Diálogo na sala de aula e em casa evita LGBTfobia nas escolas, diz ativista
Na Escola Estadual Galdino Pinheiro Franco, em Mogi Das Cruzes (SP), na última quarta-feira (9), uma aluna trans foi agredida por cerca de 10 alunos. Ela havia se irritado com o desrespeito e humilhações que vinha sofrendo desde que chegou à nova escola, chutou uma carteira da sala de aula, que atingiu outra estudante; em seguida, sofreu a agressão. Depois do episódio, umas das perguntas que ficam é: o que fazer para que isso não se repita?
"As escolas como um todo precisam entender que os alunos são diversos", explica Alexandra Braga, vice-presidente do Fórum Mogiano LGBT.
O Fórum, fundado em 2013, tem sido importante para o apoio da vítima e sua família. No dia seguinte à agressão, foi organizado um ato na porta da escola com o intuito de que a direção recebesse representantes do grupo, como Alexandra, mas isso não aconteceu. "Não queremos apenas punição, queremos educação, diálogo. É nosso direito estar nas escolas e as escolas deveriam ter suas portas abertas", comenta.
"No Brasil há um movimento conservador muito grande e que foi aprofundado após a eleição do presidente Jair Bolsonaro. Antes, as pessoas disfarçavam certas coisas, hoje isso não acontece mais", comenta Regina Tavares, fundadora e atual presidente do Fórum. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans; 175 foram assassinadas em 2020, uma alta de 41% em relação ao ano anterior.
"Os alunos são diversos"
Ouvidas pela reportagem, Regina e Alexandra apontam como solução para esse tipo de problema uma gestão mais democrática do ambiente escolar.
Além disso, Regina diz que é preciso um grupo de gestores mais diversos também para a formulação de políticas públicas voltadas a uma educação mais inclusiva. Na cidade de São Paulo há o Conselho Municipal de Políticas LGBT que é responsável por "atuar na promoção da cidadania e na defesa dos direitos da população LGBT", como aponta o site da prefeitura. No portal da prefeitura de Mogi das Cruzes não há indicação de que um conselho semelhante exista.
É preciso que essa população seja protegida porque travestis e transexuais são populações mais vulnerabilizadas porque, sem serem aceitas em escolas e no mercado de trabalho, muitas acabam sendo forçadas a irem para a prostituição.
Regina Tavares, fundadora e atual presidente do Fórum Mogiano LGBT
Regina também comenta que já tentou por várias vezes construir uma parceria entre o Fórum Mogiano LGBT e as secretarias municipais e estaduais de educação da cidade para que o movimento fizesse a formação de professores, mas a iniciativa não foi para frente. A justificativa, segundo ela, é que não teriam condições de fazer rodízio de professores nos tempos de formação. "A gente considera importante esse tipo de formação e pretendemos mandar novos projetos para as secretarias", diz Regina.
"Precisamos ter as portas abertas para conversar com alunos, professores e funcionários da escola também. Fechar a porta e os olhos para isso é querer mascarar como está o ensino nesse país", comentou Alexandra. Contudo, para além do diálogo que as escolas podem abrir entre movimentos LGBTQIA+ e alunos, é preciso mais.
O respeito ao outro e à diversidade vem de casa, mas muitas famílias se negam a falar sobre isso, porque ainda existe dentro de algumas famílias a LGBTfobia. E essas crianças já vão com esse ódio enraizado para as escolas. Mas ali nós podemos ter um diálogo maior se as escolas abrirem suas portas.
Alexandra Braga, vice-presidente do Fórum Mogiano LGBT
O que diz a Secretaria de Educação
Questionado pela reportagem de Ecoa sobre como tem encarado o caso, o chefe de gabinete da secretária de educação do Estado de São Paulo Henrique Pimentel afirmou: "quando ficamos sabendo desse caso, a primeira coisa que fizemos foi verificar se a escola já tinha acionado a ronda escolar, o que já tinha sido feito, e também mandamos a equipe do Conviva, de convivência escolar, para a escola entender o que tinha acontecido. E, desde então, estamos fazendo um acompanhamento por meio dessa equipe que está em constante diálogo com a direção da escola. Também acionamos o nosso time de psicólogos da educação para dar suporte a essa família e para os demais da comunidade escolar que tratarão dessa situação"
Em conversa com a mãe da aluna agredida, a reportagem ouviu que a diretoria da escola alegou que a motivação da agressão não foi a transfobia. Henrique Pimentel afirma que falta conhecimento para as pessoas que trabalham na rede de ensino estadual. "Duvido que a aluna teria sido agredida assim se ela não fosse trans".
Para mudar esse cenário, o chefe de gabinete disse que há perspectivas de abrir frentes de diálogo sobre o tema e formações com funcionários da rede para que a gestão da escola seja ainda mais plural.
"Podemos usar esse caso para continuarmos debatendo a importância do respeito à diversidade nas unidades escolares do estado de São Paulo. No último dia 31 de janeiro, fizemos um debate no nosso grupo de mídia com uma diretora e uma aluna trans sobre o respeito à diversidade de gênero. E decidimos que na próxima segunda-feira (14) faremos um encontro na escola com o objetivo de traçar um plano para a comunidade LGBTQIAP+ e estará presente, entre outros, a deputada Erica Malunguinho", disse.
Por fim, Pimentel rebateu acusações feitas nas redes sociais de que a Escola Estadual Galdino Pinheiro Franco sofria por falta de funcionários, dizendo que isso não procede.
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