Economia
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Por Fernanda Trisotto — Brasília

A taxa de desocupação entre brasileiros pretos, pardos e indígenas tem aumentado em relação à de brancos e amarelos, o que provoca mais concentração de renda e amplia a desigualdade social e racial no país. As conclusões estão em relatório do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) da Uerj, antecipado ao GLOBO, que analisou a desigualdade racial no mercado de trabalho e renda, além de educação, em um período de 35 anos.

Em 1987, quando os pesquisadores começaram a acompanhar os dados, a taxa de desemprego de negros e indígenas era de 3,91%, enquanto a de brancos e amarelos era de 3,38%. A taxa de desocupação geral foi crescendo, com desvantagem para os pretos, mas com diferenças que não chegavam a três pontos percentuais.

A partir de 2015, esse patamar foi superado, e a taxa de desemprego de pretos era de 10,51%, enquanto a de brancos era de 7,31%. A diferença alcançou o ápice em 2020, ano da pandemia — o desemprego de negros chegou a 17,27%, contra 11,98% dos brancos. Em 2021, a diferença ficou em 4,23 pontos percentuais.

Nesse período entre 1987 e 2022, mais brasileiros se identificaram como pretos, pardos e indígenas, e houve redução na desigualdade racial na educação formal. Mas isso não resultou em diminuição das diferenças entre brancos e negros no mercado de trabalho.

“Podemos observar a manutenção de desigualdades duráveis que mantêm brancos e amarelos com melhores níveis de escolaridade, de trabalho e renda, se comparados ao grupo formado por pretos, pardos e indígenas. É importante notar que, apesar da melhoria no acesso à educação, pretos, pardos e indígenas ainda sofrem com altas taxas de desocupação. Quanto à renda, a desigualdade é ainda mais acentuada”, diz o relatório.

Desigualdade — Foto: Criação O Globo
Desigualdade — Foto: Criação O Globo

Trabalho precário

Segundo o estudo, desde 2010, percebe-se um aumento maior de brancos e amarelos migrando para o trabalho por conta própria, e a permanência de pretos, pardos e indígenas no mercado informal.

“Ainda que essas transições costumem redundar em algum grau de precarização generalizada dos vínculos formais de emprego, a informalidade continua relacionada à vulnerabilidade maior do trabalhador do que os vínculos autônomos hoje em crescimento”, aponta o documento.

As diferenças na ocupação também acentuam a desigualdade racial, ao se observar os rendimentos obtidos pelos grupos. Entre 1987 e 2002, brancos e amarelos recebiam o dobro de pretos, pardos e indígenas. Esse indicador foi caindo até 2011, quando voltou a crescer.

“A depreciação geral das rendas do trabalho em 2020 levou a uma pequena redução dessa desigualdade racial, mas ainda é cedo para dizer se isso demarca uma tendência”, diz o texto.

O mesmo movimento foi observado em relação à renda domiciliar per capita, que considera o volume total de recursos recebido pela família dividido pelo número de membros.

Pretos, pardos e indígenas são maioria entre os grupos de baixa renda, e a pandemia aumentou não apenas a pobreza, mas também as desigualdades raciais.

A economista Thais Custódio, de 33 anos, vive uma situação distinta no mercado de trabalho, que é exceção. As equipes com as quais atua são compostas, na maioria, por negros, e a remuneração segue a média de mercado. Mas não foi sempre assim.

— Eu já deixei de ser contratada por causa do cabelo que usava. É muito perverso, porque as pessoas já te olham torto sem você abrir a boca, sem você dizer quais são as suas expertises, qualidades, o que está disposto a fazer para contribuir com aquele trabalho — conta.

Mais instruídos

Os pesquisadores constataram que a população preta, parda e indígena teve avanços na educação, mas isso não resultou em melhorias no mercado de trabalho até o momento.

— O que a gente vê são melhoras, que tem de destacar, sobretudo nos índices educacionais, mas isso não se reflete no mercado de trabalho. Quando negros e brancos se equalizam em processo de alfabetização, isso ocorre em um momento em que a alfabetização deixa de ser relevante para ocupar espaços no mercado — afirma o sociólogo Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.

A família da economista Thais Custódio valoriza a educação. Moradores do Complexo da Maré, seus pais se sacrificaram para ela estudar. Thais entrou na universidade pública, beneficiada pela política de cotas, e hoje trabalha como consultora de orçamento e coordena projetos de uma ONG do Jacarezinho, enquanto finaliza o mestrado em Economia na UFRRJ, no qual é a primeira aluna preta.

— Já existia a dificuldade de criar jovem preta retinta em território de favela que é muito marginalizado, em uma sociedade que enfrenta muitas questões de violência. Tivemos muitos apertos, era tudo muito contado, mas sempre falavam que precisava ter educação para chegar ao mercado de trabalho. Tive uma vida inteira muito dura nesse sentido — conta Thais.

Os pesquisadores do Gemaa pontuam que as desigualdades às quais os negros estão submetidos são resilientes e complexas. Para reverter o cenário, é preciso desenhar políticas redistributivas interseccionais, que também considerem o aspecto racial e as especificidades de cada um dos grupos. As cotas para acesso à universidade, como as que beneficiaram Thais, precisam avançar.

— É importante que o novo governo tenha em mente que as soluções que já foram importantes não são mais suficientes. Reeditar politicas públicas como as realizadas em 2002 e 2006 não vai produzir efeitos. Tem de acelerar a redução das desigualdades e levar para outros níveis educacionais. No caso racial, o grande nó é ensino médio e, evidentemente, superior. Mas precisa pensar em ações afirmativas pós-ensino superior — diz Luiz Augusto, coordenador do Gemaa.

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