Antônio Gois
PUBLICIDADE
Antônio Gois

Um espaço para debater educação

Informações da coluna

Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.


Num país em que o acesso ao ensino superior é para poucos, as estatísticas são inequívocas em mostrar que um diploma universitário ainda faz muita diferença em termos de renda e empregabilidade. O tamanho desse diferencial em relação a quem não completou esta etapa, porém, varia de acordo com a carreira, o que é esperado. Há, no entanto, desigualdades que não podem ser naturalizadas. Como, por exemplo, o fato de mulheres pretas recém-graduadas receberem, em média, salários 50% menores em relação aos homens brancos nas mesmas condições.

O dado consta de um indicador de empregabilidade criado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior e pela consultoria Simplicity, calculado a partir de uma amostra de 4.792 respondentes em 66 instituições de ensino superior. O perfil dos entrevistados são de pessoas que terminaram a graduação entre julho de 2021 e junho de 2022.

No geral, os dados da pesquisa mostram que 76% dos egressos recentes do ensino superior estão trabalhando, sendo 63% em sua área de formação e 4%, por opção própria, em outras áreas. Há também 9% que estão ocupados, por falta de oportunidade, em áreas distintas da graduação, e 24% que estão procurando emprego. O retrato da desigualdade aparece quando esses dados são analisados considerando a área de formação e algumas características pessoais.

Por exemplo, em todas as áreas de formação, os salários médios e as taxas de empregabilidade são inferiores para as mulheres na comparação com os homens. O mesmo padrão se repete quando o recorte é racial: brancos recém-formados estão em melhor situação no mercado de trabalho do que os autodeclarados pretos e pardos. Quando essas duas características (gênero e raça) são combinadas, a desigualdade é ainda mais gritante. Mulheres pardas recebem, em média, 38% menos do que homens brancos. No caso das mulheres negras, como já citado, essa diferença chega a 50%.

Essa situação desfavorável no mercado de trabalho para mulheres e negros não é novidade. Pesquisas feitas a partir de dados do IBGE, com outros recortes e metodologias, também comprovam essa desigualdade em todas as faixas de escolaridade. Estudos mais sofisticados, que procuram controlar todas as variáveis observáveis nas estatísticas, também mostram que, mesmo comparando trabalhadores com o mesmo perfil (idade, escolaridade, região, área de formação...), ainda assim persiste uma diferença – mesmo que em menor intensidade – em favor de homens e brancos.

Diversos fenômenos podem explicar essa desigualdade persistente. Um deles, sem dúvida, é a própria discriminação no mercado de trabalho. Mas há também outras variáveis relevantes, como a rede de relacionamentos pessoais. Dois jovens recém-graduados no mesmo curso e na mesma universidade podem ter uma inserção completamente distinta no mercado de trabalho caso um deles venha de família de maior renda e escolaridade, o que facilitará contatos de empregos e a busca de oportunidades. Para quem faz parte da primeira geração a completar uma graduação, o caminho será mais árduo.

Por isso é tão importante olhar não apenas para a educação na hora de planejar políticas públicas de enfrentamento de desigualdade. Ampliar o acesso e conclusão do ensino superior aos grupos tradicionalmente excluídos da universidade é uma estratégia fundamental, mas é preciso atuar também no mercado de trabalho, para reverter desvantagens que nada têm a ver com a capacidade ou esforço pessoal de cada um.

Mais recente Próxima Priorizar a formação docente