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Por — Rio de Janeiro

Mesmo com a implementação de políticas de cotas há dez anos, a parcela da população preta e parda que acessa o ensino superior ainda é quase a metade do que a de brancos. E essa é apenas a fase final de desigualdades educacionais entre esses dois grupos registradas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) sobre educação de 2023, divulgada na semana passada pelo IBGE.

De acordo com a nova pesquisa, 29,5% das pessoas brancas de 18 a 24 anos estavam no ensino superior e 6,5% já tinham se formado. Entre os pretos e pardos, são apenas 16,4% cursando uma graduação e 2,9% com o diploma.

Essa diferença tem relação direta com outra estatística: a de escolarização média da população desses dois grupos. No grupo de pessoas brancas, 60% completou ao menos o ensino médio. No grupo de pretos e pardos, o percentual é de 47,3%. Há ainda diferenças registradas entre os analfabetos, os estudantes do ensino médio e entre as pessoas que abandonaram a escola.

As desigualdades apontadas pela Pnad — Foto: Editoria de Arte
As desigualdades apontadas pela Pnad — Foto: Editoria de Arte

As taxas da população preta e parda têm melhorado pouco a pouco ao longo dos anos. Mas na maior parte dos casos, isso acontece em proporção muito semelhante a dos brancos, o que mantém a desigualdade. O número de pessoas de 14 a 29 anos que não completou o ensino médio, por exemplo, caiu de 11 milhões em 2019 para 8,9 milhões em 2023. A proporção de sete pretos e pardos para três brancos, no entanto, permanece a mesma nesse período.

Especialistas apontam que essas desigualdades se dão por razões que vão desde a escravização de pessoas africanas à falta de políticas públicas robustas e se materializam dentro da sala de aula, por conta de uma pedagogia ainda muito comum nas escolas, que desvaloriza o aluno preto.

— A raiz do problema é a exploração da escravidão, e depois, a continuada exploração da mão de obra barata negra, em que ainda hoje descobrimos dezenas de mulheres trabalhando como escravas em casa de poderosos — defende Frei David, diretor executivo da Educafro, organização que promove a inclusão da população negra nas universidades. — Somente quando a gente avaliar e entender esse erro histórico, vamos mudar essa realidade.

As falhas da escola do passado deixaram marcas entre esses dois grupos populacionais segundo os dados da Pnad Educação. A proporção da população preta e parda que não sabe ler e escrever é pelo menos o dobro da de brancos em todas as idades a partir de 15 anos. Entre os idosos, a diferença é quase três vezes maior.

A escola do presente continua reproduzindo as desigualdades, segundo as informações colhidas pelo IBGE no ano passado. Sete a cada dez jovens de 14 a 29 anos fora da escola eram pretos e pardos. No ensino médio, 71,5% dos meninos e meninas de 15 a 17 anos dessa parcela da população estão cursando a etapa escolar correta: o restante está sem estudar ou atrasado. O percentual, entre estudantes brancos, é de 80%.

— É a fome que tira esse jovem da escola. O jovem pobre e preto é obrigado, às vezes, até pelos próprios pais, que não têm consciência do planejamento de futuro, a abandonar a escola e ir trabalhar como atendente de telemarketing ou ajudante de pedreiro para ganhar uma miséria. Somente políticas públicas responsáveis vão enfrentar e dar conta desse problema — aponta Frei David.

O governo federal lançou neste ano o programa Pé-de-Meia, um pagamento mensal e poupança para estudantes do ensino médio. No fim do curso, os beneficiados poderão receber até R$ 9,2 mil. No entanto, só têm direito ao benefício alunos cujas famílias estão no CadÚnico, o que significa que vivem com meio salário mínimo per capita. Na avaliação de Frei David, esse corte é muito baixo e deveria ser de pelo menos um salário mínimo.

Fora do currículo

Além de políticas públicas, o aluno preto também sofre desvantagens dentro de sala de aula quando se vê retratado apenas pela ótica do sofrimento, afirma a pedagoga Carol Adesewa. Professora da rede municipal de São Francisco do Conde, na Bahia, ela é autora do projeto Afroinfância, de formação de professores e criação de ferramentas pedagógicas afrocentradas.

— A educação brasileira possui um modelo hegemônico e excludente em que a gente quase não vê o menino negro refletido no currículo, nas metodologias, nos livros de literatura. Ele não se vê enquanto ser humano. E vai sentindo esses impactos desde muito cedo. Passa a perceber que aquele espaço da escola não é para ele. Assim, é visto como violento, como o que não quer nada com a escola, e muitos acabam saindo — analisa.

Essa tendência foi observada também por um estudo nos Estados Unidos, publicado em 2020. Pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte perceberam que crianças negras correm maior risco de serem vistas como “bravas” no ambiente escolar, mesmo quando não apresentam essa característica. “Já sabemos que os estudantes negros experimentam mais suspensões, expulsões e ações disciplinares do que os estudantes brancos, muitas vezes pelo mesmo comportamento. A percepção errônea da raiva, mesmo no nível inconsciente, pode desempenhar um papel significativo nessa disparidade”, apontaram.

De acordo com Carol Adesewa, uma pedagogia afrocentrada vai além de inserir fatos históricos da África no currículo. Significa potencializar a criança, garantindo os cuidados para que ela tenha seu direito à aprendizagem garantido.

— É uma pedagogia pensada por professores pretos para alunos pretos. Eles não são vistos como inferiorizados. A gente trabalha com a cultura em que a criança se reconheça — diz Adesewa.

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