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Economia

Dia do professor: saiba quanto ganham estes profissionais no Brasil

Nas redes privadas, salário hora pode ser mais que o dobro do valor no setor público. Na educação infatil, governo paga mais
Maria Elizabeth Diniz atuou durante 10 anos em escola particular. Hoje está em escola pública Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Maria Elizabeth Diniz atuou durante 10 anos em escola particular. Hoje está em escola pública Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO - Professores da rede privada chegam a ganhar mais que o dobro pela hora/aula em relação aos da rede pública. É o que mostra um levantamento da consultoria iDados, que aponta a diferença do salário/hora médio pago a educadores do ensino superior em 2017. Os valores foram extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho.

Quando considerados todos os seis níveis de ensino — do infantil ao especial —, o salário/hora médio na rede privada é 10% maior. No ensino básico, a rede pública só remunera melhor os professores do ensino infantil.

— No ensino público, os professores da educação infantil são mais escolarizados. Isso pode explicar a diferença — observa a pesquisadora do iDados Thaís Barcellos.

A professora e consultora do Todos Pela Educação Mariza Abreu explica que a educação infantil é o único nível em que é possível dar aula sem concluir o ensino superior. Basta ter feito o ensino médio modalidade normal. Como na rede privada o salário aumenta gradativamente de acordo com o nível de ensino onde o professor atua, os educadores da educação infantil geralmente ganham os menores salários.

— Não ganhava menos porque as turmas eram menores, mas porque a direção entendia que quem atua no ensino médio tem que se qualificar mais, até pela pressão para o aluno passar no Enem — conta a professora Maria Elizabeth Diniz, de 36 anos, que atuou durante uma década em escola particular, na educação infantil.

Salários dos professores
Valor da hora / aula
Público
Privado
EM (R$)
96,32
61,18
49,14
43,99
40,42
37,91
29,52
31,25
29,62
26,72
22,63
15,73
Infantil
Fundamental
Médio
Superior
Profissional
Especial
Quantidade de professores
Público
Privado
1.358.816
303.548
333.363
232.086
143.386
11.210
67.071
44.189
35.669
1.195
1.932
5.041
Infantil
Fundamental
Médio
Superior
Profissional
Especial
Fonte: RAIS 2017
Salários dos
professores
Valor da hora / aula
Público
Privado
EM (R$)
Infantil
26,72
15,73
Fundamental
29,52
31,25
Médio
40,42
49,14
Superior
29,62
61,18
Profissional
37,91
96,32
Especial
43,99
22,63
Quantidade de professores
Público
Privado
Infantil
303.548
143.386
Fundamental
1.358.816
232.086
Médio
333.363
67.071
Superior
5.041
1.932
Profissional
44.189
35.669
Especial
11.210
1.195
Fonte: RAIS 2017

No ensino público, diferentemente do privado, os professores recebem de acordo com a sua formação, independentemente do nível onde atuam, explica Mariza. Por isso, a desigualdade salarial entre os professores dos diferentes níveis na iniciativa privada é maior do que nas escolas públicas.

O levantamento do iDados mostra que, em 2017, o salário/hora para o ensino médio em escola particular era três vezes ou 212% maior que o do ensino infantil. Já nas escolas públicas essa diferença caía para 51%.

ENEM ACIRRA CONCORRÊNCIA

Para o professor de economia do Insper Sérgio Firpo, o ranking do Enem, divulgado anualmente pelo Ministério da Educação (que mostra quais escolas tiveram alunos com melhor desempenho na prova que dá acesso ao ensino superior), contribuiu para descolar os salários dos professores do ensino médio dos demais na rede privada.

— As escolas com melhores notas geralmente pagam os maiores salários porque querem reter os melhores professores e manter o bom desempenho — explica Firpo.

O professor de Matemática Cláudio Mendes Tavares, de 43 anos, pondera:

— Apesar de algumas escolas privadas pagarem salários maiores, é a pública que dá estabilidade, por meio de concurso público, tem plano de carreira, bonificações e concede progressão salarial para mestrado.

Para os especialistas e educadores, o pagamento de salários mais altos é fundamental, mas não determinante para a qualidade do ensino.

— Depende também da formação do professor, da autonomia que ele tem para trabalhar. Se dependesse só de salário, não teríamos colégios estaduais (que geralmente têm remuneração mais baixa e, no caso do Rio, têm atrasado salários) exemplares, comprometidos com a educação, como existem — avalia Tavares, lembrando que a profissão é uma espécie de sacerdócio: — É claro que o salário é importante, mas as recompensas também são outras.

A Consultora do Todos Pela Educação diz que aumentar a qualidade do ensino passa por valorizar os professores não só com remuneração adequada, mas com apoio e incentivo à formação permanente. Isso, inclusive, evita a evasão de bons profissionais para outras áreas de atuação que não as escolas, exemplifica ela:

— Em algumas regiões, onde o mercado privado é mais dinâmico, há dificuldades de se conseguir professores com determinadas formações, como em Matemática e Química, porque muitas vezes ele consegue um emprego com maior salário no mercado financeiro ou em laboratório.