Datafolha: Para 73%, educação sexual deve estar no currículo escolar

Maioria concorda que aulas sobre o tema podem ajudar a prevenir o abuso de crianças e adolescentes

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Guarulhos (SP) e São Paulo

Para 73% dos brasileiros, a educação sexual deve estar presente nas escolas. Além disso, 9 entre 10 pessoas concordam que discutir o assunto em sala de aula pode ajudar crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso sexual, tema que ganhou centralidade após o caso de uma criança de 11 anos vítima de estupro vir a público.

Os números, resultados de uma pesquisa Datafolha, expõem as contradições entre a opinião de boa parte da população e as investidas de grupos conservadores.

Adolescentes são vistos sentados em roda, durante aula de educação sexual, mas não é possível ser seus rostos; uma delas segura um bebê
Aula de educação sexual na escola Rocca Dordall, na Vila Bueno Aires, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Após pressão desses atores, os termos orientação sexual e gênero foram retirados pelo Ministério da Educação do documento final da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em 2017. Os três últimos ministros da pasta, Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro, criticaram a educação sexual e a tentativa de "ensinar ideologia de gênero" e "erotizar crianças".

Segundo Itamar Gonçalves, gerente de programas da ONG Childhood Brasil, a oposição ao tema pode ocorrer por crenças pessoais ou pelo receio da sexualidade precoce. De acordo com a pesquisa Datafolha, em média, o brasileiro acha que a educação sexual deve acontecer a partir dos 12 anos de idade.

"É desserviço falar que a educação pode sexualizar. Esse pensamento impacta a autopreservação e a proteção de crianças e adolescentes", afirma Gonçalves.

Lúcia Duarte, especialista em saúde pública que trabalhou por 30 anos com doenças infecciosas, endossa: "Nós vivemos numa sociedade moralista. Sei que existem pais que têm dificuldade de tratar desse assunto com os filhos. As políticas públicas precisam ser direcionadas para essa população mais jovem", diz.

A resistência em abordar o assunto com crianças mais novas teria relação com a ideia de que falar sobre sexualidade é falar sobre o ato sexual, segundo a socióloga e educadora sexual Cida Lopes.

Segundo a BNCC, o assunto deve aparecer desde o ensino fundamental até o ensino médio, para ajudar o aluno a entender as mudanças que fazem parte da adolescência e a tomar decisões que respeitem o seu corpo e o do outro.

Para Luana Pires Barbosa, professora do ensino fundamental e integrante do grupo de estudos Gênero, Educação e Cultura Sexual da USP, desde que o tema seja trabalhado respeitando a faixa etária dos alunos, ou seja, conforme seus repertórios, ele é passível de ser abordado em sala.

Desde 2021, a Escola Estadual Rocca Dordall, na zona leste de São Paulo, oferece aos alunos do ensino médio uma matéria eletiva sobre sexualidade, que faz parte do Programa Inova Educação, do governo de São Paulo. De acordo com Neline de Araujo Pignatari, coordenadora da unidade, até agora a disciplina obteve grande participação dos alunos.

A estudante Evellyn Samara, 18, conta que já tinha conversas sobre sexo em casa, mas que as aulas a ajudaram a falar sobre sexualidade e proteção com seus amigos.

As aulas são ministradas por dois docentes, um homem e uma mulher, e funcionam de maneira dinâmica, com palestras e atividades interativas nas quais as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) são abordadas sem censura.

Quando a professora Marlene Pereira Amorim, 22, exibiu a foto de uma pessoa com sífilis em estágio avançado, os alunos se mostraram surpresos com a agressividade da doença —que acumulou mais de 360 mil casos no Brasil entre janeiro de 2018 e junho de 2020, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia.

No Colégio Novo Pátio, escola particular na zona norte de São Paulo, a educação sexual para os alunos do 3º ano é abordada dentro da matéria de biologia. A professora Bianca Sanctis, 43, pede que os alunos escrevam em papéis temas conhecidos e desconhecidos e distribui os assuntos em colunas na lousa. Após ler as frases, o debate se inicia.

No fim da aula, vários estudantes cercam a professora. "Quero falar algo pessoal", diz uma das estudantes. As dúvidas incluem virgindade, sexo oral com ou sem camisinha e início da vida sexual. Segundo a professora, esse tipo de abordagem é comum.

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