Brasil Educação

Deputados e servidores do Inep se articulam para barrar terceirização do banco de questões do Enem

Entre as medidas, integrantes da Comissão de Educação da Câmara consideram levar o tema ao TCU
Enem 2020 foi realizado em janeiro de 2021 Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Enem 2020 foi realizado em janeiro de 2021 Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

BRASÍLIA — Deputados e servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) avaliam altertativas para tentar barrar o plano de terceirizar a elaboração do Banco Nacional de Itens (BNI) , que alimenta o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na principal frente de ação, os parlamentares pretendem levar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU).

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Além disso, os parlamentares já apresentaram pedidos para realização de reunião com presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, e também audiência pública na Comissão de Educação da Câmara. O argumento é de o caso, revelado pelo GLOBO , pode configurar improbidade administrativa, já que a gestão do BNI é atribuição dos servidores do Inep. Os congressistas apresentaram requerimento em que pedem informações ao Ministério da Educação sobre os estudos em andamento que devem subsidiar o caso. Contudo, aguardam resposta da pasta, que tem 30 dias para se manifestar, antes de decidirem.

— A improbidade administrativa pode ser caracterizada por contratar serviços para realizar atividades que são atribuições dos servidores públicos, gerando despesas desnecessárias. (...) Se isso ficar comprovado, iremos tomar as providências na instância judicial — afirmou o presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, Israel Batista (PV-DF).

O requerimento destaca que “o Banco Nacional de Itens é elemento essencial dos diversos sistemas e projetos de avaliação educacional” e também “ao cumprimento de diversas atividades-fim do INEP”. Além do Enem, também inclui o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida).

Os funcionários do órgão levaram a possibilidade de terceirização ao Congresso Nacional. Em meio à crise vivida na educação , servidores temem interferência nas avaliações da instituição. Além disso, a análise é que a medida, caso se confirme, enfraqueça a segurança das provas e esvazie o Inep de suas principais funções.

— A gente entende que o nosso direito está ameaçado, o Inep está ameaçado e, mais ainda, a própria isonomia das avaliações promovidas pelo Inep fica ameaçada com a terceirização da produção de questões — disse o presidente da Associação dos Servidores do Inep (Assinep), Alexandre Retamal.

Segundo documento ao qual O GLOBO teve acesso, o pedido de estudos em torno da terceirização do BNI partiu de Dupas Ribeiro. O documento foi enviado pelo chefe da Diretoria de Avaliações da Educação Básica (Daeb) do órgão, Anderson Soares Furtado de Oliveira, a coordenadores do Inep.

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Para a deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), o BNI integra as políticas públicas de educação e, por isso, o governo não deveria abrir mão:

— Tudo o que o governo coloca no rol de terceirizações, na realidade, atinge o âmago, no caso do Inep, da educação — avalia. — O banco de dados que faz sustentação às políticas públicas, especialmente no caso de políticas de educação, não pode terceirizar. Aquilo que é de responsabilidade do governo não se pode passar para outro.

Além de Israel e Rosa Neide, o requerimento é assinado por Idilvan Alencar (PDT-CE), Eduardo Bismarck (PDT-CE) e Paula Belmonte (Cidadania-DF). É Belmonte quem subscreve o convite a Dupas Ribeiro e o pedido para audiência pública, com participação do ex-ministro da Educação Rossieli Soares, da ex-presidente do Inep Maria Inês Fini e da presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, entre outros.

Ambos os encontros estão previstos para a próxima semana, e a data da audiência deve ser definida na segunda-feira. Lá, a ideia é que os parlamentares apresentem os dados já levantados sobre o tema e deliberem sobre os próximos passos.

— Terceirizar significa fragilizar o processo de composição das provas e tirar o controle do Inep. O Instituto já vem sofrendo com a falta de autonomia dentro do governo Bolsonaro. Esse pode ser mais um enfraquecimento do órgão, que teve redução de atribuições, nomeação de pessoas sem qualificação, interferências governamentais e constantemente lida com a troca de presidentes — declarou Israel.