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Desenvolvedoras investem na criação de jogos educacionais

Projetos na área exigem que equipe entenda tanto de tecnologia quanto de pedagogia

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São Paulo

Produtoras de games atendem cada vez mais instituições de ensino e empresas que usam jogos para aumentar o engajamento de alunos e funcionários em aulas e treinamentos. Não basta, porém, ser um desenvolvedor para ter êxito nesse setor.

Para construir um bom modelo de negócio de games educacionais, é preciso se capacitar ou formar uma equipe que conheça tanto sobre desenvolvimento de jogos quanto sobre educação, diz Carolina Caravana, vice-presidente da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais).

Como ocorre em um produto de entretenimento, a produção envolve profissionais de áudio, game designers, ilustradores e animadores. Fundada em 2013, a Playmove contou também com pedagogos para a criação dos primeiros jogos da PlayTable, mesa interativa com foco em alfabetização e ensino de matemática.

Imagem mostra linha de produção de fábrica da Playmove, em Blumenau (SC), onde são feitas mesas interativas com jogos educacionais
Linha de produção da Playmove, empresa de Blumenau (SC) que criou mesa interativa com jogos educacionais - Fábio Monteiro/Folhapress

"A tecnologia é um dos processos para que o produto seja eficiente, mas a curadoria de profissionais de pedagogia foi fundamental desde o início para ter sucesso", afirma Jean Gonçalves, 49, diretor-executivo da companhia.

Em 2016, a plataforma passou a publicar conteúdos de desenvolvedores externos. Hoje, são 42 parceiros que produziram, em colaboração com a empresa, 80% dos 139 recursos disponíveis na PlayTable, entre jogos, livros e aplicativos com atividades.

Para garantir que essas produções estejam alinhadas à Base Nacional Comum Curricular, a companhia atua tanto na criação do conteúdo quanto nos aspectos tecnológicos, diz Cristiano Sieves, 42, diretor de produtos e marketing.

Baseada em Blumenau (SC), a Playmove tem 35 funcionários e viu o faturamento crescer 250% entre 2019 e 2021. A mesa é vendida em um pacote que inclui os conteúdos, recursos para formação de professores e uma plataforma de acompanhamento do desempenho dos alunos. Cada cliente pode escolher quais jogos, livros e aplicativos quer ter de acordo com seus objetivos.

Hoje, os contratos são feitos apenas com quem trabalha com educação. A empresa vende para instituições que atendem crianças com deficiência, clínicas de psicopedagogia e colégios privados, mas os principais contratantes são prefeituras, que compram o equipamento para escolas de ensino fundamental.

Segundo Sieves, a PlayTable está presente em municípios como Fraiburgo (SC), Praia Grande (SP), Sobral (CE) e Ananindeua (PA).

Pequenos negócios podem se diferenciar e se fortalecer no mercado ao concentrar esforços num segmento específico, afirma Carolina Niederauer, gestora do Global Games, programa do Sebrae-RS voltado para a indústria de jogos. Assim, é possível adquirir expertise em uma área e fechar mais contratos.

Também é importante conhecer o perfil de quem vai consumir o jogo para desenvolver um produto que atinja as expectativas.

"O conhecimento do tema vem dos clientes, então nos preocupamos mais em facilitar a transmissão do conteúdo, mas sempre em parceria", diz Rafael Lontra, 40, sócio-fundador da Mito Games, de Vitória (ES).

A empresa foi fundada em 2016 e seu primeiro produto, o Enem Game, foi desenvolvido durante um processo de incubação. A proposta era criar jogos para ajudar na preparação para o vestibular.

Num primeiro momento, a startup vendia o produto apenas para escolas, que tinham acesso a uma plataforma para acompanhar o desempenho dos alunos nas provas. Depois, o game passou a ser disponibilizado para download em lojas de aplicativos, nas versões Android e iOS, afirma Marcelo Herzog, também sócio-fundador da companhia.

Uma estratégia adotada para formar uma rede de contatos foi a participação em eventos e editais. Em 2021, o crescimento do negócio foi de 100%. Hoje, a Mito tem 15 funcionários e atende empresas de setores diversos e instituições de ensino.

O valor de um projeto varia entre R$ 20 mil e R$ 200 mil, dependendo da sua complexidade. A empresa também desenvolve jogos de entretenimento e quer ampliar a atuação nesse nicho.

Ao escolher um modelo de vendas, é preciso analisar fatores como retorno financeiro, propriedade intelectual e viabilidade. Lançar um produto próprio, que não foi encomendado previamente por nenhum cliente, exige mais planejamento, afirma Rafael Rosseti, professor do curso de jogos digitais da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).

Niederauer, do Sebrae-RS, segue na mesma linha. "Quem desenvolve jogo próprio corre o risco de colocá-lo no mercado e não dar certo. Mas, se der, é possível ter escala maior do que prestando serviço."

Jogos educacionais e de treinamento corporativo representaram, respectivamente, 30,1% e 15,4% do total produzido por desenvolvedoras brasileiras em 2020 e 2021, segundo a Abragames.

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