessoas com orientação/condição sexual diferente do padrão estabelecido pela sociedade. Foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica intensa, a partir da perspectiva de diversos pensadores a respeito da questão, com a finalidade de proporcionar uma reflexão que urge de uma desconstrução mitos e reconstrução de um novo pensamento que venha a nortear ações na escola, ações estas capazes de contribuir para a compreensão e assimilação desta temática dentro da comunidade escolar.

Palavras-chave: Cultura da paz; respeito; sexualidade; tolerância.

ABSTRACT

This work allows a reflection on the issues that involve the theme of sexual diversity in the school as an alternative to spread the culture of peace, respect for diversity and the promotion of a harmonious environment. It is a rescue of convergences of thoughts and of the legislation itself that longs for a school coexistence based on respect and tolerance pertinent to the issues of sexual choice. It aims at a dialogue with other areas of knowledge, such as psychology, sociology and education, as well as discussing diversity with emphasis on gender and sexuality in order to contribute to the understanding of education professionals and families in the in order to foster the culture of acceptability towards people with a sexual orientation / condition different from the standard established by society. An intense bibliographical research has been developed, from the perspective of several thinkers on the subject, with the purpose of providing a reflection that urges a deconstruction of myths and the reconstruction of a new thought that will guide actions in the school, actions that are capable of contribute to the understanding and assimilation of this theme within the school community.

Keywords: Culture of peace; respect; sexuality; tolerance.

1 INTRODUÇÃO

Torna-se impossível perceber que desde tempos remotos a complexidade da sexualidade humana, bem como a admissão da existência da diversidade sexual, fora e ainda são rechaçadas na sociedade e na escola, ocasionando não rara a discriminação e a exclusão de estudantes que não se enquadram nos padrões heterossexuais estabelecidos e prestigiados socialmente. No entanto, “a sexualidade ganhou um evidente destaque nas sociedades contemporâneas. Conversas sobre sexualidade e sexos são muito frequentes na mídia, nos papos entre amigos, na família, na escola etc.” (SOUZA e GALINDO, 2012, p. 38). Entre as instâncias mencionadas, na família ainda o predomina o tabu, em virtude de vários posicionamentos, entre eles o religioso.

Dessa forma, a pesquisa visa discutir tal temática com ênfase na diversidade e no gênero, com olhares voltados para a realidade escolar. Realidade essa convivida diuturnamente por estudantes que são agredidos por apresentarem comportamentos e caraterística homossexuais, sendo que, na maioria das vezes, esses estudantes agredidos são provenientes do sexo masculino.  “Meninos e meninas são discriminados em relação ao seu comportamento de gênero e orientação sexual não correspondem à heteronormatividade e os referenciais de gênero dominantes”. (SOUZA, GALINDO e BERTOLINE, 2012, p. 122). Em um ambiente como a escola, onde é comum xingamentos, os termos “veado” e “sapatão”, são muito usados como forma de agressão, pelo fato dos demais não aceitarem as diferenças, como preconizam Ribeiro e Leandro (2012) na obra Formação de educadores, gênero e diversidade.

Essa investigação científica considera a importância de alguns componentes, entre eles pode se citar: observação na escola, reunião de grupos, discussões da Conferência Municipal de Educação, entre outros. Quantos aos aportes teóricos faz-se necessário se reportar para a Declaração Universal dos Direitos Humanos; Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs); Foucault: História da sexualidade volumes I, II e III, (1984); Reis, (2009): Homofobia e a escola; Junior, (2010); rompendo a Mordaça: representações de professores/as no ensino médio sobre homossexualidade. Versando sobre a diversidade, com caráter de aceitabilidade e respeito na tangente da orientação sexual e dignidade da pessoa humana, urge uma reflexão e menção de que a cultura de violência não é construída na escola, e, tampouco, esta comunga com tal ideologia, conforme salientam os atuais Planos da Educação[3].

Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica a partir da perspectiva de diferentes pensadores cuja as ideias convergem para uma melhor compreensão sobre temática DIVERSIDADE SEXUAL NA ESCOLA: IDEOLOGIA, DESAFIO OU REALIDADE CONTEMPORÂNEA.

Aspira-se a um diálogo com outras áreas do conhecimento, como a psicologia, a sociologia e o ensino, além de discutir sobre a diversidade com ênfase no gênero e sexualidade na perspectiva de contribuir para o entendimento dos profissionais da educação e das famílias, no intuito de fomentar a cultura da aceitabilidade para com as pessoas com orientação/condição sexual diferente do padrão estabelecido pela sociedade.   

2 REMOVENDO BARREIRAS: Uma reflexão necessária sobre as questões de diversidade sexual na escola.

Para muitos, a orientação/condição sexual das pessoas sempre foi vista como tabu e comentada de forma depreciativa em todos os setores da sociedade, configurando-se de forma cruel e preconceituosa dentro do ambiente escolar. Depreciações e preconceitos que são manifestados pelo mundo tradicional e machista, adentram a instituição familiar, configurado como aparelho ideológico. Sobre isso, em relação às meninas, o preconceito é bem menor. É aceitável aparentemente pela coletividade. Dessa forma, pode-se perceber que a ameaça à cultura de paz (como preconiza o PNE 2011-2020, estratégia 7.23), pura e exclusivamente é advindo do meio familiar, a partir do momento que esse incentiva, fomenta, concatena e permite que seus membros desrespeitem as pessoas com orientação sexual diferente.

Entende-se que esse é o momento da escola e da sociedade iniciar um diálogo no sentido de estabelecer a liberdade de expressão sobre tal questão. Pois, constantemente em nossas escolas, sejam elas dos mais variados níveis e modalidades de ensino, pública ou privadas, sempre nos apresentam situações que configuram cenas de homossexualidade. Por que ainda essas cenas não são aceitas? Seria isso uma confirmação de que já temos arraigado em nossa consciência o preconceito e a discriminação, advindo do contexto familiar, para com as pessoas com condições sexuais diferentes? 

O mundo aspira uma sociedade livre de preconceitos e discriminações para com as pessoas com orientação/condição sexual diferente em relação ao padrão estabelecido pela sociedade, para tanto, é necessário iniciar um trabalho de redefiniçao dos conceitos, iniciando pela família, perpassando pela escola, as quais interagem de forma direta e constitui uma das principais agências socializadoras da sociedade. Sobremaneira, entende-se que essa abordagem é algo de nível nacional e universal, necessita de ajustes que precisam iniciar na base, nesse caso na educação familiar.

Conforme enfatiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos é necessário atentar para a maneira de ensinar as crianças a respeitar o “diferente”, a diversidade, os direitos e deveres. “É necessário que as diferentes crenças e valores, as dúvidas e os questionamentos sobre os diversos aspectos ligados à sexualidade encontrem espaço para se expressar”. (PCN, 2001, p. 128). Sempre salientando a necessidade de uma sociedade livre e democrática, onde é necessário haver respeito, para que possa prevalecer a sensação da cultura da paz nos ambientes, inclusive nos escolares, certamente fará a diferença e teremos resultados positivos.

Ultimamente, há várias indagações a respeito da temática gênero e sexualidade, bem como discursos surgidos a partir de diversas situações sobre a condição sexual. Indagações essas, que em sua grande maioria, apresentam algumas distorções quanto à forma de expressão por parte de alguns agentes, sendo que às vezes estas até chegam a soar de forma preconceituosa, com ar de deboche em relação à expressão da sexualidade. “Todo passado da humanidade contribui para estabelecer esse conjunto de princípios que dirigem à educação de hoje, toda nossa história aí deixou traços, como também o deixou a história dos povos que nos precederam”. (DURKHEIM, 2010, p. 44).

Tais comportamentos oriundos da sociedade, e que sutilmente estão chegando dentro das instituições escolares, ameaçam a sensação da cultura da paz, como se a cultura da violência fosse nata do ambiente escolar.  Como embasamento teórico sobre essa temática, este trabalho se fundamenta em Foucault em uma de suas obras, intitulada a História da Sexualidade (1984), volumes I, II e III, literatura que retrata a vida sobre a visão vitoriana no século XVII, em que as práticas sexuais não procuravam segredos, as palavras eram ditas abertamente. Trata-se em determinar socialmente as razões de ser; do regime de poder-saber-prazer que sustenta a sociedade para apresentar o discurso sobre a sexualidade humana, em que as regras morais prevaleciam e estabeleciam as normas e as etiquetas.

Também se apoia no texto “Como lidar com um estudante que se veste assim? ” Uma reflexão sobre sexualidade e gênero, artigo da Revista Nova Escola (2015), o qual retrata sobre uma criança que foi discriminada pelo fato de usar trajes femininos na escola. Culminando com essa vertente, apresenta-se as contribuições de Reis (2009), como o artigo intitulado: “As associações LGBTs, e a escola e Psicologia e a questão da violência nas escolas”, que traz informações inerentes à questão de gênero e sexualidade com o olhar voltado para a escola. O texto “Educação e diversidade: reflexos e desafios” Prado e Chagas, (2013), será de grande valia, pois esses autores, assim, como Reis, apresentam situações do cotidiano, que apresenta uma reflexão sobre como essa situação está posta na realidade escolar.  Além destas contribuições, observações em documentos oficias dos governos, Federal, Estadual e Municipal com ênfase nos planos educacionais, nas metas e ações que mencionam, fomentam e articulam sobre a temática em discussão. 

Em relação à política de inclusão, o PNE salienta que:

Garantir políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à capacitação de educadores para detecção dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas para promover a construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade. (Grifo nosso. PNE, 2001, p. 22).

Pois bem, se por um lado a própria legislação estabelece que tais políticas sejam pensadas e desenvolvidas com o intuito de combater a violência na escola, essa violência aqui estabelecida, imagina-se que ainda faltam mais especificações. Por mais que a legislação busque de forma exclusiva com caráter inclusivo, a ideia de combater tais atitudes, ela também deveria ser mais clara e detalhar sobre o que, ou quem ela irá proteger de tal violência. Dessa forma, no mesmo parágrafo a legislação menciona sobre violência doméstica e sexual. 

Tais cenas para um determinado público são consideradas normais, enquanto que para outro é totalmente inaceitável.  Nesse sentido, faz-se necessário refletir sobre a feminilidade no interior da escola. Pois, as mulheres se abraçam, se beijam, trocam carícias, entram juntas em um mesmo banheiro; enfim, agem de forma comum, e são vistas e quistas como sendo ‘boas amigas’. Tudo termina bem, sem constrangimentos e agressões, os outros nem sequer tecem julgamentos de valores que possivelmente haja entre elas algo além da amizade. Essas são algumas observações que urgem serem discutidas dentro da escola, com intuito de entender o que pensam as pessoas a respeito da política de gênero e, acima de tudo, em relação à condição sexual e o relacionamento gay, pois ainda existem pessoas, que discriminam esse relacionamento entre homens.  Reis (2009) salienta que:

A escola é um lugar privilegiado para promover a cultura de respeito às diferenças, à diversidade e de inclusão social, rumo a uma verdadeira democracia em que todos os cidadãos e todas as cidadãs possam conviver com igualdade e sem discriminação. O papel da escola e do/da profissional de educação nesse processo é fundamental. É através da educação que a promoção dessa cultura pode acontecer da forma mais efetiva, moldando novos valores e atitudes de respeito e paz, desconstruindo velhos e arraigados preconceitos, formando cidadãos e cidadãs que comporão uma sociedade mais justa. A homossexualidade ainda é um tema cercado de preconceitos em nossa sociedade. O preconceito, de modo geral, surge em razão de falta de conhecimento – sendo esta uma lacuna que compete à escola preencher. E o preconceito, quando colocado em prática, se transforma na discriminação que, inclusive, marginaliza as pessoas cuja sexualidade é diferente da “ortodoxa”.  (REIS, 2009, p. 2).

Quando Reis (2009) menciona promover a cultura de respeito sobre as diferenças, à diversidade e à inclusão social, ele retoma a vertente do PNE, quando fala em diminuir a violência na escola. Ao olhar essas situações, reporta a ideia de que a escola é violenta. Porém, acredita-se que a escola não produz e nem compactua com essa política. Quando Reis (2009), e PNE abordam situação sobre a política de gênero, ao mesmo tempo enfatizam a adoção das providências adequadas, para promover a construção da cultura de paz, e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade. Nesse sentido, vale questionar sobre quais providências adequadas são estas, uma vez que, constantemente são reportadas via mídia, perseguições, desrespeitos, agressão, espancamento, e até mesmo morte.  

Quanto ao entendimento, respeito e aceitação das diferenças, no tocante à sexualidade das pessoas, ainda predomina um grande mal-entendido sobre a temática política de gênero que tem causado grandes desconfortos nas pessoas ao discutir em alguns estabelecimentos, inclusive dentro da própria escola, nas reuniões de sala de formação continuada.

Segundo Souza e Rocha (2012):

“Tradicionalmente, sexo e gênero têm entrelaçamentos em que o primeiro estabelece as possibilidades de configuração do segundo”. (P. 78) define o gênero como “ (1) um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e (2) o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder”. (SOUZA e ROCHA, 2012, p. 78).

Dessa forma, pode-se dizer que o gênero extrapola a materialidade do corpo, mas também, ao assumir um sexo, reitera os discursos que regulam e constrangem. Até quando a escola e a sociedade ficarão disfarçando tal realidade de entendimento em relação à sexualidade e ao gênero na contemporaneidade? 

 De acordo com dicionário Aurélio de Língua Portuguesa (1988), gênero tem várias definições, entre elas pode-se mencionar algumas, tais como: grupo de espécies que entre si têm certas analogias; classe; modelo; propriedades de algumas classes de palavras, notadamente substantivos e adjetivos, que apresentam contrastes de masculino, feminino e por vezes neutro, que podem corresponder a distinções baseadas nas diferenças de sexo; conjuntos de propriedades atribuídas social e culturalmente em relação ao sexo dos indivíduos. Daí a complexidade da discussão sobre esse tema.

Wolf e Saldanha (2015) definem gênero da seguinte maneira:

   [...] tem duas partes e diversas subpartes. Elas são ligadas entre si, mas deveriam ser distinguidas na análise. O núcleo essencial da definição repousa sobre a relação fundamental entre duas proposições: gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e o gênero é um primeiro modo de dar significações às relações de poder. (p. 35, apud, Scott 1990, p. 86).

Tanto para Rocha e Souza (2012), quanto para Wolf e Saldanha, (1990), o gênero pode significar principalmente a diferença entre os homens e as mulheres. Pode ser usado como sinônimo de sexo e também na referência as diferenças sociais. Assim, torna-se pertinente, nesse sentido, a definição de gênero que a Biologia apresenta: gênero é um termo utilizado para classificação científica e agrupamento de organismos vivos formando um conjunto de espécies com características morfológicas e funcionais, refletindo a existência de ancestrais comuns e próximos. 

Os PCNs apontam que desde muito cedo, são transmitidos padrões de comportamentos diferenciados para homens e mulheres.  A cima de tudo é percebível que o conceito de gênero diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero torna-se o desenvolvimento das noções de “masculino” e “feminino” como construção social. Vejamos:

A flexibilização dos padrões visa permitir a expressão de potencialidades existentes em cada ser humano, que são dificultadas pelos estereótipos de gênero. Como exemplo comum pode-se lembrar a repressão das expressões de sensibilidade, intuição de meiguice nos meninos ou de objetividade e agressividade nas meninas. As diferenças não devem ficar aprisionadas em padrões preestabelecidos, mas devem ser vividas a partir da singularidade de cada um, apontando para a equidade entre os sexos. (Retrato da escola, vol. 10, 2001, p. 144).

Diante do exposto, sobre a significação de gênero, e, pensando na diversidade, essa discussão tem causado vários descontentamentos em muitos espaços, entre eles os escolares. Assim, percebe-se que errônea é a interpretação no sentido de aguçar ainda mais a curiosidade em busca de responder: qual é o papel do homem e da mulher na atual sociedade, dentro da concepção da política de gênero? Por outro lado, refletir a forma de como se tem constituído a gênese da temática gênero ao longo do século e como ele está sendo entendido e interpretado na sociedade, na família e na escola.

Contudo, deve-se levar em conta que a visão do Plano Estadual de Educação – PEE (2014), do Estado de Mato Grosso, exclusivamente na meta 2, na estratégia 13, estabelece a seguridade do “desenvolvimento de projetos curriculares articulados com a base nacional comum, relacionados a Educação Ambiental, a Educação das Relações Étnico Raciais e dos direitos humanos, gêneros, sexualidade e música”. Como se pode perceber, a própria legislação, agora com caráter estadual, que culmina com nacional, se apresenta com a mesma roupagem, quando salientam sobre sexualidade e gênero.  Com a mesma visão, pode-se também perceber que essa situação comunga com os artigos segundo e sétimo, da Declaração dos Direitos Humanos (1948), quando estabelecem:

Artigo 2.º. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. (grifos nossos. p. 7).

Ao observar todas as ponderações a respeito das temáticas sobre política de gênero/diversidade, bem como, sobre sexualidade, balizado no direito mencionado na Constituição Federal, na Declaração dos Direitos Humanos em outros documentos, constatamos que há ainda várias argumentações no sentido de melhorar o entendimento e a compreensão em relação à orientação sexual.

Como se percebe, a Declaração dos Direitos Humanos, ao estabelecer em seu Artigo Segundo, que “todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo” transmite a ideia que todos são livres para viver a sexualidade, em qualquer ambiente e local. Contudo, o que acontece na sociedade não é a mesma coisa, uma vez que esta lança fora e obriga a considerar outros interesses, que ensina a dominar as paixões e os instintos.

Diante isso, Foucault, salienta que:

Um espírito cuidadoso indagaria talvez se tantas preocupações para atribuir a história do sexo um patrocínio tão considerável não traz consigo atrações antigos poderes: como se fosse preciso nada menos do que essas correlações valorizantes para que tal discurso pudesse ser proferido e aceito. (1984, p. 11).

Dessa forma, se percebe que para o autor, não há nada de anormal e imoral no que diz respeito ao sexo. Mas esse mesmo autor, de forma categórica, chama a atenção para a questão da valorização para com a sexualidade e ao mesmo tempo alerta para a questão da aceitabilidade, sendo essa, uma das peças fundantes da personalidade humana.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Uma vez que tal temática é pensada e desenvolvida na escola, com seus atores e autores, se crê e aspira que esta reflexão, que visa discutir a temática DIVERSIDADE SEXUAL NA ESCOLA: IDEOLOGIA, DESAFIO OU REALIDADE CONTEMPORÂNEA, seja uma possiblidade de compreensão e entendimento dos vários dilemas que constantemente tem afetado o processo de ensino aprendizagem, bem como possa servir de suporte e apoio aos que estão direta e indiretamente envolvidos com a temática e o ambiente escolar.

Além disso, a temática se faz premente na sociedade contemporânea, e de forma particular, nas escolas de modo em geral. Contudo o contexto atual urge compreender e aprender a conviver de forma respeitável e harmoniosa com as questões de diversidade sexual, bem como, buscar alternativas que possam possibilitar a quebra de tabus, que sobremaneira vem interferindo e refletindo de forma acentuada no processo de ensino aprendizagem.

 Portanto, aspira-se que professores sejam despertados sobre a necessidade de um olhar mais aguçado sobre as questões e fatores homofóbicos no sentido de poder contribuir de forma direta com a difusão de ações informações que culminem na propagação da paz e do respeito à diversidade sexual no ambiente escolar, promovendo um novo olhar e uma nova forma de agir, por parte de todos os envolvidos na comunidade escolar, contribuindo assim para uma sociedade mais justa, humana e igualitária.

4 BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: (PCN) pluralidade cultural, orientação/temas transversais.  Brasília: MEC/SEF, 2001. 164p.

BRASIL, Ministério da Educação / Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino. Plano Nacional de Educação-PNE- (MEC/ SASE), 2014.

CUIABÁ.  Plano Estadual de Educação. (PEE), Lei Estadual nº Lei 10.111/2014, Agosto/2014

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Resolução nº 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas.  10 de dezembro de 1948.

FILLOUX, J.C. DURKHEIM, E. Educação e Sociologia. In: DURKHEIM, E.  Educação e sociologia. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975. Tradução: Celso do Prado Ferraz de Carvalho, Miguel Henrique Russo. – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 2010.

FOUCAULT, Michel, 1926-1984.  I - História da sexualidade. Trad. Mª Thereza da Costa Albuquerque: ver tec. José Augusto Guilhon Albuquerque.  Rio de Janeiro: Graal, 1985.

____. II - História da sexualidade. O uso dos prazeres. Trad. Mª Thereza da Costa Albuquerque: ver tec. José Augusto Guilhon Albuquerque.  Rio de Janeiro: Graal, 1985.

____. III - História da sexualidade. O cuidado de si. Trad. Mª Thereza da Costa Albuquerque: ver tec. José Augusto Guilhon Albuquerque.  Rio de Janeiro: Graal, 1985.

SOUZA, Leonardo de Lemos, e ROCHA, Simone Albuquerque da. Formação de educadores, gênero e diversidade. – Cuiabá, MT: EdUFMT,  2012.

PONTES E LACERADA, Plano Municipal de Educação ( PME) - Lei nº 1.604/2015.

SOARES, Wellington. Precisamos falar sobre Romeo. Nova Escola. Ano 30, ed. 279. Fevereiro 2015.

SOUZA, Leonardo  Lemos de. GALINDO, Dolores.   Gênero e diversidade na escola. (Org) Cuiabá, MT: EduFMT, 2012.

SOUZA, Leonardo Lemos de. GALINDO, Dolores. BERTONE Vera.  Gênero, Corpo e @tivismos. (Org) Cuiabá, MT: EduFMT, 2012.

REIS, Antônio Luiz Martins dos. O silêncio está gritando: a homofobia no ambiente escolar, um estudo qualitativo no ensino fundamental de escolas públicas em Curitiba, Paraná. – Montevidéu, 2012.

RETRATOS, da Escola/ Formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (Esforce)- Educação e Diversidade V.7, nº 13/jul./dez.2013. - Brasília: CNTE, 2007.   


[1] Professor efetivo nas redes Municipal (1998),  Estadual (2012). Licenciado  em Pedagogia pela UNEMAT, Mestrando em Ensino UNIC/IFMT 2016-2.

[2] Licenciada em Geografia pela Faculdade de Educação Ciências e Letras de Iporá (1996), especialista em Docência Universitária pela Universidade Católica de Goiás (1998) e doutora em Ciências Pedagógicas pela Universidad Central Marta Abreu de Las Villas - Cuba (2007), revalidado no Brasil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA professora do Instituto Federal de Mato Grosso, campus São Vicente, professora do Mestrado em Ensino do IFMT/UNIC

3Doutora pela Universidade Autônoma de Barcelona – título validado pela Universidade Federal da Bahia. Professora nos cursos de Pedagogia e Educação Física. Coordenadora do curso de Mestrado em Ensino da Universidade de Cuiabá – UNIC. Grupo de pesquisa- GEPEFel.

4Doutora pela UTAD - Universidade de Trás-os-Montes/Portugal – título validado pela Universidade Estadual de São Paulo – UNESP. Professora nos cursos de Pedagogia, Educação Física e Biologia e do Programa de Mestrado em Ensino da Universidade de Cuiabá – UNIC. Grupo de pesquisa-GEPEFel.

[3] Plano Nacional de Educação. (PNE), 2014-2024 lei Nº 13.005, de 25 de junho de 2014.

   Plano Estadual de Educação. (PEE), Lei Estadual Nº lei 10.111/2014, agosto de 2014.

   Plano Estadual de Educação. (PME), Lei Nº. 1. 604 /2015. (PME).

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×