Por G1 PA — Belém

Adotado em larga escala na pandemia - que exige o isolamento social, o ensino à distância mudou a rotina de muita gente. No Pará, cerca de 800 mil estudantes buscam manter os estudos e lidam com impactos das aulas remotas, que vão desde a dificuldade de adaptação à mudança do esquema escolar, ao não acesso a equipamentos básicos para o estudo em casa, além de enfrentar questões como a ansiedade e insegurança provocadas pela circunstância de proliferação do vírus que já matou quase 4 mil pessoas no estado. A questão é tema de debate nesta quarta-feira (10), às 20h, pelas redes sociais do Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá (CRP-10).

Desde março, 566 mil alunos da rede estadual de ensino estão com as aulas suspensas no Pará. Entre as ações para mitigar o impacto disso na vida dos estudantes, está a distribuição de cestas básicas e vale-refeição para tentar garantir a alimentação básica de milhares de garotas e garotos que contavam com a merenda escolar. Além disso, múltiplas formas de ensino remoto estão em processo na rede pública: desde apostilas impressas e distribuídas, a aulas transmitidas pela TV aberta. Na rede privada, as aulas ocorrem virtualmente, método também adotado por algumas escolas públicas.

Orientada por portaria publicada pelo governo federal, via Ministério da Educação, a adoção do ensino remoto foi indicada para todos os estudantes; a posteriori, voltou-se apenas ao ensino superior. O estudo remoto, no entanto, traz à tona as profundas desigualdades que marcam a realidade dos estudantes no país. Tratando-se da educação básica, apenas 35% dos estudantes da escola públicas possuem computador em suas casas, enquanto 75% dos estudantes da rede privada de ensino possuem computador em suas residências, segundo os dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

“Esta maneira de ensino agravaria a desigualdade social no país e irá dificultar o acesso dos estudantes da rede pública de ensino à universidade”, critica Iago Pedrosa, presidente da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas do Pará. “Neste momento, é importante preservar o psicológico dos estudantes e não deixar nenhum jovem para trás. O ensino tem que ser igualitário com qualidade e respeito aos estudantes de baixa renda”, diz.

Ansiedade e 'conteudismo'

Se por um lado, há alunos que não têm acesso a equipamentos que possibilitem o estudo remoto - o que culmina em um desnível acentuado de acesso à educação na pandemia, os estudantes que têm acesso enfrentam obstáculos de outra natureza.

Na rede particular, no Pará, 235 mil estudantes enfrentam a nova rotina. “Eles não conseguem acompanhar a matéria, não conseguem se concentrar na explicação do professor, além dos diversos trabalhos que são passados todos os dias com o fito de suprir o acompanhamento presencial do aluno. Nós do movimento estudantil, em conversa com estudantes da rede privada de ensino que participam das aulas no formato EaD, percebemos o desgaste que estes estudantes estão tendo, além da onda de reclamações sobre essa modalidade de ensino”, completa Iago.

Para a professora Regina Pedrosa, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB), o ensino à distância também traz consigo dificuldades “importadas” da dinâmica do ensino presencial, que acabam se agravando. “Como a questão ‘conteudista’, professores que não interagem com os alunos, ensino unilateral””, diz. Equalizar a mudança de rotina dos estudantes e a mudança de rotina familiar também é um desafio. “Há famílias que até têm computador em casa, mas é apenas um, como dividir para o home office dos pais e o ensino dos filhos? A angústia de estarmos vivendo uma pandemia envolve até processos de saúde mental, o medo de contaminação, o medo da morte. Enfrentamos, ao mesmo tempo, um processo da política que é de crise”, contextualiza.

Serviço

Live "Desafios do ensino à distância na pandemia" nesta quarta-feira (10), às 20h, pelas redes sociais do Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá (CRP-10).

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