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Década do Oceano, declarada pela ONU, inspira projetos ambientais nas escolas

Foco está em atividades práticas em prol da sustentbilidade; sensibilização para questões sociais também é priorizada
Aluno do Colégio Marista São José analisa água do Canal Arroio Pavuna, na Barra da Tijuca Foto: Bruno Barreto / Divulgação
Aluno do Colégio Marista São José analisa água do Canal Arroio Pavuna, na Barra da Tijuca Foto: Bruno Barreto / Divulgação

RIO — Desde 1995, é assim: anualmente, por ocasião da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, representantes de mais de 150 países se reúnem a fim de estabelecer acordos e discutir soluções para o aquecimento global. À medida que fenômenos naturais extremos mudam as vidas de milhões de pessoas em todo o planeta, os temas ambientais vão ganhando relevância ainda maior, e as escolas estão atentas à necessidade de formar cidadãos ambientalmente responsáveis.

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Muitas estão aumentando o investimento em projetos de sustentabilidade que extrapolam a teoria e obrigam os estudantes a encontrarem respostas práticas para os problemas. Ancoradas na decisão da ONU de declarar o período de 2021 a 2030 como a Década do Oceano, com o intuito de mobilizar ações para combater a poluição dos mares, por exemplo, várias têm como foco a destinação correta do lixo e a ressignificação do consumo.

Créditos para quem reciclar

O Colégio Mopi da Barra da Tijuca criou o projeto Banco para Troca Solidária, cuja proposta é que, mediante a doação de materiais recicláveis, alunos do ensino fundamental II acumulem créditos para pagar atividades recreativas na escola. A cada dez latinhas de alumínio, dez anéis destas latas, quatro garrafas PETs grandes ou oito pequenas, 100ml de óleo usado ou dez tampinhas de refrigerante, o estudante junta um Recicoin, a moeda virtual da instituição, usada para custear torneios esportivos.

Reutilização: Estudantes do 6º ano do Mopi da Barra durante aula de biologia na qual reproduziram células e vírus com materiais recicláveis Foto: Divulgação
Reutilização: Estudantes do 6º ano do Mopi da Barra durante aula de biologia na qual reproduziram células e vírus com materiais recicláveis Foto: Divulgação

Os objetos recolhidos são vendidos para uma empresa de materiais recicláveis, e o dinheiro obtido é revertido em cestas básicas. Em 2019, primeiro ano do projeto, que ficou parado em 2020 e 2021 por conta da pandemia, a doação foi feita para os auxiliares de serviços gerais da escola. Este ano, a ideia é doar para a população de rua.

— Estamos dando um destino ecologicamente correto para o suposto lixo que poderia ser descartado de forma incorreta e parar em rios e oceanos. Uma gota de óleo, por exemplo, contamina dez litros de água. Além disso, transformamos esse lixo em dinheiro e o dinheiro em alimento, mostrando para os alunos o saldo positivo daquele material que seria jogado fora, a fim de que percebam que o lixo pode e deve ser reaproveitado. Esse é, portanto, um trabalho socioambiental. Quando o estudante leva o material reciclável para escola, ele está sendo um agente para diminuir tanto a poluição ambiental quanto a fome, o que desenvolve o espírito de solidariedade — afirma Hélio de Albuquerque, professor de biologia e idealizador do projeto.

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Outro destino dos recicláveis é a produção de conhecimento. Com materiais como garrafas PETs e papel, os alunos reproduziram vírus e células para a aula de biologia. Este ano, as peças serão doadas para colégios públicos parceiros, como a Escola Municipal Maria Clara Machado, no Itanhangá.

Lixo zero

Na unidade da Barra do Marista São José, os alunos do ensino médio estão envolvidos, desde 2020, num projeto de análise da água do Canal Arroio Pavuna, localizado a poucos metros da instituição, para verificar aspectos como índice de poluição e pH e compará-los com os da água da piscina da escola. A ideia para 2022 é, após concluir a pesquisa com as amostras, pensar em propostas de intervenção nessas águas e como elas podem se tornar políticas públicas.

Unidade da Barra da Tijuca do Colégio Marista São José tem um projeto para analisar a água do Canal Arroio Pavuna e pensar soluções práticas Foto: Divulgação
Unidade da Barra da Tijuca do Colégio Marista São José tem um projeto para analisar a água do Canal Arroio Pavuna e pensar soluções práticas Foto: Divulgação

— A ONU chama a atenção para a situação dos oceanos, e uma das maiores preocupações é a quantidade de lixo que a humanidade permite chegar aos rios, que faz o transporte desses materiais para o mar. O Arroio Pavuna, por exemplo, está extremamente poluído. Por isso, uma das práticas dentro do nosso projeto é a política do lixo zero, uma das soluções para que poluamos menos. Em vez de despejar o lixo, mostramos o que pode ser feito para reaproveitá-lo tanto na escola quanto em casa — explica Wilder Pappette, coordenador pedagógico do ensino médio.

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Já as turmas do fundamental II estarão envolvidas na construção de uma instalação, com materiais recicláveis, na piscina da unidade que reproduzirá a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, um enorme depósito de resíduos no oceano.

— Os alunos questionam muito essa ilha. A partir disso, pensamos em fazer essa instalação na escola, utilizando tudo aquilo que acaba sendo descartado como lixo, mas que, na maioria das vezes, não é. A proposta é mostrar que o cuidado começa em casa, com o destino que damos ao que consumimos. Costumo dizer que o oceano começa na sua rua: quando você joga uma tampinha no chão e ela cai no bueiro, isso vai chegar a algum lugar — diz Roberta Rosa, coordenadora do fundamental II.

Educação socioambiental

Este ano, o Colégio Inovar Veiga de Almeida, na Barra, dará início, na educação infantil, a um projeto cujo propósito é transformar materiais que seriam descartados, atribuindo-lhes utilidade. Denominada de cultura maker, a prática se baseia na ideia de fabricar, construir, reparar e alterar objetos variados com as próprias mãos. As crianças, de 4 e 5 anos, utilizarão a área verde da escola, de 180 mil metros quadrados, para realizar as atividades.

Aluna do 4° ano do Colégio Inovar Veiga de Almeida, na Barra, mostra trabalho sobre consumo consciente Foto: Divulgação
Aluna do 4° ano do Colégio Inovar Veiga de Almeida, na Barra, mostra trabalho sobre consumo consciente Foto: Divulgação

— A partir de uma história, de um livro paradidático sobre sustentabilidade, tema que integra nossa proposta pedagógica, iremos trazer um problema e trabalhar juntos para encontrar soluções para a sucata, a fim de melhorar o meio ambiente, na pegada do aprender fazendo. Vamos montar uma sucatoteca, que será abastecida pelos alunos. A ideia de usar materiais recicláveis é justamente incentivar o consumo mais consciente — explica Luinha Magaldi, uma das diretoras do colégio.

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Outra iniciativa é a Biblioteca Compartilhada, espaço aberto a qualquer pessoa que queira trocar, doar ou pegar um livro, que não precisa ser devolvido. A ideia é que a obra possa ser passada adiante, levando cultura a um público cada vez maior e diverso. Paralelamente, a escola faz doações de livros para ONGs que atuam na Maré e na Cidade de Deus. Para alimentar essa cadeia de leitura, foi criado um incentivo para o aluno que contribuir doando livros: cada obra pode ser revertida em créditos para pagar provas de recuperação e fotocópias. Cada livro vale uma Veigacoin, a moeda virtual criada para o projeto.

Formação mais humana

O pH, por sua vez, promoverá este ano iniciativas para estimular a formação mais humana, abordando questões como diversidade cultural, ética e questões de gênero. Entre as 12 matérias eletivas que estão sendo oferecidas este ano, de acordo com as diretrizes do novo ensino médio, estão “Direitos humanos: aplicações de engajamento e pesquisa”, “Jovens, mídias e movimentos sociais contemporâneos” e “Voluntariado: qual é a sua causa”.

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— Mantemos nossa preocupação com um preparo de ponta para o vestibular, mas fazemos isso acompanhando as mudanças necessárias para uma formação mais completa para a vida dos alunos. As transformações sociais e tecnológicas alteraram o perfil do estudante que chega até nós e as necessidades que eles nos impõem. É papel da escola mudar também — explica Filipe Couto, diretor pedagógico geral do pH.