Brasil Educação Enem e vestibular

Debandada no Inep pode afetar aplicação do Enem e até atrasar gabarito

Segundo servidores, coordenadores que deixaram cargo atuam em áreas fundamentais no monitoramento da prova
Servidores do Inep realizaram assembleia sobre a conduta do presidente do órgão diante da instituição Foto: Paula Ferreira / Agência O Globo
Servidores do Inep realizaram assembleia sobre a conduta do presidente do órgão diante da instituição Foto: Paula Ferreira / Agência O Globo

BRASÍLIA—  O pedido de exoneração coletiva de coordenadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na segunda-feira pode ter impacto na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece nos dias 21 e 28 de novembro. As principais consequências, segundo servidores, devem ser no monitoramento e na resposta a eventuais incidentes que venham a ocorrer no dia da prova. Segundo eles, a saída dos coordenadores também pode retardar a divulgação do gabarito da prova.

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Servidores ouvidos pelo GLOBO citam que os coordenadores que deixaram os cargos eram responsáveis por setores sensíveis do exame, como monitoramento. Além disso, durante a aplicação do Enem há uma preparação já para o próximo ano que pode ficar prejudicada com a saída de pessoas experientes da coordenação do processo, como a mudança em regras do edital e procedimentos novos a serem incluídos na operação da próxima edição.

Na segunda-feira, 35 servidores do Inep que ocupavam cargos de coordenação em diversas áreas do instituto pediram exoneração de seus postos após denúncias de assédio moral por parte do presidente do órgão, Danilo Dupas. Na semana passada, outros dois coordenadores já tinham entregado os cargos, totalizando 37 funcionários fora de seus cargos.

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No dia em que são realizadas as provas do Enem há equipes do Inep que monitoram os incidentes que ocorrem durante a aplicação para resolvê-los. Por exemplo, se há queda de energia em uma cidade e é preciso decidir se a prova será interrompida e os estudantes farão a prova em uma data de reaplicação.

As equipes que estão distribuídas pelo Brasil se comunicam com a coordenação em Brasília, que define como o problema será controlado. Isso vale não só para problemas relacionados a eventos naturais, mas qualquer tipo de problema que necessite de uma decisão central para conter danos.

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De acordo com servidores e ex-presidentes do instituto, nesse sentido, é fundamental a atuação dos técnicos do Inep que já fazem o serviço há anos e sabem como responder com agilidade a esses problemas.

— Na parte de logística, a gente tem um risco muito grande de apagar, desligar nosso sistema de monitoramento, que é o nosso radar da operação do Enem. Em que pese as provas já estarem quase na última milha, com o processo de distribuição ser feito pelos correios e a aplicação pelo consórcio, a responsabilidade do Inep é de monitoramento e resolução rápida de problemas que acontecem nesse último período, que é o mais crítico da operação— explicou ao GLOBO um servidor do órgão.

A saída dos coordenadores, segundo os relatos, deixa esse esquema desmontado, fazendo com que a operação fique vulnerável.

— Não sabemos como ficará o processo de monitoramento da rede nacional de certificadores, que são mais de mil servidores públicos de vários órgãos que fazem acompanhamento no dia da aplicação. Eles mandam informações para o Inep e o instituto dá um tratamento a esses incidentes que são reportados. Isso precisa de um processo de encaminhamento e decisão. Os servidores num ato de desespero entregaram os cargos por não se verem amparados pela presidência do Inep para tomar as decisões necessárias — disse.

Os servidores explicam que como a administração pública tem ritos fixos, a fim de garantir a legalidade de processos, a ausência de coordenadores impede técnicos de dar andamento a tarefas que poderiam ser simples, como o acompanhamento pedagógico do gabarito e a divulgação das respostas.

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A saída de coordenadores de Tecnologia da Informação (T.I), área considerada "o coração" do Inep também gera preocupação. Os servidores afirmam que não há risco, além do que existe todos os anos, de vazamento da prova, mas que a falta de coordenação na T.I, que também está sem diretor desde o final de setembro, pode atrasar a comunicação do Inep com outros órgãos e retardar as respostas do instituto a possíveis problemas.

Impactos no Saeb

Impactos em outras políticas desenvolvidas pelo Inep também preocupam. Um deles é o acompanhamento dos agendamentos para aplicação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Um parte da equipe de coordenação que saiu ajudava no acompanhamento das dúvidas que iam surgindo por parte das redes no processo de agendamento da aplicação da prova, o processo pode acabar atrasando devido à falta desse pessoal.

Na segunda, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) divulgaram uma nota demonstrando preocupação não só com o Enem, mas com o Saeb. De acordo com os secretários, estados relatam que as provas do Saeb só chegarão em 22 de novembro, depois da aplicação do Enem. Segundo eles, isso "possivelmente poderá esvaziar aquela avaliação".

No comunicado, a entidade pediu "mais atenção do Ministério da Educação na condução das atividades do Inep".

O GLOBO questionou o Inep sobre os impactos das exonerações nas políticas do órgão, mas não obteve resposta.