Por Júlia Montenegro e Bruno Fontes, G1 PE e TV Globo


Ensino técnico abre portas e é uma alternativa para os estudantes ingressarem no mercado

Ensino técnico abre portas e é uma alternativa para os estudantes ingressarem no mercado

As escolas técnicas aumentam o leque de oportunidades para jovens e adolescentes. Em Pernambuco, de acordo com o IBGE, o ensino médio é a etapa da educação básica na qual se registram os maiores índices de evasão. Sem perspectivas de ingressar na universidade, muitos deixam as salas de aula. Com a educação profissional, o jovem conclui o ensino médio mais qualificado para o mercado de trabalho (veja vídeo acima).

A formação técnica é mais rápida, possui excelente nível de especialização e preparação voltada às necessidades do mercado de trabalho. Esses são alguns dos principais motivos listados pelos estudantes da Escola Técnica Estadual (ETE) Luiz Alves Lacerda, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, para justificar a escolha da modalidade de ensino.

Até a sexta-feira (6), o G1 e a TV Globo mostram, em reportagens, os desafios e o futuro da educação no contexto de pandemia.

Para estudantes, formação técnica é mais rápida e possui preparação voltada às necessidades do mercado de trabalho — Foto: Reprodução/TV Globo

Para a estudante de desenvolvimento de sistemas Ana Alice Santos, de 16 anos, a formação técnica, diferentemente do que o preconceito faz supor, promove diversas habilidades. “A escola, por ser pública, até pode passar a impressão de que a qualidade é baixa, mas é totalmente o contrário disso. São professores que nos levam para escolhas além das nossas vidas”, diz.

Williams Soares, de 17 anos, é aluno de logística e conta que a modalidade de educação promove habilidades socioemocionais como empatia e também estreita laços com professores.

“Os professores dessa escola são muito qualificados e, sempre que possível, quando a gente tem alguma dificuldade, a gente pode conversar com eles pelo WhatsApp, pode chegar na sala dos professores e eles dão todo o apoio”, conta.

A imagem de escola pública de qualidade vai sendo reconstruída também para o educador Jailson Oliveira. Para ele, que é professor de linguagens, a formação humana se sobressai. “O prédio é interessante, mas os professores, o corpo técnico, o corpo funcional e a formação humana e técnica, aqui, se sobrepõem a qualquer possibilidade que você possa imaginar”, garante.

Professor de linguagens Jailson Oliveira conta que a maior satisfação é o reconhecimento do estudante — Foto: Reprodução/TV Globo

Jailson conta que a maior satisfação é o reconhecimento do estudante. “É o nosso melhor salário. Ter o reconhecimento do estudante que está conosco, já sabendo que tem o professor, que tem a professora, que tem o corpo técnico que cuida dele, que cuida dela. E, quando ele sai daqui, se depara com o mundo e percebe que a ETE Luiz Alves Lacerda o preparou muito bem”, diz.

O professor de história Matheus Mariano também leciona na ETE do Cabo, como é conhecida. Quando era estudante, foi aluno de uma das primeiras escolas que aceitaram esse modelo de educação no estado.

“Sou fruto também da educação pública, da rede de ensino técnico de Pernambuco. Agora, eu volto, um tempo depois, como professor dessa mesma rede que me formou”, conta.

Professor de história Matheus Mariano é fruto da rede de ensino técnico de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

O curso técnico influenciou diretamente na vida de Matheus. “Tenho diversos vizinhos e amigos que, por motivos sociais mesmo, infelizmente, foram presos ou morreram. Graças à educação, graças a minha família poder sempre acreditar nesse modelo de educação, eu consegui furar esse bloqueio”, revela.

A jornada de quem está saindo do ensino médio e quer entrar no mercado de trabalho costuma ser longa, mas o ensino técnico facilita a vida dos estudantes. Para o professor Matheus, esse modelo de ensino funcionou para ele.

“A minha formação no técnico é em turismo. Eu consegui sair da escola com vaga de emprego nessa área e, também, graças ao ensino técnico vinculado ao ensino médio, eu também pude passar na universidade. A gente sabe que jovens pobres do brasil não costumam passar na universidade com tanta facilidade”, diz.

Na ETE do Cabo são 587 alunos, em 15 cursos. No ensino médio integrado são: logística, desenvolvimento de sistemas e hospedagem. Para o professor Jailson Oliveira, os estudantes da escola técnica pensam no mercado de trabalho.

“Essa região aqui é muito rica e aberta a isso e os nossos cursos pensam, focam nessas possibilidades como, também, nós enriquecemos o estudante para a universidade”, conta.

Estudante Ana Alice Santos, de 16 anos, conta que já recebeu propostas de estágio — Foto: Reprodução/TV Globo

Com 16 anos, a estudante de desenvolvimento de sistemas Ana Alice Santos conta que já recebeu propostas de estágio. “Já recebi várias propostas de estágio para trabalhar, justamente, dentro do curso técnico. São propostas muito amplas que eu nunca imaginei que com 16 anos pudesse obter”, diz.

Morando no Cabo de Santo Agostinho, Emilly Cabral, de 16 anos, é estudante de hospedagem e disse que a escolha do curso foi motivada pelas oportunidades de trabalho na região.

“Eu escolhi o técnico em hospedagem pela amplitude, por ser uma área litorânea. Eu acredito que a empregabilidade será muito mais rápida, que é isso que a gente deseja, que é um emprego com mais facilidade”, diz.

O professor de história Matheus Mariano conta que, na unidade de ensino, os professores fazem questão de manter um ambiente que acolha os alunos.

“Tanto eu quanto todos os outros professores fazemos questão de manter esse ambiente que o estudante, mesmo com a confusão que o mundo está, tenha aqui um porto seguro, um lugar que o ensino vai ser passado, que a gente vá ter um diálogo mais próximo com ele”, diz.

Evasão

A luta dos professores da ETE do Cabo, agora, é contra a evasão escolar acentuada pela pandemia da Covid. Os professores querem manter o índice menor do que 5%. “A nossa evasão é mínima, se comparada aos níveis que nos contornam. Temos evasão praticamente nula. O trabalho é constante. Nós fazemos a busca ativa o tempo inteiro”, diz o professor Jailson Oliveira, se referindo ao projeto de ir atrás do estudante, em caso de faltas às aulas.

O educador Matheus Mariano acredita que implementar políticas públicas contribuam para a inclusão no ambiente escolar. “Quando a gente tenta impedir a evasão desse jovem, ir até a casa dele, tentar ligar, se comunicar com ele e fazer da escola, mesmo nesse contexto, um lugar que seja amigável e que ele queria realmente estar, a gente consegue, de certa forma, refrear essa evasão”, diz.

Weidson Reinaldo foi atrás do amigo que mora na zona rural e não apareceu para a aula

Weidson Reinaldo foi atrás do amigo que mora na zona rural e não apareceu para a aula

O estudante Weydson Reinaldo da Silva foi atrás do amigo que mora em um sítio na zona rural e que, agora na pandemia, não voltou às aulas.

“Expliquei que a sala estava preocupada por ele não ter dado notícias e ele explicou que estava sem telemóvel e o caminho também é meio árduo. Eu não sei se ele tem cartão para a escola, para pegar o ônibus, e também tem a preocupação dessa doença, que é o coronavírus”, diz.

Sonhos

Alunos da ETE do Cabo vão terminar o ensino médio, apesar de um ano tão difícil por conta da pandemia — Foto: Reprodução/TV Globo

Quase todos os alunos do 3º ano da Escola Técnica Estadual Luiz Alves Lacerda vão terminar o ensino médio, apesar de um ano tão difícil por conta da pandemia do novo coronavírus. Eles já decidiram o que vão fazer no fim do ano.

Emilly Cabral, que cursa hospedagem, pretende conciliar estudo para o vestibular e emprego. "Como a gente ainda é menor de idade, a carga horária é reduzida. Então, daria para conciliar as duas coisas: vestibular e emprego. A gente consegue uma certa independência para ter uma renda extra e até para ajudar a questão familiar", diz.

Williams Soares, estudante de logística, pretende ingressar na universidade. "Eu pretendo passar em engenharia de produção, na UFPE, e também, se possível, conseguir um emprego na área de logística", conta.

Ana Alice Santos também pretende conciliar estudos com trabalho, mas vai escolher uma área totalmente diferente do curso técnico: medicina veterinária. "Vou tentar conciliar as duas coisas. E vou tentar vestibular para medicina veterinária. É impressionante como o curso ainda influencia diretamente na vida e consegue influenciar em outras áreas", conta.

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