Rio

Diferença de aprendizagem chega a 16% entre escolas do Rio; veja mapa da desigualdade

Escolas com menores notas do Ideb estão circundado a Avenida Brasil da Maré, na Zona Norte, até Santa Cruz, na Zona Oeste
Escola Municipal Soares Pereira, na Tijuca, tem um dos 20 piores Idebs da cidade Foto: Márcio Alves / Agência O Globo
Escola Municipal Soares Pereira, na Tijuca, tem um dos 20 piores Idebs da cidade Foto: Márcio Alves / Agência O Globo

RIO — A escola pública reproduz desigualdades no Rio. Dentro da rede municipal, os alunos de um grupo de 20 escolas, que tiveram as menores notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), aprendem até 16% menos do que os estudantes dos colégios que tiveram as 20 maiores notas no mesmo índice. Os dados são referentes ao 9º ano, o fim do ensino fundamental, que é de responsabilidade da prefeitura.

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O Ideb é formado pelo desempenho da escola em dois quesitos. O primeiro é a taxa de alunos aprovados, reprovados ou que abandonaram a escola. O segundo, a nota de uma avaliação chamada Prova Brasil que mede o desempenho em Português e Matemática. As escolas com 20 maiores Idebs tiraram uma média de 292 em Português (numa escala de 0 a 500) e 295 em Matemática. Naquelas que tiveram as 20 menores notas, o desempenho ficou, respectivamente, em 245 e 246 — notas 16% menores.

Comparando a nota de Português da Escola municipal Rodrigues Alves, na Barra da Tijuca, com a Escola municipal Fernando de Azevedo, em Santa Cruz, a diferença da nota chega a 32%. Já em Matemática, a distância da Escola municipal Roberto Burle Marx, em Jacarepaguá, com a Escola municipal André Vidal de Negreiros, também em Santa Cruz, é de 30%.

O colégio público com a maior nota do Ideb no Rio é a Escola municipal Rodrigues Alves, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, com 7.2 (numa escala de 0 a 10). Ela tem o patamar de educação das cidades com os dois melhores sistemas de ensino público do país — Sobral, no Ceará, e Novo Horizonte, em São Paulo. Já a pior unidade fica encravada na Cidade Alta, favela da Zona Norte que viveu, no ano passado, uma disputa de cinco meses pelo controle do tráfico de drogas. A escola se chama Ministro Lafayette de Andrada e tem o Ideb 2.7, nível de cidades como Várzea da Roça, no interior da Bahia, com 13 mil habitantes.

— O tráfico fica praticamente na porta da escola com um radinho, mandando os carros pararem para olhar quem está chegando. É sempre uma situação de tensão porque eles fazem com a arma na mão — conta uma professora da unidade.

CINTURÃO NA AVENIDA BRASIL

As escolas com os 20 piores escolas estão, majoritariamente, localizadas em um cinturão nos arredores da Avenida Brasil (confira o mapa), via que corta a cidade do Caju, na Zona Norte, a Santa Cruz, na Zona Oeste. Juntas, ela têm uma nota média do Ideb de 3.5 e estariam, se fossem uma cidade, entre as 500 piores do país. Já as 20 melhores têm média em 6.1, o que a deixaria entre as 50 melhores redes do Brasil. A cidade do Rio, como um todo, está entre as mil (das 3.314) do país.

O urbanista Renato Gama-Rosa, da Casa Oswaldo Cruz, é autor da Tese “Entre ‘Avenida’ e ‘Rodovia’: a história da Avenida Brasil (1906-1954)”. Ele afirma que a via foi construída entre 1939 e 1947 por Getúlio Vargas para impulsionar essa região.

— A falta de continuidade desse projeto desenvolvimentista ao longo dos anos trouxe uma série de problemas para a região — afirma Gama-Rosa: — Todos os projetos habitacionais ao logo dela nao ocorreram e a industrialização também falhou. Isso criou um vazio ao longo da Avenida Brasil e ocasionou o abandono da área, que foi se tornando essa região muito empobrecida.