Rio

'Direito não é favor': projeto leva mensagens de jovens e adolescentes para diversas comunidades do Rio

Ação do projeto Geração que Move reúne 12 frases de moradores de áreas de vulnerabilidade social que foram estampadas em lambe-lambes
Mural de lambe-lambes sendo instalado na favela Para-Pedro, em Colégio, Zona Norte do Rio Foto: Divulgação
Mural de lambe-lambes sendo instalado na favela Para-Pedro, em Colégio, Zona Norte do Rio Foto: Divulgação

RIO – “O direito de se alimentar na escola e de assistir às aulas sem se preocupar com a fome não é um favor!”, diz a frase de uma adolescente de 16 anos, moradora de Rocha Miranda, que agora está estampada junto de outras 12 em um muro da comunidade Para-Pedro, em Colégio, além dos bairros da Pavuna e de Guadalupe. Assim como a da jovem, todas foram feitas por adolescentes que moram em áreas de vulnerabilidade social da cidade e que viraram lambe-lambes para serem instalados em outras áreas da Zona Norte e também da Zona Oeste.

A ação do projeto Geração que Move, uma parceria da Agência Redes para Juventude com a Unicef, começou no início da pandemia, em março do ano passado, como uma forma para que os jovens dessas áreas pensarem uma ação que pudesse ser feita na cidade e que pudesse impactá-los sobre os direitos que eles têm. Por isso, quatro jovens e cinco adolescentes, todos entre 14 e 26 anos, comandaram reuniões online com outros 40 grupos de Whatsapp para criarem, coletivamente, uma proposta com esta ideia. Assim, surgiu a campanha "Direito não é favor".

Jovem líder da Pavuna, o produtor cultural César Varella, de 22 anos, está liderando a produção que, na quarta-feira, chegou à Zona Oeste, passando por Vila Kennedy e pelas comunidades do Cesarão e do Aço, em Santa Cruz. A próxima parada será o Complexo da Maré.

– Está sendo bem interessante porque é um trabalho voltado para a garantia dos direitos dos jovens e a estética foi pensada para chamar a atenção mesmo. O interessante é que ele é auto-explicativo e muita gente não tinha noção de que tinha tantos direitos, como o à vida, por exemplo. Só o despertar desta consciência eu já acho algo enorme – relata César.

Para o trabalho dar certo, as paredes escolhidas para a intervenção são justamente as que ficam próximas a escolas e órgãos públicos como o Conselhos Tutelares e o Centros de Referência de Assistência Social (Cras) – lugares que, muitas vezes, estão próximos das casas desse jovens mas que eles nem tinham se tocado antes.

Coordenadora da Agência Redes para Juventude, a atriz e produtor cultural Veruska Delfino observou como as frases formadas por eles estão ajudando os adolescentes a se aproximarem de sua própria realidade e a se apropriarem de seus direitos. E algumas são bem impactantes.

– Um menino da Favela do Aço escreveu: "As clínicas da família do meu bairro são muito precárias" e um adolescente de 18 anos da Zona Norte fez "Eu nunca fui ao teatro e isso não deveria ser assim, o direto de acessar equipamentos culturais não é um favor". Isso mostra o quanto que os serviços da Zona Sul são melhores do que o de outras áreas da cidade, comprovando a desigualdade – analisa Veruska.

A Agência de Redes para Juventude foi criada em 2011 para estimular jovens das comunidades, periferias e subúrbios do Rio de Janeiro, a criarem projetos que impactem suas vidas e seus territórios. Desde que foi fundada pelo escritor e diretor teatral Marcus Faustini, os participantes já realizaram mais de 96 projetos em diferentes áreas, como cultura, terceiro setor, comunicação e pequenos negócios, chegando também às periferias de Londres e Manchester.