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Divergência sobre nome para diretoria que cuida do Enem e fracasso do exame agravaram desgaste entre ministro e presidente do Inep

Alexandre Lopes foi exonerado nesta sexta-feira; proposta do Inep para regulação de instituições de ensino superior também gerou atrito
Entrevista coletiva com Alexandre Lopes, em janeiro de 2020 Foto: Jorge William / Agência O Globo
Entrevista coletiva com Alexandre Lopes, em janeiro de 2020 Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — Uma divergência em relação a uma indicação para o comando da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) , responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio ( Enem ), elevou o desgaste entre o ministro da Educação, Milton Ribeiro , e o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, que foi exonerado nesta sexta-feira .

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Além disso, o fracasso do Enem realizado em meio à pandemia, com recordes de abstenção , também foi mal visto pelo ministro, embora na época da realização da prova, Ribeiro tenha destacado o "sucesso" do exame. Na terça-feira, membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) fizeram um elogio formal à gestão de Lopes à frente do Inep.

Há cerca de duas semanas, Ribeiro discutiu com o presidente do Inep para indicar o diretor da Daeb. Na ocasião, Lopes se opôs ao nome sugerido pelo ministro por considerar que o chefe da diretoria deveria ter algum tipo de experiência com a área. A Daeb está sem titular desde a morte do general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, em janeiro, vítima da Covid-19. A divergência aumentou o desgaste de uma relação que, nos bastidores, já não era considerada boa desde que Ribeiro chegou ao MEC.

Fontes ligadas à área afirmam que o ministro esperou apenas passar o Enem para demitir o presidente do Inep. Na quinta-feira, após a última reaplicação do exame no dia anterior, o ministro convocou Lopes para uma reunião pela manhã, mas o presidente do Inep disse que não poderia ir por ter outra agenda no mesmo horário. Mais tarde, Lopes recebeu uma ligação do secretário executivo do Ministério da Educação (MEC), Victor Godoy Veiga, informando da demissão.

Outra fonte de atrito na relação entre o ministro e o presidente do Inep foi a intenção de Lopes de alterar regras para avaliação de Instituições de Ensino Superior. Lopes apresentou a proposta formulada pelo Inep ao CNE antes de o teor das mudanças estar pacificado no MEC e receber o aval do ministro. A proposta foi discutida formalmente no conselho na própria quinta-feira. A postura também contribuiu para tensionar o clima.

Apesar dos desgastes, o relato é que a saída de Lopes acabou sendo concluída em bons termos com ministro da Educação. Na tarde desta sexta-feira, o ministro parabenizou Lopes por sua passagem no Inep:

"Em nome do MEC, registro o reconhecimento ao Sr. Alexandre Lopes pelo ciclo de trabalho à frente do Inep nos últimos anos. Nossos votos de sucesso em sua nova missão", escreveu o ministro.

Descontinuidade

Após a demissão do presidente do Inep, servidores do órgão divulgaram uma nota criticando o que chamaram de "descontinuidade de gestão, com sucessivos períodos de instabilidade" no órgão. Lopes foi o terceiro a comandar a autarquia durante o governo de Jair Bolsonaro. Antes dele, ocuparam o cargo Elmer Vicenzi e Marcus Vinícius Rodrigues.

"Os servidores do INEP alertam a sociedade para os graves riscos à instituição, essencial para o desenvolvimento educacional brasileiro, e clamam pela necessidade de gestores com reconhecida capacidade técnica e familiaridade com a temática da Educação, à altura dos 84 anos do Instituto", diz o comunicado dos servidores.

Outra preocupação dos servidores da autarquia é a provável troca de diretores devido à saída do presidente do Inep, o que, na visão deles,causaria ainda mais instabilidade no instituto.

O GLOBO procurou o ex-presidente do Inep, mas ele não quis comentar a demissão.